CONDENADO À MORTE MATADOR DE BOB
Publicado na Folha de S.Paulo, quinta-feira, 24 de abril de 1969
Neste texto foi mantida a grafia original
O jordaniano Sirhan Bishara Sirhan, de 25 anos, assassino do senador Robert Kennedy, foi condenado ontem à morte na camara de gás da prisão de San Quentin, após três meses de julgamento em Los Angeles. Sirhan matou Bob Kennedy na noite de 5 de junho de 1968 no salão de festa do hotel Ambassador, quando o senador comemorava sua vitoria nas eleições primarias da California, que o haviam transformado no favorito para a indicação presidencial do Partido Democrata. Kennedy foi atingido pelas costas e uma das três balas perfurou o osso rochedo e penetrou no cerebro. Bob morreu 25 horas depois, sem recobrar a consciencia, no hospital do Bom Samaritano de Los Angeles. Agora, os advogados de defesa de Sirhan impetrarão uma serie de recursos legais que poderá adiar a execução durante muito tempo.
Assassino de Bob Kennedy condenado à morte na camara de gás

LOS ANGELES, 23 - Sirhan Bishara Sirhan, de 25 anos, o jordaniano que matou o senador Robert Kennedy a 5 de junho de 1968, foi condenado hoje à tarde na camara de gás, depois de três meses e meio de julgamento. O juri, composto de sete homens e cinco mulheres, tinha considerado na semana passada Sirhan culpado de assassinato em primeiro grau, o que significa que ele havia premeditado o assassinio de Kennedy. Apesar da condenação à morte, a defesa poderá entrar com varios recursos, que adiarão a execução por tempo indefinido.
A indiferença

Ao ser anunciado a veredito Sirhan estava mascando chiclete, continuou mastigando e olhou fixamente para a frente. O Codigo Penal da California prevê que o juiz pode comutar a pena de morte pela de reclusão perpetua. O juiz Herbert Walker, que presidiu o processo de Sirhan, é o mesmo magistrado que, em 1958, se negou a comutar a pena de morte pronunciada contra Caryl Chessman, culpado de violação e rapto. Chessman foi executado em 1960, depois de tentar todos os recursos possiveis e imaginaveis para fugir à camara de gás, forma de execução atualmente em vigor na California. Sua mãe, que havia assistido a todas as audiencias ao longo do processo, preferiu desta vez ficar em casa. Somente se achava na tribuna reservada ao publico seu irmão Adyl, de 30 anos. Durante sua carreira, o juiz Walker só comutou uma pena de morte pela de reclusão perpetua, de um total de 19 recomendações a pena capital feitas por jurados. Os jurados entraram em acordo sobre o veredito contra Sirhan depois de 11 horas e 45 minutos de deliberações, em três dias. A pergunta ao juiz: é este o vosso veredicto?, cada um dos doze membros do juri responderam: ''Sim". No veredicto não figurava nenhuma recomendação de indulgencia para com o assassino de Robert Kennedy. Sirhan Bichara Sirhan, foi reconduzido à cela de prisioneiro mais guardada dos Estados Unidos.
A data

Walker, deverá decretar oficialmente a sentença no prazo de três semanas, homologando a decisão do juri. Depois deste requisito Sirhan será levado para o pavilhão da morte da penitenciaria estadual de San Quentin ou para o hospital-prisão de Vagaville. Wagner marcou a data de 14 de maio para a abertura do exame do pedido da defesa para realizar um segundo julgamento, encerrado o que terminou hoje. Como em todos os casos de pena capital entra agora automaticamente um recurso contra a sentença ante o Supremo Tribunal do Estado da California. Se o supremo estadual confirmar a sentença, a defesa pode iniciar uma serie de recursos que levaria o caso até o Supremo Tribunal Federal, em Washington.
Earl ray

Robert Hill, advogado de James Earl Ray, condenado a 99 anos de prisão pelo assassinato de Martin Luther King, declarou hoje que o seu cliente foi apenas um instrumento no crime e que já tinha praticamente assegurada a realização de um novo julgamento. Hill deu a entender que houve um complô para matar King. Depois de conferenciar durante três horas e 15 minutos com Ray, na penitenciaria estadual do Tennessee, Hill disse aos jornalistas que discutiu com ele a petição de um novo processo, que será examinado em Memphis no dia 26 de maio. "Ray não tem conhecimento real de qualquer conspiração que eu saiba. Simplesmente não sabe nada. Não tem conhecimento sobre o que ocorreu na verdade". Disse o advogado, recusando-se a falar mais sobre o assunto.
A festa tragica

Foi na noite de 5 de junho de 1968, quando Bob Kennedy comemorava a sua vitoria nas eleições primarias da California no salão de festas do Hotel Ambassador que terminou a sua curta e gloriosa carreira na politica norte-americana. A vitoria praticamente conferia ao senador a indicação presidencial pelo Partido Democrata na convenção de julho em Chicago. Pouco antes da meia-noite, após pronunciar o discurso da vitoria, retirou-se pelos corredores do fundo do hotel, a fim de evitar os jornalistas. Estava cansado mas mantinha o sorriso permanente. Centenas de correligionarios o aplaudiam. Antes de entrar no elevador para seu apartamento, Bob vai a cozinha cumprimentar o pessoal de serviço. Seis disparos ecoam. O senador cai, entre gritos e confusão. Fora atingido por três balas, uma das quais, lhe penetrara o cerebro. A esposa Ethel, gravida de 11.o filho, ampara sua cabeça. Era o tragico fim de festa. Robert Francis Kennedy, 43 anos, senador por Nova York e candidato favorito às eleições presidenciais nos EUA, morre a 6 de junho no Hospital Bom Samaritano de Los Angeles. Mais uma vez a familia Kennedy - que em uma decada deu dois grandes lideres politicos ao seu pais - recolhia-se na dor e no luto.
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