DOMINGO SANGRENTO NA IRLANDA DO NORTE
Publicado na Folha de S.Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 1972
LONDONDERRY, Irlanda do Norte - Doze jovens de cerca de 20 anos foram mortos a tiros, ontem, quando o exercito britanico procurava dissolver uma manifestação de catolicos militantes contra o governo da Irlanda do Norte, nesta cidade. Outras 13 pessoas, entre elas duas mulheres, foram hospitalizadas com ferimentos a bala.
Os manifestantes protestaram contra a politica do governo irlandês de prender sumariamente pessoas suspeitas de atos terroristas. Essa politica é dirigida contra o IRA (Exercito Republicano Irlandês), organização clandestina que luta pela união da Irlanda do Norte, onde predominan os protestantes, com a Irlanda do Sul, de maioria catolica. O bispo catolico de Londonderry, Neil Farren, dirigiu energico protesto ao primeiro-ministro britanico Edward Heath. "Profundamente consternado com os acontecimentos desta tarde, protesto com a maior veemencia contra a ação do exercito britanico, que provocou tantos mortos e feridos", disse o bispo, em sua mensagem ao governo de Londres.
Quem começou?

Após o tiroteio, quando ainda chegavam aos hospitais pessoas feridas a bala, um porta-voz do exercito britanico disse que seus homens foram alvejados a tiros quando tentavam prender manifestantes que lhes atiravam pedras e garrafas.
Essa versão foi desmentida por representantes do IRA, que afirmaram: "Em nenhum momento nossas autoridades abriram fogo. O exercito britanico matou civis inocentes em Londonderry, e o mundo julgará quem são os verdadeiros terroristas".
No sabado, a jovem deputada catolica Bernadete Devlin, desafiando uma proibição do governo irlandês, liderara em Dungannon uma manifestação que também terminou em violento tumulto quando a policia interveio para dispersar os manifestantes. Um deles morreu do coração.
Após o choque na cidade, os manifestantes, perseguidos pelos policiais, enfiaram-se pelas campinas irlandesas e, de escaramuça em escaramuça, chegaram até Coalisland, a varios quilometros de Dungannon, onde os conflitos continuaram.
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