DE GAULLE RENUNCIOU À PRESIDÊNCIA
DA FRANÇA
Os partidos se reunem para estudar a situação
- o ex-presidente deixará Paris para evitar distúrbios
- A Assembléia Constituinte será convocada, amanhã,
para escolher o novo presidente
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Publicado
na Folha da Noite, segunda-feira, 21 de janeiro de 1946
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Neste texto foi mantida a grafia original
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PARIS, 20 - O General Charles De Gaulle renunciou oficialmente
ao pôsto de Chefe do Govêrno francês.
A renúncia teve lugar às primeiras horas da noite de
hoje.
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Irrevogável
a decisão |
PARIS, 20 - URGENTE - A "United Press" soube de fonte
muito chegada ao General De Gaulle que a decisão dêste
em renunciar é "irrevogável".
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O
novo presidente será escolhido amanhã |
PARIS, 20 - o Sr. Gaston Paievski, chefe do Gabinete anunciou
que o General Presidente da Assembléia, Sr. Gouin.
Afirma-se que De Gaulle decidiu renunciar em face da impossibilidade
de criar um novo exército se fôr mantida a redução
de 25 por cento no orçamento francês.
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Provaveis
motivos da renúncia |
PARIS, 20 - O General Charles De Gaulle renunciou ao cargo
de Presidente provisório da França. Espera-se que o
General De Gaulle dirija ainda hoje ou amanhã uma mensagem
à Assembléia Constituinte Francesa.
As últimas horas da noite de hoje, o M.R.P. foi convocado urgentemente,
no Qual D'Orsay, encontrando-se entre os presentes Ministro do Exterior,
Sr. Bidault, e os Srs. Michellot, Gay e Teitgen. Pouco antes, o ministério
francês reunira-se repentinamente na residência oficial
do General De Gaulle, ali permanecendo a portas fechadas durante várias
horas. Logo após, o General De Gaulle partiu de automóvel,
deixando os membros de seu Gabinete ainda reunidos. Durante 45 minutos
o ministério debateu as mais importantes questões concluindo
a reunião sem divulgar qualquer informação sôbre
os problemas tratados.
Interrogado pelos jornalistas, o Sr. André Malraux, Ministro
das Informações, limitou-se a dizer: "Não
foram abordados assuntos políticos".
Admite-se a possibilidade de ser retardado o comunicado oficial sôbre
a renúncia do General Charles De Gaulle, pois o chefe do Govêrno
provisório francês poderá modificar ainda sua
atitude.
Considera-se nesta capital que a greve dos açougueiros e dos
padeiros, assim como a hostilidade contra o General De Gaulle dentro
da Assembléia Constituinte tenham sido os principais motivos
que o levaram a renunciar à Presidência da República.
Também são dados como prováveis motivos os crescentes
movimentos dos deputados comunistas e socialistas para a redação
da Constituição incluindo medidas econômicas opostas
a De Gaulle.
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Deixará
Paris hoje |
PARIS, 20 - O General Charles De Gaulle deixará Paris
amanhã pela manhã, ou à tarde - afirmam os círculos
competentes desta Capital -a fim de evitar qualquer distúrbio
de caráter político.
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Consultas
entre os partidos |
PARIS, 20 - Começaram as consultas entre os partidos
franceses que formam o Govêrno, a fim de cuidar das diretrizes
a adotar em face da renúncia do General De Gaulle. A delegação
socialista chefiada pelo Sr. Daniel Mayer conferenciou durante mais
de uma hora com três delegados do Partido Comunista, chefiados
pelo Sr. Maurice Thorez, na sede do último partido. Não
foi divulgada nenhuma declaração a respeito.
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Conferência
entre o M.R.P. e os Comunistas |
PARIS, 20 - Anuncia-se nessa Capital que o Movimento Republicano
Popular realizará uma conferência com os líderes
do Partido Comunistas, às primeiras horas da manhã.
O Conselho Executivo do Movimento Republicano Popular, em reunião
realisada esta noite não tomou qualquer decisão quanto
à atitude que o Parlamento deverá tomar em relação
à renúncia do General De Gaulle. Nessas condições
haverá nova reunião amanhã. Os Partidos Comunistas
e Socialistas já se renunciaram esta noite, devendo reunir-se
novamente amanhã.
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"A França precisa de um "Trust" de cérebro" |
PARIS, 20 - O jornal "Le Populaire" publica hoje
um artigo do Sr. Leon Blunm, no qual êsse velho político
francês afirma que a "França" precisa de um
"trust" de cérebros para resolver seus problemas.
"Os esforços do General De Gaulle a êste respeito
não foram satisfatórios".
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