A vitória do líder socialista Felipe Gonzalez nas eleições
gerais de quinta-feira, na Espanha, causou reações internas
e externas que vão da euforia à apreensão. Nos
círculos financeiros e empresariais de Madri, reinava um clima
de cautela e expectativa. "Vamos tentar colaborar com o próximo
governo, embora não nos agrade a implantação
de um programa socialista", declarou o presidente da poderosa
Associação Espanhola dos Bancos Privados, Rafael Termes
Carrero.
Os
círculos políticos e a imprensa ressaltaram a bipolarização
criada no novo Parlamento, onde as bancadas do Partido Socialista
Operário Espanhol (PSOE) e da Aliança Popular (AP)
terão 307 das 350 cadeiras. Lamentaram o malogro das forças
de centro, mas destacaram o fato de que o povo espanhol, ao optar
entre socialistas e conservadores, rejeitou os extremismos. Também
o alto-índice de comparecimento às urnas foi interpretado
como um plebiscito contra o golpismo.
Em
Washington, o Departamento de Estado manifestou otimismo quanto
ao futuro das relações americano-espanholas. Em Moscou,
a agência Tass afirmou que o resultado do pleito foi uma derrota
para a extrema direita.
|
As eleições espanholas, após numerosas tentativas
malogradas de interrupção do processo democrático,
constituem por si só exemplo de maturidade política,
refletida ainda no alto nível de comparecimento às urnas.
Para
o povo em seu conjunto, mais importante do que a vitória
deste ou daquele partido é a consolidação das
bases em que se assenta o regime, reconstruído após
quatro décadas de autoritarismo.
A União
de Centro Democrático (UCD), que se achava na chefia do governo,
na pessoa do primeiro-ministro Calvo Sotelo, sofreu esmagadora derrota,
resultante em grande parte de dissensões internas que não
puderam ser sanadas. A grande força em ascensão, como
o demonstravam as prévias, é o Partido Socialista
Operário Espanhol (PSOE), liderado por Felipe González.
Em segundo lugar vem a Aliança Popular (AP), de Manuel Fraga
Iribarne, que ocupa posição à direita.
Houve
assim uma polarização entre socialistas e conservadores,
os primeiros conquistando a maioria absoluta, com 201 deputados
na Câmara Baixa das Cortes, composta de 350 cadeiras, e seus
oponentes com 106. O resto se divide entre pequenos agrupamentos,
como a UCD, com 12, os catalães, também com 12, os
nacionalistas bascos, com 8, os comunistas, com 5, e o Centro Democrático
Social, do ex-premier Adolfo Suárez, com 2.
Nessa caminhada de transição de um sistema autoritário
para a democracia, merece destaque o papel desempenhado pelo rei
Juan Carlos. Apesar de sua origem franquista, tendo recebido a coroa
nos últimos anos de vigência da ditadura, seu esforço
tem sido no sentido de marchar sempre com as forças liberais
e não com os inconformados que as combatem.
A possibilidade
da chegada ao poder de um líder socialista foi explorada
de todos os modos possíveis por grupos extremistas. O PSOE
é uma agremiação moderada, que aparentemente
não deseja praticar nenhuma reviravolta na vida econômica
e política do país. Mesmo dispondo de maioria absoluta,
sofrerá o controle de uma oposição parlamentar
suficientemente forte e aguerrida. E se afinal executar uma política
contrária aos interesses básicos da maioria da nação,
o eleitorado poderá apeá-lo do poder, substituindo-o
por outro governante.
É
esse o jogo político que se pratica em todas as democracias,
o da alternância nos postos dirigentes. Governos socialistas
foram trocados por conservadores em países de alto nível
de vida como os da Escandinávia (Dinamarca e Noruega), enquanto
mais recentemente os socialistas de Olof Palme retornavam ao governo
da Suécia. Até numa pequena ilha do Oceano Índico,
o Ceilão, economicamente subdesenvolvido, esse jogo se realiza
sem maiores choques. A primeira-ministra Sirimavo Bandaranaike,
que nacionalizara boa parte da economia, assiste hoje a uma reversão
desse processo, ao ser substituída no governo pelo presidente
Junius Jayewardene, de novo vitorioso nas eleições
de 20 de outubro.
Na
Espanha, apesar de todas as ameaças de golpes militares e
desordens, a votação transcorreu num ambiente de tranquilidade.
Mais uma etapa vencida.
Quanto
ao governo dos socialistas, é uma nova experiência
a ser vivida pelos espanhóis. E a ser julgada por eles no
próximo pleito eleitoral.
|