TERMINA A "GUERRA FRIA": ACORDO GERAL
ENTRE OS "QUATRO GRANDES" EM GENEBRA
Fixada para outubro a conferencia, em que deverão
ser resolvidos os problemas do desarmamento, da segurança
européia, da Alemanha e das novas relações
entre Leste e Oeste
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Publicado
na Folha da Manhã, domingo, 24 de julho de 1955
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Discursos
finais de Eisenhower, Eden, Faure e Bulganin |
GENEBRA, 23 - A "guerra fria" terminou hoje, 23 de
julho de 1955, às 16 horas (G.M.T.), com a noticia de que um
acordo geral foi realizado entre os "quatros grandes". Sem
duvida, inumeras questões ainda precisam ser regulamentadas
na escala dos ministros das Relações Exteriores. Mas,
pela primeira vez, desde o fim da guerra, um acordo completo - relativo
aos problemas que tinham conduzido ao estado de tensão e que
por momentos, ameaçaram seriamente a paz mundial e provocaram
conflitos locais, especialmente na Coréia - interveio entre
as potencias ocidentais, por um lado, e a Russia sovietica, de outro.
Nas quatro delegações, demonstra-se imensa satisfação
e um alívio muito vivo. Os proprios alemães se declaram
satisfeitos com as disposições tomadas para a regulamentação
do problema que o seu país apresenta.
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O
comunicado final |
GENEBRA, 23 - O texto do comunicado final da conferencia de
Genebra é o seguinte:
"Os chefes dos governos da França, do Reino Unido, da
União Sovietica e dos Estados Unidos, guiados pelo desejo de
contribuir para o abrandamento da tensão internacional e a
consolidação da confiança entre os proprios paises,
incumbem seus chanceleres de dar prosseguimento ao exame das questões
abaixo discriminadas, a respeito das quais foi efetuada na conferencia
de Genebra uma troca de pontos de vista, e de propor a adoção
de meios adequados para sua solução, levando em consideração
o estrito liame que intercorre entre a reunificação
da Alemanha e o problema da segurança européia bem como
o fato de que a solução positiva de cada uma dessas
questões virá em proveito dos interesses da consolidação
da paz.
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Segurança
européia e Alemanha |
1º SEGURANÇA EUROPÉIA E ALEMANHA - Com o
intuito de estabelecer a segurança européia, levando
em consideração os interesses legitimos de todos os
países e o seu legitimo direito em relação à
autodefesa individual e coletiva, os ministros das Relações
Exteriores receberam instruções no sentido de examinar
a esse proposito algumas propostas, entre as quais um pacto de segurança
para a Europa, ou parte da Europa, incluindo a garantia de que os
paises-membros assumam a obrigação de não recorrer
à força e de negar a assistencia a um agressor e prevendo
a limitação, a fiscalização e a inspeção
de forças armadas e armamentos; a instalação,
entre o Oriente e o Ocidente, de uma zona em que a deslocação
de forças armadas estará sujeita a acordo reciproco.
Os ministros do Exterior foram convidados tambem a considerar outras
eventuais propostas relativas à solução desse
problema.
Os chefes de governo, reconhecendo a sua responsabilidade no que tange
à solução da questão alemã e à
reunificação da Alemanha, foram, concordes em reconhecer
a necessidade de que a solução seja aplicada através
da realização de eleições livres, em conformidade
com os interesses do povo alemão e com aqueles da segurança
européia.
Os ministros da Relações Exteriores poderão concluir
todos os acordos que forem julgados oportunos para a participação
de outras partes interessadas, ou para a sua consulta.
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A
questão do desarmamento |
2º DESARMAMENTO - Os quatro chefes de governo, desejando
afastar a ameaça da guerra e abrandar o peso dos armamentos,
certos da necessidade de um sistema para a fiscalização
e da redução de todos os armamentos e de forças
armadas, por intermedio de garantias eficazes, em prol da paz e do
bem-estar da humanidade, reconhecendo que toda e qualquer realização
nesse setor poderia libertar amplos recursos materiais, susceptiveis
de serem empregados para o desenvolvimento pacífico da economia
das nações, para melhorara o seu bem-estar e para a
assistencia às regiões economicamente deprimidas, decidem:
a) agir conjuntamente com esse objetivo, a fim de lançar
as bases de um sistema aceitavel de desarmamento, através da
Subcomissão da Comissão da ONU para o Desarmamento;
b) dar instruções aos seus representantes na
Subcomissão no sentido de que na aplicação do
mandato recebido pelas Nações Unidas levem em consideração
os pontos de vista e as propostas manifestadas nesta conferencia pelos
chefes de governo;
c) propor que a proxima reunião da Subcomissão
se realize em Nova York, a 29 de agosto de 1955;
d) dar instruções aos ministros das Relações
Exteriores no sentido de que tomem conhecimento do trabalho desenvolvido
pela Comissão do Desarmamento e das propostas formuladas pelos
chefes de governo nessa conferencia, considerando ainda se os quatro
governos podem assumir outras eventuais iniciativas uteis no setor
do desarmamento.
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Desenvolvimento
das relações entre o Leste e o Oeste |
3º DESENVOLVIMENTO DAS RELAÇÕES ENTRE O ORIENTE
E O OCIDENTE - Os ministros das relações Exteriores
deverão incumbir os peritos de estudar todas as medidas, inclusive
as susceptiveis de serem adotadas por organizações e
entidades ligadas à ONU, capazes de:
a) determinar a progressiva eliminação das barreiras
que impedem as livres comunicações e o comercio pacifico
entre os povos;
b) despertar entre os paises e os povos os contactos e as trocas
mais livres, em prol do interesse reciproco de tais paises e de tais
povos.
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A
proxima reunião dos chanceleres |
4º Os ministros das relações Exteriores
das quatro potencias reunir-se-ão em Genebra, no proximo mês
de outubro, para iniciar o exame das questões aludidas e para
decidir acerca da orientação de seus trabalhos.
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Final
alegre |
GENEBRA, 23 - Quando os quatro chefes de governo se encontraram
em sessão plenaria, o sr. Edgar Faure, que preside a reunião
perguntou: "Há observações a fazer às
diretivas que preparamos para os ministros de Relações
Exteriores?"
Ouviu-se então o marechal Bulganin pronunciar um "niet"
retumbante, segundo de um "no" grave do presidente Eisenhower.
Todos os delegados presentes riram.
Sir Anthony Eden rendeu, em seguida, homenagem aos esforços
de seus três colegas. Depois de lembrar que essa conferencia
fôra desejada por Sir Winston Churchill, o primeiro-ministro
britanico sublinhou que ela não podia fazer melhor do que cumprir
a tarefa de que foi incumbida. "As melhores chances depois da
guerra - disse ele - estão reunidas hoje para levar a efeito
uma politica de compreensão."
Foi então a vez do marechal Bulganin que, falando mais longamente
do que os outros chefes de governo, expôs novamente as teses
sovieticas que defendeu no curso da conferencia.
Depois, fez uso da palavra o sr. Eisenhower, o qual declarou que foram
as possibilidades da paz e da distensão que ganharam e que
os perigos de uma guerra se afastam cada vez mais.
O sr. Faure foi o ultimo. Como presidente, agradeceu, em nome dos
quatro chefes de governo, ao secretariado das Nações
Unidas, que colocou o Palacio das Nações à disposição
da conferencia, bem como à cidade e à população
de Genebra pela acolhida que reservaram às quatro delegações.
Lady Eden, a sra. Eisenhower e a sra. Edgar Faure estavam presentes,
na sala, ao fim da sessão, e ouviram seus respectivos esposos
pronunciarem as alocuções de encerramento.
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