JOHNSON: EUA TENTARÃO SEMPRE EVITAR A GUERRA
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Publicado
na Folha de S.Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 1965
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Neste texto foi mantida a grafia original
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SAIGON E WASHINGTON, 22 - "Os Estados Unidos tentarão
sempre evitar a guerra, mas também estão dispostos a
fazer frente a qualquer conflito, se for necessario" - afirmou
o presidente Johnson. E mais: "Cumpriremos nossos compromissos
e respeitaremos nossos tratados. Nós nos associaremos à
defesa da liberdade do mundo, considerando que será necessario
muito esforço para proteger nossa liberdade. Ao mesmo tempo
faremos tudo quanto pudermos para manter nosso poderio no aspecto
militar".
Essas palavras foram dirigidas a um grupo de jornalistas estrangeiros
que visitam o pais, no intervalo das consultas que o presidente continuou
a fazer, sobre o problema do Vietnã.
Durante uma reunião patrocinada pela Legião Norte-Americana,
o secretario de Estado Dean Rusk afirmou que "estamos (os EUA)
em uma situação critica. É uma situação
perigosa e dificil. Mas estivemos em situações identicas
em outros tempos. A nossa é uma grande nação
e não tenho duvidas quanto ao resultado final". Mais adiante
disse ainda que "o que está em jogo é a integridade
do compromisso dos EUA", referindo-se sempre ao problema do Sudeste
asiatico.
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Mobilização |
Os funcionarios da Casa Branca não acreditam que Johnson convoque
os lideres parlamentares, republicanos e democratas, para discutir
a conveniencia da convocação da reserva e da Guarda
Nacional e da mobilização de tropas.
A ultima mobilização foi decretada em 1961, pelo ex-presidente
Kennedy, quando da crise de Berlim. O lider da minoria (republicana)
na Camara, Gerald Ford, insistiu hoje em que qualquer mobilização
deverá sempre receber previa aprovação do Legislativo.
Pouco depois da 11 horas iniciou-se em Washington nova reunião
do presidente Johnson com seus assessores militares. O secretario
de Imprensa, Bill Moyers, revelou que foram discutidos com maior atenção
o trabalho da CIA e do Serviço de Informações
norte-americano do Vietnã e os problemas economicos ligados
aos planos de pacificação e reconstrução
do Vietnã do Sul.
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No
Vietnã |
Oito aviões "Phantom" da Força Aerea norte-americana
descarregaram 30 toneladas de bombas sobre quartéis vietcongs
de Don Cao, ao norte da fronteira com o Camboja, destruindo numerosos
edificios e outros três aparelhos bombardearam uma ponte de
concreto proximo à fronteira. Ontem, mais de 100 toneladas
de bombas foram lançadas. As incursões destruiram 104
edificios e avariaram mais de 50 - diz um relatorio oficial
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Prossegue
reunião na Casa Branca; Rusk acha situação critica |
WASHINGTON, 22 - O presidente Lyndon Johnson prosseguiu hoje
as consultas com o secretario de Defesa, Robert McNamara e o Estado-Maior
conjunto, sobre as "novas e graves" decisões que
terá de adotar para intensificar a participação
dos EUA na guerra do Vietnã.
O secretario de Estado, Dean Rusk, falando em reunião patrocinada
pela Legião Norte-Americana, declarou: Estamos numa situação
critica. Pouco poderei dizer de reconfortante. É uma situação
perigosa e dificil, porem já enfrentamos momentos identicos
em outras ocasiões. A nossa não é poderosa e
não tenho duvidas quanto ao resultado final. Mais adiante,
Rusk declarou: O que está em jogo é a integridade dos
compromissos dos EUA com o Vietnã do Sul. E acrescentou que
o Vietnã do Norte não demonstrou estar disposto a aceitar
a proposta de Johnson de realizar discussões sem condições
previas que permitam a criação de bases para as negociações
de paz.
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Mais
tropas |
Na Casa Branca, McNamara defende a necessidade de enviar mais tropas
ao Sudeste asiatico, o que obrigaria à convocação
da reserva e aumentar o tempo de serviço militar obrigatorio.
Ontem foi feita entre Johnson e seus principais assessores militares
e politicos uma revisão de todos os aspectos da guerra vietnamita.
Segundo o secretario de Imprensa, Bill Moyers, foram abordados com
mais atenção os serviços da CIA (Agencia Central
de Inteligencia) e do Serviço de Informações,
alem dos problemas economicos ligados aos planos de pacificação
e reconstrução do Vietnã do Sul.
Moyers revelou que qualquer decisão de Johnson sobre a guerra
não será, pelo que parece, divulgada imediatamente.
Estou certo de que o presidente Johnson vai dedicar grande parte dos
proximos dias a este assunto, disse.
Acredita-se que Johnson não deseja recorrer aos lideres parlamentares
- republicanos e democratas - para discutir a convocação
da reserva e da Guarda Nacional, embora o lider republicano na Camara
dos Representantes, Gerald Ford, insista em que qualquer mobilização
da reserva deverá ser previamente aprovada pelo Legislativo.
A ultima mobilização foi decretada pelo ex-presidente
Kennedy, durante a crise de Berlim, em 1961.
Há, atualmente, mais de 71 mil soldados norte-americanos no
Vietnã do Sul e esse numero crescerá no futuro. Certas
fontes militares previram que o total talvez chegue a 180 mil homens
até o fim do ano.
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Homenagem |
Johnson rendeu hoje uma homenagem publica aos esforços realizados
pelo primeiro-ministro britanico, Harold Wilson para promover uma
solução negociada do problema vietnamita.
A declaração de Johnson foi feita durante uma cerimonia
na Casa Branca, quando o embaixador da Grã-Bretanha nos EUA
fez entrega ao presidente norte-americano de um exemplar especial
consagrado à Carta Magna, publicado este ano em Londres, por
ocasião do 750º aniversario da assinatura deste documento
historico.
Terminada a cerimonia, Johnson prosseguiu nas reuniões com
McNamara e com os membros do Estado-Maior conjunto sobre o problema
do Vietnã.
Estas consultas prosseguirão hoje com uma segunda conferencia
de alto nivel, analoga à realizada ontem na Casa Branca.
A conferencia de hoje será ainda mais ampla que a de ontem.
Dela participarão tambem os secretarios da Marinha do Exercito
e da Aeronautica e varios representantes de entidades privadas encarregadas
de aconselhar a Administração em politica exterior.
Um porta-voz da Casa Branca, por outro lado, declarou que não
se pode saber exatamente quantos dias durarão ainda estas deliberações.
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Tentativas
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O primeiro-ministro, Harold Wilson, não abandonou as tentativas
de negociar a paz no Vietnã e projeta, ao que parece, enviar
no momento oportuno, um conselho qualificador, Malcolm, MacDonald,
alto-comissario em Quenia, ao Extremo Oriente - declarou esta amanhã
o "Daily Mail".
O jornal põe em relevo o fato de que Malcolm MacDonald, alto-comissario
no Sudeste asiatico durante longos anos depois da guerra, é
um perito em problemas dessa região. Sua viagem ao Vietnã
não se realizará, entretanto, antes que se conheçam
os resultados da missão que Kwei Armah, alto-comissario de
Gana em Londres, leva a efeito, atualmente, como representante do
presidente N'Krumah.
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Cai
avião dos EUA |
Um avião de caça "F-104", dos Estados Unidos,
caiu ao solo esta manhã, em consequencia de avarias mecanicas,
no Aeroporto de Chu Lai, 510 quilometros ao Norte de Saigon. O piloto
morreu no acidente.
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Desenvolvimento
da Luta |
Os guerrilheiros do Vietcong fustigaram pela 4ª noite consecutiva
as posições norte-americanas na base aerea de Bien Hoa,
somente algumas horas depois que bombardeiros dos EUA atacassem, pela
terceira vez, uma zona vizinha que é reduto dos vietcongs.
O reduto do Vietcong na zona "D", a 45 quilometros ao Norte
de Saigon, foi alvo de varias operações de tropas norte-americanas,
sul-vietnamitas e australianas, com base em Bien Hoa, durante o ultimo
mês.
Cerca de 25 a 30 aviões a jato de oito motores pertencentes
ao Comando Aereo Estrangeiro voaram 3.500 quilometros desde sua base,
em Guam e deixaram cair cerca de 500 toneladas de bombas na zona,
disse um porta-voz militar norte-americano. Os resultados do ataque
não puderam ser aquilatados imediatamente. Este foi o terceiro
ataque dos "B-52" ao Vietnã do Sul e o terceiro contra
a zona "D". As incursões aereas começaram
em meados de junho.
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Baixas
dos EUA |
307 aviões norte-americanos perdidos, 46 dos quais eram bombardeiros
a jato "B-57", e um total de 1.023 norte-americanos mortos
ou feridos, foram as baixas sofridas pelos Estados Unidos, no ataque
de Bien Hoa, em maio ultimo - anunciou hoje agencia norte-vietnamita
de imprensa. Segundo a mesma agencia, durante os seis primeiros meses
deste ano, o Exercito de Libertação Nacional efetuou
dez ataques contra as bases aereas norte-americanas.
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Perto
da China |
Três aviões da Força Aerea dos Estados Unidos
bombardearam hoje uma ponte no Vietnã do Norte, a menos de
67 quilometros - cinco minutos de voo - do territorio da China Popular,
na incursão mais proxima da aviação norte-americana
ao territorio chinês, em toda a guerra do Vietnã.
Pequim protestou imediatamente, assinalado que os EUA estavam levando
a guerra às suas fronteiras.
Os "F-104", aparelhos supersonicos dos EUA, destruiram uma
ponte rodoviaria e voltaram normalmente à sua base, apesar
do violento fogo das baterias antiaereas do Vietcong.
Desde que começaram os ataques ao Vietnã do Norte, os
pilotos dos EUA abstiveram-se de violar o espaço aereo da China
Popular, demonstrando muita cautela nos voos.
Os aviões bombardearam tambem um patio ferroviario, protegido
por baterias antiaereas na região de Yen Bay.
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Laos
quer nova Genebra |
O primeiro-ministro neutralista do Laos, principe Souvanna Phouma,
propôs seja convocada novamente a conferencia de Genebra que
em 1954 concertou a cessação de hostilidades na Indochina.
Fontes diplomaticas manifestaram que o governante do Laos, que está
em Londres em visita informal, discutiu a situação da
Asia Sul-Oriental com o primeiro-ministro britanico e com o ministro
de Relações Exteriores, Michael Stewart, após
havê-lo feito em Paris, com altos funcionarios do governo francês.
A Grã-Bretanha preside com a União Sovietica a conferencia
de Genebra e circulos diplomaticos disseram que o governo britanico
está disposto a apoiar a proposta do primeiro-ministro laociano,
até agora, os sovieticos rejeitaram todas as gestões
dos britanicos por reiniciar as consultas em Genebra.
Se fosse possivel concertar-se uma conferencia sobre o Laos, tal reunião
- segundo se sugeriu em Londres - traria à mesa da conferencia
os principais protagonistas do atual conflito da Asia Sul-Oriental,
os Estados Unidos e a China Popular.
As perspectivas de exito nessa gestão são quase nulas,
à luz da quase certa negativa sovietica em cooperar, e da determinação
da China de evitar toda consulta de paz com os norte-americanos.
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