"QUEDA DE SHARON É INEVITÁVEL"
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Publicado
na Folha de S.Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 1982
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A demissão do ministro da Defesa Ariel Sharon "é
quase inevitável", admitiu ontem um importante deputado
do partido do primeiro-ministro Menachem Beguin. "Chegamos a
um ponto - disse o deputado que preferiu manter-se anônimo -
que Beguin tem de sacrificar Sharon ou resignar-se com a queda do
governo a curto prazo".
As pressões sobre o governo Beguin culminaram sábado
com uma gigantesca manifestação de 400 mil pessoas em
Telavive, exigindo a renúncia do gabinete e investigações
sobre a responsabilidade israelense na chacina de civis palestinos
nos campos de refugiados de Beirute.
Nas
fileiras da coalização governamental (Likud), ao mesmo
tempo, formou-se um forte movimento em favor de Ezer Weizman, o
primeiro-ministro da Defesa do gabinete de Beguin, entre 1977 e
1980, para que ele assuma o posto de Sharon.
Ao
contrário do que havia anunciado, o comando militar de Israel
disse que suas tropas só deixarão completamente o
setor oeste de Beirute quarta-feira. Apesar disso, o contingente
italiano da força internacional de paz desembarcou no porto
da capital libanesa.
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Beguin
pode tirar Sharon para salvar o próprio governo |
JERUSALÉM - Um importante deputado do partido do primeiro-ministro
Menachem Beguin revelou ontem que a demissão do ministro da
Defesa, Ariel Sharon, "é quase inevitável",
se forem levadas em consideração as pressões
cada vez mais fortes da opinião pública, que culminaram
com a gigantesca manifestação em Telavive, sábado
à noite, na qual 400 mil pessoas exigiram a imediata renúncia
do gabinete israelense por causa do massacre de palestinos em Beirute
Oeste.
"Chegamos
a um ponto que Beguin tem que se pronunciar entre sacrificar Sharon,
o qual mantém por solidariedade e lealdade, ou resignar-se
com a queda do governo a curto prazo", disse o parlamentar,
que preferiu manter seu nome em segredo.
A imprensa
israelense assinalou que vários ministros do partido Herut
- majoritário na coalização Likud - têm
a mesma opinião. O jornal independente "Haaretz"
destacou que existe grande descontentamento em relação
a Sharon por causa de seu envolvimento com a chacina de Sabra e
Chatila, mas disse que o ministro da Defesa não está
disposto a representar o papel de "vítima" e prefere
arrastar todo o governo em sua queda.
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Insatisfação |
O jornal "Jerusalém Post" também confirma
os crescentes rumores sobre a iminente queda de Sharon, dizendo que
vários ministros do gabinete exigem sua renúncia, "para
tentar salvar o próprio governo". O jornal afirmou que
o próprio Beguin "não estava muito satisfeito"
com as declarações do ministro, sobretudo quanto revelou
que "a entrada de tropas israelenses em Beirute Oeste, para fazer
respeitar a ordem, não era mais do que um pretexto. A verdadeira
razão era a de exterminar os combatentes palestinos que permaneceram
na cidade".
A imprensa
israelense revelou, ainda, que dois oficiais superiores, o general
Amram Mitzna, comandante da Escola de Altos Estudos Militares, e
o comandante de uma divisão de pára-quedistas, com
a patente de general, entrevistaram-se sexta-feira com o ministro
Sharon e exigiram sua demissão. Além disso, a direção
do Partido Trabalhista pediu, para realizar-se ainda no início
da semana, uma "reunião urgente do Parlamento, a fim
de exigir a renúncia do ministro da Defesa, cujas calúnias
sobre a matança de palestinos de Tell-Al-Zaatar causaram
muito prejuízo ao país."
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Weizman |
Nas fileiras do partido governamental formou-se uma corrente em favor
de Ezer Weizman, o primeiro-ministro da Defesa do governo Beguin,
entre 1977 e 1980, para que ele assuma o lugar de Sharon. Weizman,
que desempenhou um papel na aproximação entre Israel
e Egito, depois da visita do presidente Anuar Sadat a Jerusalém,
havia se retirado da vida política e desde então permanecia
em silêncio absoluto.
Atualmente,
o ex-ministro é muito solicitado pela "ala liberal"
do Likud para que encabece um movimento político de centro,
mas até ontem à noite se ignorava como reagiu diante
dessas propostas, que o relançariam no cenário político,
num momento particularmente crítico para o país.
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Manifestação
gigante |
Embora sejam variáveis os números a respeito da manifestação
de sábado à noite, o chefe da polícia de Telavive,
Avraham Turgeman, calculou em 400 mil as pessoas que participaram
do ato de protesto contra o massacre no Líbano e a política
do gabinete de Beguin. Na manifestação, foram presas
20 pessoas, das quais dois soldados, e houve inúmeros alarmes
falsos sobre bombas, disse a polícia.
Na
maior concentração popular de toda a história
de Israel, o líder do Partido Trabalhista, Shimon Peres,
exigiu a renúncia do governo e a saída das tropas
israelenses da capital libanesa, Peres pediu, também, a criação
de uma comissão independente para investir o massacre de
refugiados palestinos e o reinicio das negociações
em torno do futuro da Cisjordânia, ocupada por Israel.
Comentando
a gigantesca manifestação, organizada pelo movimento
pacifista "Paz Agora", e pela oposição trabalhista,
a rádio de Israel disse que Beguin terá que ceder
às pressões e realizar uma investigação
"profunda" sobre o papel desempenhado por Jerusalém
no massacre, já que cinco dos 20 ministros de seu gabinete
decidiram que a proposta do chefe de governo de efetuar uma "investigação
limitada" não é suficiente.
O ministro
do Interior, Yosef Burg, em entrevista à emissora, declarou,
categoricamente, que apoiava uma investigação mais
ampla sobre o massacre. Burg é líder do Partido Nacional
Religioso, agremiação que tem seis votos cruciais
na maioria parlamentar de 64 cadeiras do governo de coalizão
contra 56 da oposição.
Ao
entardecer, Israel inteiro vitualmente cessou suas atividades -
a rádio e a televisão estatais saíram do ar,
o aeroporto Ben Gurion fechou, os carros desapareceram das ruas
-, para observar os dias de Yom Kipur, a data mais sagrada da religião
judaica.
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