ESTADO DE EMERGÊNCIA NO CHILE APÓS ATENTADO


Publicado na Folha de S. Paulo, sexta-feira, 23 de outubro de 1970

Neste texto foi mantida a grafia original


Com três tiros —um no pescoço, um no peito e um no abdomen— o comandante-chefe do Exercito do Chile general Rene Schneider foi gravemente ferido ontem por terroristas que interceptaram seu carro às 8h30 da manhã, no bairro de "El Golf" em Santiago, quando ia para o Ministerio da Defesa. Schneider foi submetido a delicada intervenção cirurgica e seu estado é critico.
O governo do presidente Eduardo Frei decretou o estado de emergencia e as Forças Armadas, com o auxilio do Corpo de Carabineiros e da Guarda Civil deram inicio a uma das maiores caçadas policiais da historia chilena.
Todos os partidos, agremiações e instituições condenaram o atentado. O Partido Democrata Cristão responsabilizou a extrema-direita afirmando que "isso foi obra de fascistas".
Em consequencia do atentado criou-se novamente um ambiente de tensão politica a apenas 24 horas da sessão do Congresso nacional que irá confirmar o senador socialista Salvador Allende como presidente da Republica.
O diretor da policia civil Luís Jaspard renunciou ao cargo e foi imediatamente substituido por um militar, o general Emilio Cheire. O Exercito publicou nota qualificando o atentado de covarde e reafirmando sua disposição de manter a ordem no país.
Foi descoberto um arsenal de armas na casa de um ex-comandante dos carabineiros, que foi detido. A policia tambem deteve um membro da organização direitista "Patria e Liberdade", implicado nos recentes atentados a bomba na capital.
Nos circulos politicos afirma-se que os tiros contra o general Schneider criaram as condições para que os "duros" do Exercito se decidam a romper a tradicional neutralidade das Forças Armadas em relação ao processo politico.

Atentado terrorista fere o chefe do Exercito do Chile

Santiago do Chile, 22 — Pela primeira vez na historia do Chile uma personalidade do governo foi vitima de um atentado politico. Trata-se do general Rene Schneider, comandante-chefe do Exercito chileno, que foi gravemente ferido esta manhã, às 8h30, hora local, por varios disparos.
O atentado ocorreu num momento em que a situação politica nacional atravessa uma fase decisiva.
Sabado o Parlamento designará o novo chefe de Estado que substituirá o presidente democrata-cristão Eduardo Frei. A designação do Parlamento recairá, certamente, no representante socialista, Salvador Allende.

Três tiros

De acordo com a comunicação do Ministerio da Defesa os agressores estavam em três carros e interceptaram o veiculo do general Schneider numa avenida do bairro residencial de "El Golf" de Santiago, pouco frequentado aquela hora da manhã.
Os agressores desceram dos carros e dispararam a queima-roupa sobre o general que recebeu três tiros, um no abdomen, outro na região do figado e outro no pescoço.

Quem foi?

Os terroristas fugiram e não se sabe se eram militantes de extrema direita, que poderiam considerar o general Schneider como o defensor da ordem e das tradições democraticas do Exercito chileno, sendo portanto um obstaculo a um golpe de Estado para impedir que Salvador Allende seja o presidente.
Ou então, se ao contrario podem ser elementos de extrema esquerda, inimigos da conciliação que os observadores notaram entre os elementos das diversas correntes politicas do país, em vesperas da ratificação da vitoria de Allende.
Ao atentar contra a vida do general Schneider a extrema esquerda desejaria semear a inquietação no país.
Perdura a incognita. Para saber a verdade é necessario antes descobrir os culpados.

Busca gigante

Uma busca gigante está sendo feita em toda a cidade de Santiago por centenas de membros das Forças Armadas, carabineiros e policiais da Guarda Civil.
Quatrocentos detetives cooperam na caça terrorista que atiraram no general Schneider.
O governo decretou o "estado de emergencia" e as forças armadas e os carabineiros assim como a policia civil, estão em estado de alerta.
Procura-se intensamente um carro branco e dois azuis, de onde desceram e a seguir fugiram os agressores do general Schneider, segundo as poucas pessoas que testemunharam o fato.


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