SERÁ COROADO HOJE O REI DO EGYPTO
A
principal cerimonia terá lugar no Parlamento, onde Farouk
I prestará juramento de fidelidade à Constituição
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Publicado
na Folha da Manhã, quinta-feira, 29 de julho de 1937
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Cairo, 28 - Em flagrante contraste com a pompa do mundo occidental,
o Egypto, theatro do tradicional esplendor dos pharaós, reconhecerá
amanhã o rei Farouk I, como soberano. As cerimonias não
terão o brilho das que se realizam em outras côrtes para
a coroação dos monarchas, nem repercutirão em
todos os outros paizes do mundo.
O novo rei, na qualidade de principe herdeiro, representou seu pae
Fuad I, na abertura do Decimo Congresso Postal Universal, realizado
no Cairo em fevereiro de 1934 e a partir dessa data appareceu frequentemente
em actos publicos, conquistando grande popularidade.
O ministerio que governa o Egypto durante o reinado de Fuad I, sem
parlamento, encontrou sérias difficuldades decorrentes da crise
e pediu conselhos à Inglaterra em outubro de 1934. Os britanicos
fizeram observar que a intervenção das altas personalidades
do Palacio Real do Governo era exaggerada e por esse motivo o gabinete
pediu demissão. Immediatamente foi restabelecido o regime parlamentar
e adoptado os principios democraticos.
Segundo consta, os conselhos britannicos indicavam a conveniencia
de que o principe completasse a sua educação na Inglaterra,
e no fim de outubro de 1935, Farouk partiu para a Inglaterra. O rei
Fuad negou-se a consentir que o principe "fosse à escola"
e por esse motivo o principe residiu em "Kenry House", em
Kingston, com professores especiaes que o preparavam afim de que pudesse
ingressar na Academia Militar de Woolwich. O governo britanico consentiu
na entrada do principe nesta Academia quando completasse 17 annos.
No fim de abril de 1936, o rei Fuad morreu e o principe resolveu voltar
immediatamente a seu paiz. No dia 6 de maio Farouk chegou ao Cairo
sendo recebido enthusiasticamente. Dois dias depois foi lido no Parlamento
o testamento do rei Fuad nomeando tres regentes, mas a Camara, por
grande maioria, não concordou com os nomes indicados pelo soberano
morto e em seguida elegeu outros, o principe Muhamed Ali Tewifilk,
actual herdeiro do throno, Sherif e Sabri Pasha.
Os regentes decidiram que o rei não voltasse à Inglaterra
afim de completar sua educação e por esse motivo não
chegou a ingressar na Academia Militar de Woolwich. O jovem monarcha
continuou a estudar no Egypto e realizou diversas excursões
dentro de seu pais, Farouk visitou o alto Nilo em 1936 e foi delirantemente
acclamado.
O rei Farouk antes da coroação dos soberanos da Inglaterra
passou a primavera na Europa, percorrendo a Suissa, a França
e o Reino Unido, chegando ao Cairo no dia 28 de julho, quatro dias
antes da proclamação de sua maioridade. A sympathia
pessoal do rei, sua modestia e sensibilidade, muito contribuiram para
conquistar o respeito e a affeição do povo egypcio.
Elle tencionava viajar amplamente todo o paiz, afim de estabelecer
mais intimo contacto com seus subditos. A responsabilidade de Farouk
perante a nação egypcia é muito maior que a de
seu pae, pois o Egypto tornou-se senhor dos seus proprios destinos.
A principal cerimonia da coroação do rei Farouk, terá
lugar no Parlamento, onde as duas Camaras reunidas em congresso receberão
o juramento de fidelidade do rei à Constituição.
Dizia-se que no acto da coroação seria entregue ao soberano
a espada do grande Muhamed, fundador da dymnastia, mas essa reliquia
historica não foi encontrada. Foi lembrado também que
Farouk fosse coroado com o diadema de Tutankamon, visto não
existir nenhuma corôa pertencente aos antigos reis do Egypto,
mas o uso desse symbolo não é permitido pela religião
mussulmana. A unica demonstração publica consistirá
na passagem do cortejo que acompanhará o rei pelas ruas da
capital, entre o palacio real e o Parlamento. A cidade está
artisticamente decorada e embandeirada com estandartes symbolicos,
pavilhões e flammulas. Foram levantados magnificos arcos de
triumpho em diversos pontos do trajecto. No dia seguinte ao da cerminonia,
Farouk assistirá a um serviço religioso na mesquita
de Rifai, onde foi enterrado seu pae. No mesmo dia, passará
em revista o exercito egypcio, levando o unico symbolo real que é
o bastão de marechal.
De accôrdo com a lei os membros do governo e do parlamento pedirão
demissão de seus cargos, mas continuarão em seus postos
até a terminação dos actos officiaes provavelmente
no dia 3 de agosto proximo. Acredita-se que o primeiro ministro aproveitará
a opportunidade para remodelar o gabinete.
O Egypto conseguiu sua independencia politica e depois obteve a suppressão
das capitulações em virtude das decisões do accôrdo
de Montreux. O principal problema interno é o das contribuições
e o governo compreende a necessidade de proceder com cautela a esse
respeito afim de evitar o exodo de capitaes estrangeiros, que muito
contribue para o desenvolvimento do paiz.
Naturalmente adoptará um programma muito mais definido sobre
os principaes problemas de interesse nacional na proxima reunião
do Parlamento no outomno proximo.
A Liga das Nações na proxima assembléia de setembro
admitirá o Egypto e o primeiro ministro assistirá a
essa sessão.
O accôrdo de Montreux deverá ser ratificado na proxima
sessão do Parlamento, quando tambem serão adoptadas
decisões definitivas sobre a questão dos impostos assim
como a da transferencia à Inglaterra da zona do Canal e a da
organização da defesa nacional, projectos que segundo
se espera, serão approvados, visto contra o governo com enorme
maioria de votos no Parlamento.
O primeiro anno do reinado de Farouk I, caracterizar-se-á pelo
desenvolvimento tranquillo do paiz, se o mundo e a paz mundial não
fôr perturbada.
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