ANUNCIADO O ACORDO DE PAZ NO VIETNÃ

Publicado na Folha de S.Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 1973

O assessor presidencial norte-americano Henry Kissinger voltou a Washington ontem, depois de reunir-se durante três horas e 45 minutos com o delegado norte-vietnamita Le Duc Tho, em paris, num encontro de grande otimismo e com fontes extra-oficiais e a imprensa da Franca e dos Estados Unidos anunciando o acordo de cessar-fogo no Vietnã. Esse acordo, adianta-se, será formalizado simultaneamente em Washington e Hanói no proximo sabado.
O jornal parisiense "France Soir" e o "New York Times", dos EUA, anunciaram os termos gerais do acordo. Hanói aceitou a manutenção da Zona Desmilitarizada em ambos os lados do Paralelo 17 e a instalação de uma força estrangeira para supervisionar a paz; e os EUA deixaram de lado sua exigencia de que as forças norte-vietnamitas se retirassem do Sul.
O presidente sul-vietnamita Van Thieu aceitou o acordo de paz, mas espera ser consultado sobre seus pormenores. Em Paris, Kissinger entrevistou-se por duas vezes com o chanceler do Vietnã do Sul, Tran Van Lam, para revelar-lhe os pontos acertados na reunião.
Varios fatos dão a certeza de que o tratado de paz foi concluido: a reunião secreta realizou-se no Centro Internacional de Conferencias de Paris, tendo o governo francês como anfitrião; as duas delegações permitiram a entrada de fotografos oficiais; os dois negociadores apertaram-se as mãos ao fim da reunião e saudaram efusivamente os jornalistas; Kissinger retornou imediatamente a Washington.
Em Saigon, entretanto, o presidente Van Thieu fez um apelo ao povo, advertindo-o de que não deve confiar nos comunistas e exortando-o a unir-se às Forças Armadas "para fortalecer o poder politico da nação".
A Força Aerea dos EUA realizou ontem intensos bombardeios contra posições militares comunistas no Vietnã, num esforço para diminuir a possibilidade de novas conquistas territoriais pelas tropas de Hanói e do Vietcong antes do anuncio oficial da tregua.

Tropas alertadas

O governo dos EUA solicitou ontem às quatro nações que supervisionarão o cessar-fogo no Vietnã - Canadá, Polonia, Hungria e Indonesia - que coloquem suas tropas em alerta, pelo periodo de três dias, tendo em vista a assinatura do acordo de paz.
A Indonesia tem 250 oficiais e mil soldados prontos para rumar para Saigon. Os soldados estarão armados apenas para auto defesa e os equipamentos de transporte e comunicações que utilizarão serão fornecidos pelos EUA.
O Canadá possui 450 soldados aguardando igualmente a ordem de embarque para a missão de fiscalização do cessar-fogo, mas outros poderão ser deslocados posteriormente.
A Indonesia, unica nação asiatica entre as forças de supervisão, deverá ser a primeira a desembarcar soldados no Vietnã.

Kissinger volta: exito nas negociações

PARIS, - Depois da reunião de três horas e 45 minutos de ontem em Paris, entre Henry Kissinger, assessor especial do presidente Richard Nixon, e o delegado norte-americano Le Duc Tho. Kissinger voltou imediatamente a Washington, em meio a afirmações - algumas categorias - de que o acordo de cessar-fogo no Vietnã já havia sido acertado e mesmo assinado por ambas as partes.
As noticias foram divulgadas principalmente pela imprensa francesa, não obstante o sigilo que ambas as delegações fosse anunciada pelo presidente Nixon e pelo governo de Hanói, após o regresso de Kissinger.
As noticias otimistas basearam-se sobretudo em alguns fatos, como: a reunião foi mantida no Centro Internacional de Conferências, no centro de Paris tendo o governo frances como anfitrião; as duas delegações permitiram a entrada de fotografos oficiais de ambas as partes ao fim da reunião embora os da imprensa tivessem sido mantidos a distância; e os dois negociadores apertaram as mãos ao final da conferencia e saudaram efusivamente os jornalistas que se agrupavam na porta.
Entretanto, as duas delegações recusaram-se a comentar as informações da imprensa francesa; não foram divulgadas as fontes das noticias.

As noticias

O jornal de grande circulação na França "France Soir" informou que o acordo poderia entrar em vigor a 3 de fevereiro nas festas do Tet, o Ano Novo vietnamita e disse ainda que Hanói aceitava o restabelecimento da Zona Desmilitarizada em ambos os lados do Paralelo 17 e a instalação de uma força adequada de observadores militares estrangeiros.
Por sua parte, segundo o jornal, os EUA deixariam de lado sua exigencia de que as forças norte-vietnamitas se retirassem do Sul e revelou que as forças de Hanói do Vietcong seriam reagrupadas em quatro zonas claramente marcadas no Vietnã do Sul as quais permaneceriam provisoriamente sob controle comunista. As zonas seriam: ao norte de Quang Tri, ao longo da Zona Desmilitarizada; as montanhas centrais; uma zona entre Saigon e a fronteira com o Camboja; e o delta do rio Mekong.

Em Saigon

Outras informações procedentes de Saigon, dão conta de que o presidente sul-vietnamita Nguyen Van Thieu também já aprovou, em principio, o acordo de cessar-fogo na Indochina, mas pretende ser consultado antes da assinatura defendida do tratado.
Antes de reunir com o delegado Le Duc Tho, Kissinger conversou longamente, por duas vezes, com o ministro das Relações Exteriores do Vietnã do Sul, Tran Van Lam, aparentemente po-lo a par do que seria tratado na reunião secreta.
Lam e a chanceler do Vietcong, senhora Nguyen Thi Binh, encontram-se em Paris, mas não participaram das reuniões, limitando-se a acompanhar os acontecimentos.
Enquanto isso, os peritos de ambas as partes estiveram trabalhando até a madrugada de ontem em varios quesitos do acordo de paz. A reunião, em Saint-Nom-la-Breteche durou 13 horas (fato sem precedentes), mas ao que parece ainda não terminaram seus trabalhos.

Saigon prepara o povo

O presidente Van Thieu fez ontem à noite, em Saigon, um anuncio especial destinado a preparar o povo sul-vietnamita para a noticia do cessar-fogo, advertindo seus concidadãos de que não devem confiar nos comunistas e exortando-os de que devem buscar fortalecer o poder politico da Nação.
"Se os comunistas aceitam firmar um acordo de paz é porque sua guerra de agressão culminou numa derrota" disse o presidente. "Não devemos confiar em que os comunistas respeitarão o acordo. Não devemos acreditar que, com uma simples assinatura, eles renunciem aos seus planos de apoderar-se do Vietnã do Sul. Portanto, se desejamos um armisticio de longa duração e uma paz garantida, o povo e as Forças Armadas devem se agrupar pelo nacionalismo e fortalecer nosso poder politico", concluiu Thieu.

As supervisão da paz

Os Estados Unidos solicitaram ontem às quatro nações que supervisionarão o cessar-fogo no Vietnã que coloquem suas tropas em alerta, pelo periodo de três dias, tendo em vista a assinatura do acordo de paz. As quatro nações que supervisionarão a tregua são Hungria, Indonesia, Canadá e Polonia.

A guerra

Apesar dos informes insistentes sobre a iminencia de um cessar-fogo no Vietnã, os bombardeiros norte-americanos continuaram seus ataques de saturação contra posições comunistas, num esforço para diminuir a possibilidade de ocupação territorial pelas tropas de Hanói e do Vietcong.
Os caça-bombardeiros dos EUA realizaram 374 incursões e os B-52 efetuaram mais oito durante as ultimas 24 horas, no maior numero de incursões desde 22 de agosto.
Documentos apreendidos aos comunistas levam militares de Saigon a crer que as forças comunistas têm ordens de atacar desde o momento em que for acertado o cessar-fogo, até sua vigência efetiva. Comenta-se também, que os comunistas têm ordens de assassinar autoridades do governo e seus partidarios.

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