QUEM COMETEU O ERRO NA LUA?
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Publicado
na Folha de S.Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 1969
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Os astronautas Thomas Stafford, Eugene Cernan e John Young regressaram
ontem ao Centro Espacial de Houston, onde foram entusiasticamente
recebidos por uma multidão que lotava o aeroporto local, mas
só puderam abraçar seus familiares, dirigindo-se a seguir
para o centro de controle de vôo, a fim de iniciarem o relato
da extraordinaria viagem da Apolo-10.
Após o levantamento de todos os dados tecnicos da expedição,
a NASA decidirá sobre o vôo da Apolo-11, que desembarcará
dois astronautas na Lua. O único problema aparentemente grave
enfrentado por Stafford e Cernan foi quando o Modulo Lunar começou
a girar descontroladamente sobre si mesmo, a 15 km da superficie lunar.
Um dos dois teria cometido um engano, não havendo falha tecnica.
O incidente será apurado agora, assim como o defeito nas maquinas
fotograficas. Em Moscou, o prof. Leonid Sedov, pai dos "sputniks"
elogiou o vôo da Apolo-10, afirmando que os norte-americanos
possuem uma tecnologia realmente extraordinaria.
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Astronautas
regressam a Houston e iniciam o relato da viagem lunar |
HOUSTON, 27- Os astronautas Thomas Stafford, John Young e Eugene Cernan
voltaram hoje para suas casas, sendo recebidos na base aerea Ellington,
proxima ao centro espacial de Houston, por uma multidão entusiasta
que incluia outros astronautas.
Stafford, Young e Cernan chegaram à base às 11h53 (12h53
em Brasilia), depois de uma viagem direta de 12 horas em um possante
jato da Força Aerea dos EUA que decolou de Pago Pago, na Samoa
Oriental.
A cerimonia de recepção aos herois do mais perigoso
vôo feito pelo homem foi cuidadosamente controlada. Os agentes
de segurança contiveram até mesmo outros astronautas
que queriam abraçar seus colegas, enquanto outras pessoas se
aglomeravam sob as asas do jato de Stafford, Young e Cernan.
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Informações |
Os três astronautas almoçaram na base e depois foram
para o centro espacial de Houston em companhia de autoridades da NASA
para um exame medico e uma reunião com o chefe dos astronautas,
Donald "Deke" Slayton e com o coordenador dos treinamentos,
Richard Kohlerjn.
Stafford, Young e Cernan terão de enfrentar uma longa serie
de reuniões com autoridades da NASA para explicar sobre o seu
historico vôo. As informações deverão esclarecer
as poucas duvidas que ainda restam e abrir o caminho para o exito
da missão da Apolo-11, que começará a 16 de julho.
No dia 2 de junho, Stafford, Young e Cernan terão uma reunião
com Michael Collins, Neil Armstrong e Edwin Aldrin tripulantes da
Apolo-11 aos quais exporão todos os pormenores da sua viagem.
Armstrong parece bastante animado em sua condição de
ser o primeiro ser humano a pisar no solo lunar e disse que não
vê a hora de conversar com seus colegas da Apolo-10 "para
receber informações em primeira mão".
Thomas Paine, diretor da NASA, tambem se mostrou confiante em que
os norte-americanos descerão sobre a superficie da Lua. "Nós
iremos a Lua. Nós iremos a Lua", afirmou ontem, quando
a Apolo desceu no Pacifico. Como outras autoridades da NASA, Paine
acredita que os esclarecimentos que serão feitos por Stafford,
Young e Cernan "nos permitirão saber se estamos prontos
para lançar a Apolo-11 a 16 de julho".
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Problemas |
O diretor
do projeto Apolo, George Low, afirmou estar otimista quanto a aprovação
do voo da Apolo-11, mas disse que antes de iniciar a nova fase do
programa é preciso superar alguns problemas enfrentados por
Stafford e seus dois companheiros.
"A lista de problemas que ainda nos inquietam é consideravelmente
menor do que a que tivemos quando do voo da Apolo-9, de modo que gostaria
de expressar uma opinião otimista e dizer que poderemos resolver
todas estas questões em um dia, em uma semana ou em duas, comprometendo-nos
a iniciar o próximo vôo tal como está programado,
em julho."
Stafford, Young e Cernan concluirão suas "reuniões
informativas" a 7 de junho e depois concederão uma entrevista
coletiva que será transmitida pela televisão a todo
o país.
Os três astronautas receberam uma mensagem de congratulações
dos cosmonautas sovieticos, que se declararam "felizes pelo fato
do seu voo fazer aproximar-se o momento em que o homem vai pisar sobre
a superficie da Lua, transformando em realidade mais um sonho da humanidade."
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O
elogio de Sedov |
O academico Leonid Sedov, considerado como o pai dos "Sputniks"
sovieticos, rendeu hoje calorosa homenagem aos cosmonautas da "Apolo-10"
e à ciencia espacial norte-americana.
"Um dos resultados mais importantes da proeza da "Apolo-10,
disse o cientista sovietico, "reside no fato de que todos os
mecanismos funcionaram impecavelmente e com toda segurança".
"Convem reconhecer, acima de tudo, afirma Sedov em artigo publicado
na primeira pagina do "Pravda", que a preparação
desse voo foi feita pelos tecnicos norte-americanos com notavel minucia,
o que permitiu a todo o sistema funcionar sem o menor inconveniente,
assegurando aos tripulantes a maxima segurança".
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Reações |
O mundo inteiro manifesta seu entusiasmo ante a nova façanha
dos cosmonautas dos Estados Unidos, que colocou a Lua, definitivamente,
a um passo do homem.
"Dentro de oito semanas, a Lua será dos EUA" é
o que dizem, em manchete, em sua maioria, os jornais do mundo, ante
o exito do voo da "Apolo-10".
Naturalmente, a imprensa norte-americana não poupa elogios
a seus compatriotas, nem à Administração Nacional
da Aeronautica e do Espaço, já considerando como um
fato que o primeiro homem que irá pisar na Lua será
norte-americano.
Entretanto, o influente "New York Times" aproveita a oportunidade
para notar que, enquanto os Estados Unidos, triunfam na corrida espacial,
"Parecem, em compensação, incapazes de aplicar
na Terra uma capacidade comparavel para solucionar os problemas daqui".
O "Times" alude, aos "problemas de alojamento dos guetos,
da fome, da miseria, da ajuda inferior e da educação".
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Na
Inglaterra |
Os jornais
britanicos elogiaram hoje o vôo da Apolo-11 e dizem que é
o "arauto de uma era de descobrimentos que há apenas alguns
anos parecia pura ficção".
Até o jornal comunista "Morning Star" aplaude a façanha
norte-americana e defende os enormes gastos que representa.
O "Daily Express", de Londres, diz que a viagem da Apolo-10
foi "transcendental na historia, permitindo tanto a cientistas
quanto a leigos de todo o mundo a formação de um quadro
pormenorizado e dramatico da superficie selenica".
O "Daily Mirror" exorta seus leitores a que "saudem
o valor e a audacia" dos astronautas, e que se maravilhem "ante
a magia cientifica que as fez possivel".
O "Morning Star" diz que a tripulação da "Apolo-10"
pode sentir-se orgulhosa de si mesma". E acrescenta que a critica
que se faz aos gastos do programa espacial dos Estados Unidos demonstra
"um ponto de vista miope".
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