ASSIGNADO O PACTO MILITAR ENTRE O REICH E A ITALIA
A Allemanha e a Italia auxiliar-se-ão com todo o
seu poderio militar de terra, mar e ar
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Publicado
na Folha da Manhã, terça-feira, 23 de maio
de 1939
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Neste texto foi mantida a grafia original
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BERLIM, 22 - Milhares de pessoas se agglomeravam em frente
ao edificio da Chancellaria na esperança de avistar o "Fuehrer"
e os demais signatarios do pacto militar italo-germanico. O dia estava
magnifico. A "Juventude Hitleriana", formada, apresenta
aspecto interessante; cada jovem traz à mão um ramo
de lilás, enquanto as fanfarras fazem sôar os clarins.
Os jovens hitlerianos recebem enthusiastica manifestação
popular.
Às 11 horas e 25 minutos o chanceller apparece na varanda,
em companhia do conde Ciano e sauda a juventude allemã formada
no primeiro plano, bem como as delegações da juventude
italiana de Berlim. Os jovens acclamam o ministro dos Negocios Estrangeiros
da Italia, agitando os ramos de flores. O conde Ciano agradece sorrindo.
O chanceller Hitler bate-lhe cordialmente no hombro, e ambos os estadistas,
depois de novamente agradecer as manifestações, retiram-se
para o interior do edificio.
A multidão não abandona o local e grita em côro:
"Não queremos entrar, mas queremos ver o "Fuehrer".
Os representantes das grandes agencias e dos principais jornaes estrangeiros
foram convidados para a solennidade. O numero de jornalistas allemães
e italianos é, naturalmente, muito grande. Ao longo da galeria
de honra que leva à grande sala de recepção,
os representantes dos exercitos italianos e allemão tomaram
lugar. Na grande sala, o sr. von Ribbentrop preside os ultimos preparativos
e o sr. Meissner, director da chencellaria presidencial, colloca no
respectivo estojo a Grande Ordem Allemã que o chanceller concederá
ao conde Ciano, logo após a assignatura do accôrdo.
Às 11 horas e 6 minutos precisamente, o "Fuehrer"
entra na sala e dois minutos após o conde Ciano e o sr. von
Ribbentrop collocam suas assignaturas sob as clausulas do pacto. A
cerimonia demorou alguns minutos porque varias assignaturas foram
appostas ao documento, não só no preambulo como na integra
do accôrdo.
Às 11 horas e 10 minutos terminou a solennidade. O sr. von
Ribbentrop se levanta e annuncia que o pacto está assignado.
O chanceller visivelmente commovido aperta a mão de ambos os
ministros de Negocios Estrangeiros e voltando-se novamente para o
conde Ciano colloca-lhe no peito a mais alta condecoração
do Terceiro Reich allemão: a Ordem da Grande Aguia Allemã,
em ouro.
A seguir o "Fuehrer" abandona a sala. O conde Ciano toma
a palavra e, em italiano, repete as palavras pouco antes dita pelo
sr. von Ribbentrop, annunciando que o accôrdo está assignado.
Logo depois, o locutor radiophonico annuncia o acontecimento e assignala
que esta e a quinta vez que o conde Ciano visita Berlim, devendo ser
considerado o dia 22 de maio como a data culminante da carreira diplomatica
do ministro dos Negocios Estrangeiros da Italia. Ao lado do conde
Ciano se encontra o marechal Goering. Ambos se dirigem para o lugar
em que se encontra o sr. von Ribbentrop, ao lado de quem se acham
os generaes Pariani, von Brauchtisch e Keitel e o almirante Ralder.
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Texto
do accôrdo |
BERLIM, 22 - É o seguinte o texto completo do tratado
de alliança militar italo-germanica assignado hoje:
"O chanceller do Reich allemão e a majestade o rei da
Italia e da Allemanha e imperador da Ethiopa, consideram que chegou
o momento para affirmar a estreita relação de amizade
entre a Allemanha nacional-socialista e a Italia fascista em uma cerimonia.
Depois da fixação cientifica de uma fronteira commum
entre a Allemanha e a Italia como ponte para toda a ajuda mutua, ambos
os governos affirmam novamente sua adhesão a esta politica
que já foi acceita anteriormente entre os dois governos, em
seus pontos fundamentaes e em seus objectivos que demonstraram corresponder
a manutenção dos interesses dos dois paizes, assim como
à conservação da paz na Europa.
Unidos por sua relação intima, por suas ideologias e
pela amplissima solidariedade e interesses, os povos allemão
e italiano manifestam-se decididos a permanecer unidos no futuro com
todo o seu poderio na conservação da paz e no proposito
de assegurar a expansão vital.
Sobre estas linhas previstas pela historia da Allemanha e da Italia
no meio do mundo agitado, os dois governos contribuirão para
assegurar as bases da cultura européia.
Com o fim de assentar esses principios em um tratado, o chanceler
do reich allemão autorizou plenamente o ministro das Relações
Exteriores, sr. Joschin Von Ribbentrop e o representante de sua majestade
o rei da Italia e Albania e imperador da Ethiopia, os quaes depois
do intercambio de suas credenciaes, decidiram o seguinte:
Artigo 1° - As partes contratantes permanecerão
em contacto constante com o fim de consultarem-se sobre todas as questões
que affectem os interesses communs e que se refiram à situação
européia em geral.
Artigo 2° - No caso em que os interesses communs de ambas
as partes contratantes se vejam ameaçados por qualquer forma
pelos acontecimentos internacionaes, entrarão em consulta,
relativamente às medidas necessarias para proteger esses interesses;
se a segurança ou outros interesses vitaes de qualquer das
partes estiverem ameaçados externamente, a outra parte prestará
à ameaçada todo o apoio politico o diplomatico necessario
para eliminar a ameaça.
Artigo 3° - Se contra os desejos e esperanças das
partes contratantes qualquer dellas fôr envolvida em um conflito
armado, a outra parta accudirá immediatamente ao seu lado,
como alliada, e apoiará com todo o seu poderio militar de terra,
mar e ar.
Artigo 4° - Para assegurar a rapida realização
das obrigações contraidas no artigo 3°, os governos
das duas partes contratantes intensificarão sua cooperação
no aspecto militar e no campo da economia militar. Do mesmo modo,
os dois governos permanecerão em consulta regular, no que diz
respeito a outras medidas necessarias para o cumprimento pratico destas
obrigações. Os dois governos constituirão commissões
permanentes, sob a direcção dos respectivos ministros
das Relações Exteriores, para a realização
dos propositos mencionados nos artigos 1° e 2°.
Artigo 5° - As partes contratantes obrigam-se agora em
caso de uma guerra conduzidas em commum a acceitar o armisticio e
a paz só com o accordo completo entre si.
Artigo 6° - Ambas as partes contratantes reconhecem a significação
de suas relações communs para com as potencias amigas.
Estão decididas a master essas relações tambem
no futuro e a regular sob uma base commum os unanimes interesses que
as vinculam com essas potencias.
Artigo 7° - Este pacto entrará em rigor immediatamente
depois de ser assignado pelas duas partes contratantes e que concordam
em que o seu primeiro periodo seja fixado em dez annos. Antes da expiração
desse periodo chegarão a um entendimento opportunamente, quanto
à prorrogação desse pacto".
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Discurso
o conde Ciano |
BERLIM, 22 - Depois de firmar a alliança militar italo-germanica,
na séde da Chancellaria, o ministro das Relações
Exteriores da Italia, conde Galleazo Ciano, pronunciou a seguinte
allocução:
"A alliança e o pacto de amizade concluido hoje, determinam
e garantem, com obrigações militares, claramente definidas,
a grande communhão de espirito, que existe entre a Allemanha
nacionalista e a Italia fascista.
Duas grandes nações que se renovaram e cobraram novo
vigor, graças ao genio e à vontade do "Fuehrer"
e do "Duce", collocaram-se à frente da historia européia,
afim de preservar os fundamentos de sua cultura millenaria, e hoje
se unem num bloco indissoluvel de poderio, vontade e interesses, para
manter a ordem e a justiça no mundo que se desagrega.
Os termos da alliança são tão inequivocos em
sua condisão e clareza, que não ha necessidade de commental-os.
Seu espirito corresponde à honrada franqueza que caracteriza
as relações italo-germanicas. A vontade que expressam
é a de dois povos que estão conscios, da forma mais
profunda possivel de que seus destinos correm parallelamente.
Para mim é prazer particular ver meu nome unido ao do sr. Ribbentrop,
neste documento que appondo um selo, às realizações
da Italia e Allemanha, abre uma larga senda, pela qual as duas nações,
com os seus 150 milhões de operarios, cidadãos e soldados
marcharão unidos até ao futuro, dominadas pela esperança
de preservar sua finalidade mais elevada, que é a paz.
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Fala
o sr. Ribbentrop |
BERLIM, 22 - Foi o seguinte o discurso pronunciado pelo sr.
von Ribbentrop, logo após a assignatura do tratado militar
com a Italia:
"Em principios deste mez de maio, o "Fuehrer" e o "Duce"
resolveram expressar a estréia solidariedade entre ambos os
paizes, com a conclusão de um vasto pacto de alliança
politica e militar. Em Milão, os ministros dos Negocios Estrangeiros
da Italia e do Reich, em meio enthusiastico acolhimento dispensado
ao enviado do "Fuehrer" e com a approvação
de todo o povo italiano combinamos as primeiras medidas desse accordo.
Hoje, apenas duas semanas depois, o povo allemão sauda com
enthusiasmo o enviado do "Duce" - o conde Ciano que acaba
de assignar commigo o pacto de alliança entre os dois paizes.
Este pacto historico é a conclusão de um entendimento
que com a revolução nacional-socialista e a revolução
fascista, asseguram uma communhão de interesse cada vez mais
estreita e uma solidariedade cada dia mais profunda entre os dois
povos. A Allemanha e a Italia formam agora uma communidade indissoluvel.
O mundo deve compreender esse acontecimento. Nenhuma potencia na terra,
nenhuma hostilidade, nenhuma excitação poderão
jamais modificar esse ambiente. Às democracias que pretendam
a guerra e inventaram pactos mais complicados, duvidosos na intenção
de cercar à Allemanha e a Italia, respondemos energicamente
com a assignatura desse pacto. A linguagem desta alliança é
clara e seu objectivo está de accordo com a nossa maneira de
pensar.
"No futuro as duas nações viverão lado a
lado em qualquer emergencia. Estarão sempre promptas a estender
a mão na hora da paz, mas decididas, com vontade ferrea, a
defender e assegurar em commum o respeito aos seus interesses vitaes.
Cento e cincoenta milhões de allemães e italianos com
os seus amigos no mundo um bloco positivamente intensivel. Para todos
os allemães, como para todos os italianos é um motivo
de orgulho. O facto de pertencerem a essa indissoluvel communidade
que obedece à direção de Hitler e de Mussolini,
cujos governos estão firmemente convencidos de que não
existe na Europa um só problema politico que não possa
ser resolvido por meios pacificos, desde que haja boa vontade reciproca.
Esses governos, entretanto, decididos a não recuar um passo
diante de ameaças ou violencias, porque estão resolvidos
a defenderem os direitos vitaes de seus povos, com todas as forças
e por todos os meios de que puderem dispôr. Ninguem mais poderá
duvidar da indissolubilidade da communhão predestinada entre
o Reich da Grande Allemanha e a Italia. Ninguem tem o direito de manifestar
subtilezas a esse respeito nem procurará por certo modificar
o que está feito. Toda e qualquer acção contra
os direitos da Italia ou da Allemanha encontrara a barreira commum
de ambos paizes. Cada pollegada de territorio allemão ou italiano
será agora defendida em commum pelos exercitos germano-italianos.
A Italia e a Allemanha com seus fieis amigos do mundo inteiro formam
um bloco invencivel de 300 milhões de seres humanos, dispostos
a estender a mão amiga a todos os que o quizerem sinceramente,
mas tambem a anniquilar com todas as suas forças qualquer adversario,
seja elle quem fôr".
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Hitler
congratula-se com o rei Victor Manuel, e Mussolini |
BERLIM, 22 - Por occasião da assignatura do accordo
italo-germanico, o chanceller Hitler dirigiu ao rei da Italia o seguinte
telegramma:
"Neste momento historico desejo exprimir a Vossa Majestade a
profunda satisfação com que vejo nossos povos unidos
por uma amizade inquebrantavel e pela communhão dos destinos
que nos unem".
O rei Victor Emmanuel respondeu: 'Na occasião da assignatura
do tratado hoje concluido pelos nossos governos quero vos enviar a
expressão de meus sentimentos mais cordeaes como alliado e
como amigo, ao mesmo tempo em que formulo ardentes votos pela vossa
felicidade pessoal e pela grandeza e prosperidade da nação
allemã unida à Italia por laços de indescutivel
communidade de interesses e aspirações".
O sr. Hitler dirigiu tambem ao sr. Mussolini o telegramma seguinte:
"'Duce', nesta hora historica em que o pacto de amizade e alliança
italo-germanico acaba de ser assignado sob acclamações
enthusiasticas do povo allemão, desejo exprimir a v. exa. a
grande alegria com que vejo a communhão perfeita entre a Italia
e a Allemanha nacional socialista, assegurada pella assignatura solene
deste tratado. O mundo pode verificar agora que todos os esforços
para anniquilar o 'eixo' Roma-Berlim serão inuteis. A Allemanha
e a Italia em um bloco de 150 milhões de homens, seguirão
sempre juntas para a defesa da herança sagrada e da civilização,
assegurando uma paz baseada na Justiça".
Foi a seguinte a respostas do "Duce":
"Hoje que a assignatura do tratado de alliança e amizade
entre a Italia fascista e a Allemanha nacional socialista, vem consagrar
a solidariedade espiritual effectiva que une os nossos povos, desejo
exprimir-vos com a minha saudação muito cordial, os
votos calorosos que faço por vós e pelo futuro da Allemanha.
A indissoluvel união de nossas vontades e de nossas forças
constitue a base maios solida da paz e do futuro das duas nações
alliadas, unidas uma à outra pelas esperanças do futuro
e pela solidez das promessas de fidelidade hoje formuladas".
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Communicado
do ministerio das relações exteriores do Japão |
TOKIO, 22 - Uma declaração publicada hoje pelo
ministerio das Relações Exteriores, relativamente à
assignatura da alliança militar italo-germanica diz:
"O ponto principal da politica externa do Japão funda-se
no pacto anti-Komintern, que visa exterminar o communismo.
Nossa politica immutavel consiste em uma estreita collaboração
com o espirito do accordo italo-germanico.
A conclusão desse accordo representa um grande passo para a
execução da politica do 'eixo'."
Contribuirá isso de fórma ampla para o estabelecimento
da paz mundial, pelo que apresentamos às duas potencias as
nossas maios sinceras felicitações".
Festejando a assignatura do pacto de Berlim, desfilaram hoje pelas
ruas da capital, 35.000 estudantes das escolas secundarias, armados
de fuzil.
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