LONDRES: RUSSOS EXPULSOS EM MASSA
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Publicado
na Folha de S.Paulo, sabado, 25 de setembro de 1971
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Neste texto foi mantida a grafia original
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No maior escandalo da historia da espionagem internacional, o governo
da Inglaterra expulsou ontem do país 105 diplomatas e funcionarios
sovieticos, acusados de atentar contra a segurança nacional.
A chancelaria britanica revelou que a descoberta da enorme rede de
espionagem foi possivel graças às informações
prestadas por um elemento do KGB (policia secreta russa), que pediu
asilo politico na Inglaterra.
Este agente do KGB que fugiu da URSS, segundo a imprensa de Londres,
seria um elemento de grande importancia dentro da policia secreta
sovietica, provavelmente um major-general. A fuga do agente russo
foi noticiada pelo "Evening News" e, horas mais tarde, a
chancelaria emitia comunicado confirmando o fato e anunciando a expulsão
dos 105 diplomatas russos.
O jornal londrino havia afirmado que o agente do KGB, cuja identidade
é mantida em segredo, dera ao "Intelligence Service"
britanico "informes particularmente preciosos". Disse tambem
que a CIA (o serviço secreto norte-americano) auxiliou no desbaratamento
da rede de espionagem sovietica na Grã-Bretanha.
A espetacular vitoria da contra-espionagem inglesa caiu como uma bomba
em toda a Europa. A embaixada sovietica negou-se a todo comentario.
O Foreign Office revelou que, dos 105 acusados, 15 estão fora
do país e não poderão mais voltar à Inglaterra.
Os outros 90 terão prazo de duas semanas para deixar o país.
A embaixada russa em Londres tem 550 membros e é agora reduzida
de uma quinta parte.
A maioria dos observadores é unanime em afirmar que a descoberta
da rede de espionagem russa fará esfriar as relações
entre Londres e Moscou, ao mesmo tempo que as nações
ocidentais da Europa deverão tomar uma serie de medidas de
prevenção contra os diplomatas sovieticos.
O comunicado oficial da expulsão foi entregue por "sir"
Dennis Greenhill, secretario-geral do ministerio do Exterior britanico,
numa curta e fria entrevista com o encarregado dos Negocios da URSS,
Ivan Ippolitov, convocado à chancelaria.
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O
maior escandalo da espionagem mundial |
LONDRES - Dos 550 funcionarios e diplomatas sovieticos acreditados
na Inglaterra, 105 foram reconhecidos ontem como espiões e
expulsos do país, depois da denuncia de um alto chefe do KGB
(policia secreta sovietica), que escolheu a liberdade em Londres.
Esta descoberta da amplitude da espionagem sovietica é a mais
espetacular registrada na historia contemporanea. Um comunicado oficial
do "Foreign Office", (chancelaria britanica), afirma que
esta forma ilegal de intromissão nos assuntos internos "vinha
prejudicando enormemente o desenvolvimento de relações
mais estreitas entre a Inglaterra e a URSS".
Os nomes de 90 espiões - todos funcionarios da embaixada russa
- foram entregues em um informe por "sir" Dennis Greenhill,
secretario-geral da chancelaria, ao encarregado de Negocios sovietico,
Ivan Ippolitov.
A medida reduzirá de um quinto o pessoal da embaixada da URSS
em Londres.
O Ministerio do Exterior britanico declarou que o elevado numero de
funcionarios sovieticos na URSS e a enorme quantidade entre eles que
se dedicava à espionagem "causavam graves preocupações,
já há algum tempo, ao governo de Sua Majestade".
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A
descoberta |
Em uma mensagem à parte, o comunicado revela de onde procediam
as informações que o governo britanico possuia sobre
a espionagem sovietica no país. Diz a nota:
"Novas provas sobre a amplitude e a natureza da espionagem sovietica
na Inglaterra, realizada com a proteção da embaixada
da URSS, da delegação comercial e de outras organizações,
foram dadas por um funcionario sovietico que, recentemente, pediu
e obteve permissão para permanecer neste país. Esse
homem, um oficial do KGB, trouxe com ele certas informações
e documentos, inclusive planos para a infiltração de
agentes, com fins de sabotagem."
Alem das 90 pessoas expulsas, o governo britanico denunciou outros
15 diplomatas sovieticos atualmente no estrangeiro e que não
poderão regressar à Inglaterra.
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A
denuncia |
Os meios oficiais britanicos indicaram que o governo teria preferido
resolver o caso discretamente, por meio de negociações,
mas que a atitude do governo sovietico, que negou a existencia do
problema, obrigou-o a passar à ação.
Revelaram que, em outubro de 1970, o chanceler "sir" Alec
Douglas Home tocou no problema com o seu colega sovietico Andrei Gromyko
e que, a pedido do proprio Gromyko, escreveu-lhe uma carta a respeito,
no dia 3 de dezembro do ano passado, dando detalhes da amplitude da
espionagem russa na Inglaterra.
"Sir" Alec voltou a referir-se ao assunto no dia 4 de agosto
ultimo mas esta nova carta a Gromyko ficou sem resposta.
Nos circulos oficiais britanicos considera-se que a decisão,,
por mais brutal que seja, não prejudicará de forma dramatica
as relações com Moscou.
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O
espião |
Não foi revelada a identidade do oficial do KGB que fugiu para
a Inglaterra mas transpirou que se encontrava no país desde
há algum tempo, embora só se tomasse conhecimento da
fuga ontem, graças a uma informação do jornal
londrino "Evening News". Mas não há duvida
de que se trata de um importante membro da policia secreta russa.
O projeto de viagem de "sir" Alex a URSS em principio do
proximo ano, não sofreu modificações, afirmou-se
em Whitehall, a sede da chancelaria britanica.
"Sir" Alec comunicou, por seu turno, que espera "manter
uteis conversações com Gromyko, na próxima semana,
em Nova York".
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A
advertencia |
Todavia, o comunicado do "Foreign Office" contem uma advertencia
para Moscou:
"O governo sovietico não deve ignorar a contradição
que existe entre seu pedido de reunião de sua conferencia sobre
a segurança européia e a amplitude de suas operações
contra a segurança da Inglaterra, levada a efeito por funcionarios
sovieticos e por agentes controlados por eles."
E acentua: "O governo britanico desejaria que essa contradição
fosse resolvida antes que comecem os preparativos para essa conferencia."
Os meios diplomaticos duvidam que a URSS aceite sem reagir a decisão
britanica de expulsar uma quinta parte de seus funcionarios acreditados
na Inglaterra.
Teme-se que Moscou contra-ataque, expulsando alguns funcionarios britanicos
da capital sovietica, o que poderia levar a uma "guerrilha diplomatica"
esfriando as boas relações que ambos os paises declaram
desejar manter.
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A
surpresa em Moscou |
MOSCOU - A noticia da expulsão em massa da Grã-Bretanha
de diplomatas sovieticos caiu como uma bomba nos meios diplomaticos
da capital sovietica, onde as conversas nos coqueteis giraram unicamente
em torno deste tema.
Na embaixada da Grã-Bretanha, cujo novo embaixador "sir"
John Killick apresentou suas credenciais há quatro dias ao
presidente Nikolai Podgorny, a informação difundida
no inicio se referia a fuga de um agente do KGB e não tinha
provocado reação alguma.
A segunda noticia anunciando a expulsão de Londres dos 105
diplomatas e funcionarios sovieticos parece ter esclarecido tudo.
Sem perder sua fleugma os meios britanicos temem as represalias e
que, em consequencia, as relações anglo-sovieticas piorem.
O pessoal oficial britanico em Moscou, incluindo o da embaixada chega
a 100 pessoas. Calcula-se que se a URSS se decidisse a exercer represalias
deveria levar em conta a porcentagem de seus funcionarios expulsos
de Londres, o que representa a quinta parte dos seus efetivos na capital
britanica. Neste caso cerca de 20 diplomatas e outras pessoas poderiam
estar ameaçados de expulsão.
As relações anglo-sovieticas são particularmente
frias, mas a recente visita a Moscou de Harold Wilson, lider da oposição
trabalhista que se entrevistou com o primeiro-ministro Kosygin parecia
ter modificado um pouco as coisas. |
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