CONFLITOS RACIAIS NA AFRICA; DEZENAS DE MORTOS E FERIDOS
Publicado na Folha de S.Paulo, terça-feira, 22 de março de 1960
Neste texto foi mantida a grafia original
VEREENIGING, União Sul-Africana, 21 - 66 pessoas pelo menos morreram e 237 ficaram feridas em diversas povoações sul-africanas, quando a policia abriu fogo contra os manifestantes africanos que gritavam "morte aos brancos". As manifestações, que se propunham ser pacificas, eram dirigidas contra uma lei que obriga os africanos a levar sempre um passe de identidade. Os brancos não necessitam desses passes.
Em Sharpville, localidade vizinha a Vereeniging, a policia disparou 6 fuzis-metralhadoras contra 20 mil manifestantes, deixando pelo menos 54 mortos e 19 feridos.
Em Langa, distrito negro da Cidade do Cabo, a policia tambem disparou contra os manifestantes, que haviam incendiado uma biblioteca, uma repartição de imposto e duas escolas. Segundo informações extra-oficiais, pereceram 12 pessoas e 46 ficaram feridas.
Os incidentes apontados como os mais graves, até aqui, produziram-se na pequena cidade de Verreniging (Transvaal do Centro), habitada em sua quase exclusividade por negros. Os manifestantes, pertencentes ao Congresso Pan-Americano - movimento que organizou a campanha contra a lei do salvo-conduto -, levaram a efeito, ali, uma marcha contra o posto policial. Os policiais tentaram, a principio, reprimir a manifestação com tiros para o ar e gases lacrimogeneos. Em seguida, como fossem apedrejados pelos manifestantes, abriram fogo. Um onibus foi derrubado pelos manifestantes, e seus ocupantes, maltratados.
Pouco depois chegavam reforços policiais e os policiais atacados foram protegidos, iniciando-se, então, varias operações de "limpeza". Houve reação armada e veiculos blindados entraram em ação, alem de aviões a jato "Sabre" que "picavam" para amedrontar os manifestantes.
A campanha visa, tambem, alem do protesto contra as restrições às viagens dos negros, obter a criação de sindicatos livres para estes, a instauração de direitos civicos, em especial eleitorais, iguais para todos e, ainda, aumento de salarios.
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