CHURCHILL MORREU
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Publicado
na Folha de S.Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 1965
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Neste texto foi mantida a grafia original
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LONDRES, 24 (FOLHA) - Pouco depois das 8 horas, o ex-primeiro-ministro
da Grã-Bretanha, Winston Churchill, faleceu em sua residencia,
no Hyde Park Gate, após nove dias de agonia em virtude de uma
trombose cerebral que sofrera no dia 15 passado. A noticia da morte
foi dada por seu secretario, em seguida ao exame do medico pessoal,
lorde Moran.
Divulgada a noticia, a BBC iniciou uma programação especial,
transmitindo os principais discursos de Churchill; pouco depois, foi
levada ao ar a 5a Sinfonia de Beethoven, cujos acordes iniciais -
três notas breves e uma longa - correspondem à letra
V, no codigo Morse, representando o "V da vitoria" que Churchill
simbolizou e com o qual estimulava todos os pontos de resistencia
à agressão nazista, durante a Segunda Guerra Mundial.
As bandeiras estão hasteadas a meio-mastro; diplomatas de numerosos
paises estão visitando a esposa de Churchill. Nos Estados Unidos,
onde Churchill recebeu o titulo de "cidadão norte-americano",
as bandeiras tambem estão hasteadas a meio-mastro, fato que
acontece pela primeira vez tratando-se de personalidade estrangeira.
Os funerais de Churchill serão realizados sabado, na catedral
de São Paulo, aguardando-se a presença de dezenas de
estadistas e representantes de quase todos os paises do mundo.
No Vaticano, o papa João Paulo VI declarou-se profundamente
penalizado pela morte de sir Winston. O presidente Johnson expressou
sua emoção pelo desaparecimento de "um cidadão
norte-americano". O gen. De Gaulle enviou seus pesames à
familia, em seu nome, no de sua esposa e no do povo da França.
Tambem em Moscou, onde nunca se perdoou ao estadista falecido o haver
criado a expressão "cortina de ferro", o primeiro-ministro
Kosigin afirmou em mensagem que a União Sovietica nunca poderia
esquecer os incansaveis esforços de Churchill na guerra e acrescentou
que acompanhava o povo britanico em sua magoa. Dezenas de homens publicos
de todo o mundo tambem expressaram seu pesar pela morte de Churchill
e exaltaram sua memoria. E o arcebispo de Cantuaria, parafraseando
palavras do proprio sir Winston, em sua homenagem postuma disse: "Nunca
tantos deveram tanto a apenas um homem".
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Pesar
em todo o mundo: morre Winston Churchill |
LONDRES, 24 (FOLHA) - O ex-primeiro-ministro Winston Churchill
faleceu hoje pouco depois das 8 horas (5h35 em Brasilia), após
9 dias de agonia, em virtude de uma trombose cerebral que sofrera
no dia 15 passado. A morte foi anunciada por seu secretario, em seguida
ao comunicado do medico pessoal, lorde Moran, que simplesmente afirmou:
"Esta manhã, pouco depois das 8 horas, sir Winston Churchill
faleceu em seu domicilio londrino".
Churchill morre aos 90 anos, no dia do 70º aniversario da morte
de seu pai, lorde Randolph Churchill, que viveu apenas 46 anos.
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Luto
Nacional |
No momento em que Churchill faleceu, achavam-se ao seu lado sua esposa
Clemetine, de 79 anos, seu filho Randolph, suas filhas Sarah e Mary,
os netos e o medico lorde Moran. Ao ser anunciada a morte, imediatamente
os policiais tomaram providencias a fim de ser evacuada a rua da residencia,
em Hyde Park Gate, que durante 9 dias ficou repleta de pessoas esperançosas
de que Churchill se restabelecesse.
Divulgada a noticia, a consternação foi geral em todo
o país; a BBC iniciou uma programação especial
e a voz de Churchill ressoou novamente no continente europeu, com
a transmissão de seus discursos proferidos durante a Segunda
Guerra Mundial.
Em seguida, expressando o luto nacional, a BBC transmitiu a 5a Sinfonia
de Beethoven, cujos acordes iniciais - 3 notas breves seguidas e uma
longa - correspondem à letra que, no codigo Morse, significa
o V, o V da vitoria que Churchill simbolizou procurando estimular
os pontos de resistencia à agressão nazista na Europa
e em todo o mundo.
O grande sino da catedral de São Paulo, o "Great Tom",
que apenas é acionado para anunciar a morte de um membro da
familia real, do prefeito ou do bispo de Londres, ou, ainda, do decano
da Catedral, começou a dobrar pausadamente às 10 horas
da manhã, para comunicar aos ingleses o falecimento do "Velho
Leão". Por outro lado, todas as bandeiras da Grã-Bretanha
eram colocadas a meio-mastro. Numerosas embaixadas estrangeiras em
Londres fizeram o mesmo.
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Fim
de uma era |
Apesar do frio e da chuva suave que caia, centenas de pessoas encontravam-se
diante da residencia do ex-primeiro-ministro, e, uma delas, ao ouvir
a noticia, afirmou: "Presumo que isto é o fim de uma era".
Simultaneamente, outra declarou: "Este é o fim da Grã-Bretanha
que conhecemos nos livros de historia, que lastima, era um grande
homem". Por outro lado, uma senhora fez o sinal da cruz e exclamou:
"Queira Deus ter piedade de sua alma, homens como Churchill só
aparecem de seculo em seculo".
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Em
Chartwell |
A residencia de Chartwell, propriedade pessoal de sir Winston Churchill,
no Condado de Kente, onde passava, desde que a comprou, há
44 anos, as unicas horas tranquilas de sua vida agitada, chora hoje
a perda de seu grande homem.
Os cidadãos aproximam-se respeitosamente daqueles que conheceram
melhor sir Winston: "Jo" Jennes, chofer do unico taxi local,
que teve a honra de tê-lo conduzido varias vezes; o açougueiro,
Woods; o vendeiro, Dove, enfim, todos os privilegiados aos quais se
dirigiu a forte voz legendaria e que ouviram suas risadas estrondosas,
agora extintas para sempre.
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Funerais |
Winston Churchill terá funerais nacionais, apesar de os detalhes
dos mesmos não terem ainda sido anunciados oficialmente. É
certo que os despojos do estadista serão primeiro expostos,
durante varios dias, em Westminster Hall. Em seguida será celebrado
um serviço funebre solene na catedral de São Paulo.
A inumação terá lugar no cemiterio de Bladon,
na pequena aldeia de Blenheim, onde repousa toda a antiga familia
de Churchill. Por outro lado, comunicado à imprensa divulgado
na residencia de Hyde Park Gate, afirma: "Lady Churchill solicita
que não se enviem flores. Decidiu-se que somente os membros
da familia enviarão flores ao enterro, em Bladon".
O cemiterio de Bladon circunda a pequena igreja construida em 1269
por Henrique III, que a dedicou a São Martinho de Tours. Lá
repousam os pais de sir Winston. Um par de lapides de pedra, coroadas
de identicas cruzes, tem gravado os nomes: Randolph Spencer Churchill,
1849-1895; Jennie Randolph Spencer Churchill. Muito perto se encontram,
igualmente, os tumulos do irmão e de um tio de sir Winston;
não há diferenças aparentes entre estes tumulos
e os dos granjeiros da aldeia.
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Descendentes |
O casal Churchill teve quatro filhos (três dos quais ainda vivem)
e tem atualmente dez netos e dois bisnetos.
Sua filha maior, Dianna Churchill, nascida em 1909, casou-se com Duncan
Sandys, ex-ministro conservador das Colonias e das Relações
com a "Commonwealth", do qual se divorciou em 1960, depois
de 25 anos de vida matrimonial. Dianna Churchill de Sandys suicidou-se
três anos depois. Três filhos haviam nascido desta união:
Julian Sandys, advogado de 27 anos; Edwina, de 25 anos, que se casou
em 1961 com Piers Dizon, filho do embaixador sir Pierson Dixon, e
que teve duas filhas; e Celia Sandys, de 20 anos.
Randolph Churchill, o unico filho varão de sir Winston Churchill,
jornalista, nasceu em 1911 e se casou duas vezes. Sua primeira esposa,
lady Pamela Digby, deu-lhe um filho: Winston Churchill Junior, de
24 anos, agora, que é escritor e colaborador da BBC desde novembro
ultimo. Churchill Junior casou-se em 1963 com Minnie de Erlanger,
devendo nascer brevemente seu primeiro filho. De sua segunda esposa,
June Osborne, Randolph Churchill teve uma filha, Arabela, atualmente
com quinze anos.
Sarah Churchill, nascida em 1914, atriz, casou-se três vezes.
Seu ultimo matrimonio, celebrado em 1962, foi com lorde Audley, falecido
em 1963. Sarah Churchill não tem filhos.
Finalmente, Mary Churchill, nascida em 1923, casou-se com o ex-ministro
conservador da Agricultura, Chirstopher Soames, sendo mãe de
cinco filhos.
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