ACUSADO O PRESIDENTE DA NICARAGUA DE PREPARAR UMA REVOLUÇÃO NA GUATEMALA


Anuncia o governo daquele país que se tramava uma invasão pela costa do Pacifico e através de Honduras - Protesto do lider comunista

Publicado na Folha da Manhã, sábado, 30 de janeiro de 1954

Neste texto foi mantida a grafia original

CIDADE DA GUATEMALA, 29 - O governo anunciou, hoje, que descobriu um suposto plano para derrubar o presidente Jacobo Arbenz, patrocinado pelo presidente da Nicaragua, general Anastacio Somoza, e seu filho, coronel Anastacio Somoza Debayle.
O plano, segundo se informou, estaria encabeçado militarmente pelo ex-candidato presidencial, general Miguel Idigoras Fuentes, e pelo coronel exilado Carlos Castillo Armas.
O governo afirma que o plano objetivava a invasão da Guatemala pela costa do Pacífico e através da fronteira de Honduras, e que segundo os documentos descobertos, Somoza teria a missão de "dirigir a empresa de invasão da Guatemala".
O comunicado redigido hoje pelo gabinete do presidente Arbenz, diz que Idigoras Fuentes e Castillo Armas subscreveram, no ano passado, um pacto em Salvador e Tegucigalpa por meio do qual se comprometiam a agir em conjunto e distribuir o governo entre seus amigos. Castillo Armas seria o presidente provisorio e Idigoras Fuentes o próximo candidato presidencial.
O comunicado acusa tambem Jorge Delgado, adjunto comercial do Panamá, na Nicaragua, de ser o elemento de ligação entre Somoza e Castillo Armas.

Pormenores

CIDADE DA GUATEMALA, 29 - O governo revela oficialmente hoje a existencia de uma vasta conspiração, destinada a derrubar o regime atual da Guatemala, com a ajuda do estrangeiro.
No comunicado publicado a respeito, o governo guatemalteco acusa o general Anastacio Somoza, presidente da Nicaragua, de se achar implicado nesse caso, assim como o seu filho, o cel. Anastacio Somoza Debayle, e outras importantes personalidades da Guatemala, entre as quais o sr. Miguel Fuentes, antigo candidato à presidencia da Republica. O governo anuncia que todas as ramificações do complô foram descobertas recentemente, afirmando que seis outras pessoas se acham implicadas na conspiração. O comunicado dá os nomes dos que foram interrogados e presos e muitos dentre eles já buscaram refugio no Mexico.
O comunicado afirma igualmente que um oficial americano da reserva, o cel. Carl Studer, que estaria atualmente a serviço da companhia "American United Fruit", foi encarregado da elaboração dos planos de invasão da Guatemala.
Os conjurados guatemaltecas citados pelo comunicado são, alem do sr. Miguel Fuentes, o cel. Carlos Castillo Armas, atualmente exilado nas Honduras, Horacio de Cordoba, Miguel Camacho e Luís Beltraneya Valladares (estes dois ultimos são vereadores na capital), Carlos Gandara Duran, e o radiotecnico José Maria Ticas, pertencente à base militar de Guatemala.
Segundo o comunicado, o principal agente do cel. Castillo Armas na Guatemala, era Miguel Camacho, que se refugiou há muitos dias na embaixada do Salvador e que se encontra agora nessa republica vizinha.
Após ter citado um certo Arche Baldochie, que segundo os documentos apresentados aos jornalistas, ofereceu aos conspiradores, por vinte milhões de dolares, varios aviões "Seafire", o comunicado denuncia igualmente a existencia de numerosas emissoras clandestinas, quer no interior quer no exterior do país, e principalmente em Tegucigalpa, nas Honduras, e em Managua, na Nicaragua.
Os planos dos conspiradores compreendiam bases de operações e campos de treino, dos quais um, afirma o comunicado, era de propriedade pessoal do presidente Somoza, "El Tamarindo" e um outro na ilha de Momotombito. A base geral estava situada num aeroporto fora de uso, proximo do porto atlantico nicaraguense de Puerto Cabezas.
O comunicado afirma, por outro lado, que o cel. norte-americano reformado Carl Studer, que estava incumbido de elaborar os planos, teria em seu poder documentos especiais assinados pessoalmente pelo presidente Somoza, que lhe permitiam entrar e sair da Nicaragua sem dificuldades.
Depois de precisar o local onde estavam alojados os dez primeiros conjurados guatemaltecas, chegados da Managua, assim como os locais para onde foram enviados, um a um, o comunicado declara que o atual movimento revolucionario teria sua origem num "pacto secreto" assinado pelo cel. Castillo Armas e o general Idigoras Fuentes. Esse pacto previa que o primeiro seria o chefe das operações militares e o chefe do governo provisorio, ao passo que o segundo seria candidato oficial à presidencia da Republica, logo que o novo governo revolucionario fosse estabelecido.

Protesto comunista

CIDADE DA GUATEMALA, 29 - Victor Emmanuel Gutierrez, lider comunista e secretario geral da Confederação Geral dos Trabalhadores Guatemaltecos, protestou essa noite com veemencia contra "a perigosa conspiração internacional preparada contra o governo do presidente Jacobo Arbenz e contra as conquistas sociais dos trabalhadores". O sr. Gutierrez, que tomara a palavra para a inauguração do segundo congresso nacional sindical, na presença do sr. Augusto Charnot McDonald, ministro do Interior, e de Jaime Dias Rozotto, secretario da presidencia, e dos delegados da Federação Sindical Mundial e da C.G.T. da America Latina, afirmou que essa reunião se inaugurava "no momento em que a soberania nacional se encontra ameaçada pela intervenção estrangeira e que a Guatemala corre graves perigos".
Acentuando em seguida "a notoria participação das camarilhas politicas da America Central", o lider da extrema esquerda declarou que os trabalhadores guatemaltecos "estavam prontos a enfrentar qualquer intervenção armada. A Guatemala não pensa em fazer guerra aos Estados Unidos, nem atacar o canal de Panamá, acrescentou, mas as forças democraticas deste país podem afirmar que eles não cederão a nenhuma potencia militar estrangeira". O sr. Gutierrez pronunciou finalmente um elogio da União Sovietica, "que não pensa fazer da Guatemala uma base militar e que respeita a integridade e a soberania dos paises da America Latina e a vontade dos seus povos".
Falando a seguir, o secretario da Confederação Camponesa afirmou que os camponeses se mantinham ao lado do mundo operario, para defender a soberania nacional de todos os povos do mundo. Mesmo os que vivem escravizados, declarou ele, estão conosco e nós estamos prontos a morrer para defender uma Guatemala livre e soberana".
 

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