Ricardo Bonalume Neto
O guerreiro japonês de 1944, kamikaze ou não, tinha
um código de conduta feudal, o ``bushidô''. A palavra
quer dizer ``caminho do guerreiro''.
Ela explica não só o kamikaze, mas o comportamento
fanático de absolutamente todo soldado, marinheiro ou aviador
japonês na guerra com os americanos de 41 a 45.
O militar japonês já lutava de modo suicida. Tornar-se
prisioneiro era a suprema desonra.
O ``bushidô'' é um código não escrito.
O guerreiro deve seguir um caminho de honra, autodisciplina, bravura
e vida simples, mas, principalmente, conseguir uma morte digna.
``O bushidô significa a morte. Significa escolher a morte
sempre que há uma escolha entre vida e morte. Não
significa nada além disso'', escreveu o japonês Yamamoto
Tsunenori no século 17.
Esse código foi encorajado no Japão moderno. Face
à primeira derrota do Japão em uma guerra, em 1944,
foi natural a evolução aos kamikaze. Com o sacrifício
de um piloto e um avião poderia ser destruído um grande
navio.
A idéia dos kamikaze surgiu com o capitão Eiichiro
Jyoo e com o almirante Takijiro Onishi. Este último formou
a primeira Unidade Especial de Ataque, que estreou com sucesso na
batalha do golfo de Leyte, durante a retomada das Filipinas pelos
americanos.
A Marinha dos EUA foi pega de surpresa por aviões que não
desviavam depois de atirar, mas se estatelavam em seu alvo.
O porta-aviões leve Saint Lo foi afundado em 25 de outubro
de 1944; os porta-aviões leves Santee, Suwanee, Kitkun Bay
e Kalinin Bay foram danificados.
A grande hora dos kamikaze foi a defesa da ilha de Okinawa em abril
de 1945. Cerca de 2.000 ataques-suicida afundaram 36 navios e danificaram
outros 368 da frota americana.
A Marinha dos EUA conseguiu derrotar os kamikaze usando uma proporção
maior de aviões de caça. Morreram 4.907 marinheiros
e 4.824 ficaram feridos.
Os japoneses desenvolveram também submarinos e barcos ``kamikaze''.
O maior ``kamikaze'' de todos foi o couraçado Yamato, que
tentou atacar a frota em torno de Okinawa com combustível
só para a viagem de ida.
Os soldados em Okinawa também agiram como kamikaze. Só
se renderam 7.400; outros 110.000 morreram combatendo.
Ironicamente, os sucessos dos kamikaze colaboraram para a ruína
do Japão. Graças ao seu fanatismo, os EUA previam
que uma invasão do Japão causaria centenas de milhares
de baixas. Foi o argumento que faltava para os partidários
do uso da bomba atômica.
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