INCERTO O RUMO DOS BARCOS DA URSS QUE IAM PARA CUBA


Publicado na Folha de S. Paulo, quinta-feira, 25 de outubro de 1962

Neste texto foi mantida a grafia original

Washington, 25 — Constitui uma incognita, em virtude do segredo oficial, o paradeiro em aguas do Atlantico dos barcos cargueiros do bloco sovietico que se dirigiam a Cuba, bem como a hipotese de se tratar ou não de burlar o bloqueio norte-americano.

Não se forneceu nenhuma informação sobre as atividades dos barcos comunistas desde que o Departamento de Defesa dos Estados Unidos anunciou ontem, em breve comunicado, que alguns desses barcos mudaram o seu curso. Acrescentava o comunicado oficial que outros navios seguiam viagem "em direção a Cuba", mas que "ainda não havia sido necessaria intercepção". Isto indicava que os barcos ainda estavam a certa distancia de um possivel encontro com os vasos de guerra norte-americanos. O "Washington Post" informou que 6 dos barcos que estavam mais perto de Cuba modificaram seu curso, mas um navio polonês e outros russos continuavam em direção a Cuba, apesar de que não se esperava nenhum encontro com o bloqueio durante a noite. Em razão do silencio do Pentagono, as manobras diplomaticas açambarcaram o interesse da opinião publica na tensa crise causada pela existencia de bases sovieticas de foguetes em Cuba, a 144 quilometros dos EUA.

Russos e ianques ainda não se encontraram no mar; só boatos

WASHINGTON, 25 — Alguns dos 25 barcos comunistas, que navegam em direção às forças navais norte-americanas que lhes fecham a passagem para Cuba, aparentemente mudaram de rumo, segundo informou o governo norte-americano, ontem à noite. Acrescentou que os demais continuavam avançando para um encontro com as unidades navais encarregadas do bloqueio de Cuba.

Versões

O Departamento de Defesa deu essa informação em uma das declarações mais sucintas emitidas desde que começou a crise cubana. Acrescentou que os barcos de guerra norte-americanos ainda não foram obrigados a interceptar nenhum dos navios sovieticos.
Por outro lado, a medida que as horas transcorriam sem que se produzisse incidente algum em alto mar, surgiam rumores em Washington de que os barcos comunistas haviam recebido ordens de regressar para não enfrentar o bloqueio ordenado por Kennedy segunda-feira.
Algo disto se deixou insinuar em uma mensagem de Kruchev ao filosofo britanico Bertrand Russel, que foi difundida pela Agencia "Tass" e pela Radio de Moscou.

Apoio

Na mensagem ao pacifista britanico, Kruchev declarou que a URSS "não tomaria decisão temeraria" como consequencia do bloqueio norte-americano e "não se deixaria provocar pelos atos injustificados" dos EUA. Afirmou, contudo, que a URSS defenderia seus direitos, se os EUA prosseguissem com suas "atividades de pirataria".
Ao mesmo tempo, revelou-se que o premier sovietico enviou uma carta ao presidente Kennedy, na qual repetia, mais ou menos, uma declaração emitida terça-feira, em Moscou, manifestando que o bloqueio norte-americano constitui um passo para a guerra atomica.

O povo

De outra parte, nada menos do que 8 governos latino-americanos ofereceram contribuir com barcos, bases ou outro tipo de apoio ao bloqueio de Cuba pelos EUA, segundo informaram ontem as autoridades de Washington.
5 paises fizeram tal oferecimento, desde que o presidente Kennedy anunciou a decisão de impor o bloqueio.
A Argentina ofereceu sua grande Armada; a Guatemala, unidades navais e tropas de apoio (se necessario); a Costa Rica e Honduras, portos e a Republica Dominicana um apoio indeterminado, "sem reservas".
Alem disso, a Venezuela, a Colombia e o Peru haviam oferecido, antes do bloqueio, seu apoio em geral para qualquer ação que fosse adotada.

Emprego

Os funcionarios do Departamento de Estado e de Defesa não explicaram de imediato como poderiam ser empregados os barcos de guerra latino-americanos no bloqueio. Não parece provavel que cheguem a por-se em contato direto com os navios de carga sovieticos, mas sim que, antes de mais nada, seriam consignados a serviço de patrulhamento secundario.
As autoridades disseram que não se espera que o Canadá participe diretamente do bloqueio. O Canadá não é membro da OEA e não subscrevem o pacto de Defesa Interamericano do Rio de Janeiro, em 1947, no qual se funda em parte o bloqueio.

Duquesa depois

O presidente Kennedy solicitou, ontem à noite, à Grã-Duquesa do Luxemburgo que adie a sua viagem oficial aos EUA, fixada para o fim deste mês, em virtude da tensa situação internacional.
A Grã-Duquesa e seu esposo, o principe Carlos, iam iniciar sua visita oficial a Washington dia 30 do corrente e permaneceriam nesta capital 2 dias.



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