APROVOU A ASSEMBLÉIA GERAL DA ONU O PLANO DE DIVISÃO
DA PALESTINA EM ESTADOS ARABE E JUDEU
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Publicado
no Folha da Manhã, domingo, 30 de novembro de 1947
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Flushing Meadows, 29 - A sessão plenaria da Assembléia
Geral das Nações Unidas acaba de aprovar, por 33 votos
contra 13 e 10 abstenções, o plano de divisão
da Palestina, proposto pela União Sovietica e Estados Unidos.
Imediatamente após a votação, o delegado britanico,
"sir" Alexander Cadogan, pediu às Nações
Unidas que se mantenham em contacto com a Grã-Bretanha, para
solucionar a questão da retirada das suas tropas da Terra
Santa.
Em seguida, fez uso da palavra o representante da Arabia Sudita,
principe Faisal, que condenou a decisão das Nações
Unidas, declarando que fôra destruida a Carta da ONU e que
o seu país não se considerava obrigado a aceitar tal
decisão.
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O
projeto dos Estados arabes
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Flushing Meadows, 29 - Tiveram inicio pouco depois das 16 horas
os trabalhos da Assembléia Geral das Nações
Unidas.
O recinto apresentou-se repleto, não podendo os delegados
ocultar a tensão reinante. Uma atmosfera pesada dominava
o ambiente, observando-se nervosismo, não apenas entre os
delegados presentes, mas tambem na galeria destinada ao publico
e à imprensa.
O presidente, sr. Osvaldo Aranha, declarou os trabalhos, dando a
palavra ao sr. Camille Chamoun, delegado do Libano".
O sr. Chamoun apresentou à Assembléia Geral, em nome
dos Estados arabes, um plano de seis pontos para a federalização
da Palestina, "como uma formula intermediaria entre as duas
partes antagonicas".
"Declaro solenemente a esta Assembléia - disse o sr.
Chamoun - que, durante todo o transcorrer desses debates, não
foi feito movimento algum de aproximação das delegações
arabes, para tentar qualquer formula de conciliação.
Hoje, como anteriormente, estamos prontos para estudar e discutir
qualquer proposta conciliatoria, que ofereça uma solução
justa e razoavel para o problema da Palestina. Assim faremos, sem
fraqueza e com a maior boa vontade, pois julgamos que o objetivo
da nossa organização não é recomendar
soluções que possam somente ser executadas pela força
ou pela ameaça de força, mas adequadas, aceitaveis
a ambas as partes, por serem objetivas e equitativas.
"Desejariamos ter apresentado imediatamente um plano mais pormenorizado
e mais completo, que pudesse servir de base para novas recomendações
desta Assembléia. Infelizmente, isto não foi possivel
nas poucas horas que mediaram entre a reunião de ontem e
a de hoje. Contudo, podemos apresentar, neste momento, os seguintes
principios gerais, que podem servir de formula provisoria entre
as duas teses distintas e antagonicas, já do conhecimento
da Assembleia: 1º - Será criado o Estado Federal Independente
da Palestina, antes do dia 1º de agosto de 1948; 2º -
Serão criados os cantões arabe e judeu, cada um deles
com o seu governo provincial; 3º - As fronteiras desses cantões
serão fixadas de modo a que cada um deles inclua a minoria
mais restrita possivel, de árabes e judeus; 4º - Uma
Assembléia Constituinte será eleita pela sufragio
universal direto e representará proporcionalmente, todos
os elementos da população; 5º - A Assembléia
Constituinte, ao estabelecer os orgãos legislativo e judiciario,
seguirá, principalmente, os principios da Constituição
dos Estados Unidos; 6º - A Constituição elaborada
proporcionará proteção aos lugares santos e
aos estabelecimentos religiosos, sem qualquer discriminação."
O sr. Chamoun concluiu com as seguintes palavras:
"Compreendemos que as idéias apresentadas são
incompletas, em virtude da falta de tempo. Todavia, estamos firmemente
convencidos de que podem servir de base para um plano construtivo,
que tenha o apoio da grande maioria da Assembléia Geral".
O orador seguinte foi o sr. Herschel Johnson, dos Estados Unidos,
que rejeitou a proposta do Libano, afirmando não ser conciliatoria.
O delegado norte-americano exigiu, então, que fosse posto
imediatamente em votação o plano de divisão
da Palestina.
"Ouvimos a declaração do Libano - disse o orador
- na qual o sr. Chamoun fez ressuscitar as recomendações
da Comissão Especial das Nações Unidas para
a Palestina. O que propôs é perfeitamente legitimo.
Não é, porem, conciliatorio. Devemos proceder imediatamente
à votação da proposta principal. A do Libano
não contem, nem mesmo, uma declaração do Supremo
Conselho Arabe da Palestina. Os Estados da Liga Arabe nada têm
a ver com a questão. Não temos noticias de tentativas
de conciliação entre o Supremo Conselho Arabe e a
Agencia Judaica. A Comissão Especial das Nações
Unidas para a Palestina fez todos os esforços para conseguir
uma solução aceitavel para ambas as partes. Os representantes
arabes recusaram-se a facilitar o seu trabalho. Agora, temos diante
de nós o plano da maioria.
"Peço, portanto, em nome da delegação
dos Estados Unidos, que o plano de divisão da Palestina seja
posto imediatamente em votação".
O delegado do Irã falou em seguida. Disse que "a proposta
libanesa demonstra que o mundo arabe deseja evitar um conflito,
a qualquer custo e está preparado para abandonar sua posição
intransigente, fazendo concessões.
"Portanto - acrescentou - a Assembléia Geral deve apoiar
essa iniciativa, determinando um novo prazo para que ambas as partes
façam novas consultas.
"Proponho, assim, que a decisão do assunto seja adiada
por algumas semanas, durante as quais a Comissão da Palestina
possa preparar outro plano, depois do que uma sessão especial
da Assembléia Geral poderia ser convocada."
O sr. Andrei Gromico, da Russia, tambem exigiu, em nome de seus
pais, que a Assembléia Geral votasse imediatamente o plano
de divisão da Terra Santa.
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A
votação
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Flushing
Meadows, 29 - A Assembléia Geral da Organização
das Nações Unidas aprovou o plano de divisão
da Palestina em Estados arabe e judeu, rejeitando, dessa forma,
a proposta conciliatoria, formulada à ultima hora pelo delegado
do Libano, sr. Camille Chamoun.
A Terra Santa será, assim, dividida em Estados arabe e judeu,
independentes, sendo Jerusalem considerada "cidade internacional".
A comissão escolhida pela Assembléia Geral assumirá
o governo da Palestina, quando a Inglaterra retirar suas tropas
do país e exercerá todos os poderes, até que
seja proclamada a independencia dos dois Estados.
A retirada britanica da Palestina deverá terminar até
o dia 1º de agosto de 1948.
Imediatamente após a votação final, "sir"
Alexander Cadogan, da Inglaterra, declarou:
"Agora que a Assembléia Geral aprovou o plano de divisão
da Palestina, devo salientar que existem numerosas da suas partes
que afetam diretamente o meu governo. Por essa razão recebi
instruções para manifestar esperanças de que
a Comissão das Nações Unidas entrem em comunicação
com o governo britanico a fim de que possam ser tomadas providencias
para a sua chegada à Palestina e para a coordenação
dos planos de retirada da Administração e das forças
militares britanicas da Terra Santa."
A votação procedeu-se em meio de absoluto silencio.
O sr. Andrei Cordier, assistente do secretario-geral, chamou primeiramente
a delegação da França. Seu chefe levantou-se
e disse: "Aprovo".
Foram as seguintes as nações que aprovaram o plano:
Australia, Belgica, Brasil, Bolivia, Russia Branca, Canadá,
Costa Rica, Tchecoslovaquia, Dinamarca, Republica Dominicana, Equador,
França, Guatemala, Haiti, Islandia, Liberia, Luxemburgo,
Holanda, Nova Zelandia, Nicaragua, Noruega, Panamá, Paraguai,
Peru, Filipinas, Polonia, Suecia, Ucrania, Africa do Sul, Uruguai,
Russia, Estados Unidos e Venezuela.
Votaram contra o plano os seguintes estados: Afganistão,
Cuba, Egito, Grecia, India, Irã, Iraque, Libano, Paquistã,
Arabia Saudita, Siria, Turquia e Iemen.
O Iraque, a Arabia Saudita, Siria, Paquistã e Iemen declararam
que não se julgavam obrigados a cumprir a decisão,
e reservaram-se o direito de tomar qualquer iniciativa que julgassem
adequada aos seus proprios interesses.
As seguintes nações abstiveram-se de votar: Argentina,
Chile, China, Colombia, El Salvador, Etiopia, Honduras, Mexico,
Inglaterra e Iugoslavia.
A delegação do Sião não compareceu.
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Assegurará
a execução do plano
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Flushing Meadows, 29 - O presidente Osvaldo Aranha nomeou
a Tchecoslovaquia, Dinamarca, Panamá e Filipinas, como membros
da Comissão da ONU que irá à Palestina a fim
de assegurar a execução do plano de partilha.
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