AS MULHERES QUE OS REIS E OS PRINCIPES AMARAM


Apesar do seu orgulhoso "Sangue Azul", suas majestades e altezas curvam-se, humilhados, ante os irresistiveis encantos das plebéas...

Publicado na Folha da Manhã, domingo, 21 de janeiro de 1934

Neste texto foi mantida a grafia original

Quantas vezes, deslumbrados pela resplandecente formosura de uma mulher, temos exclamado, resumindo uma enthusiastica admiração:
- É uma mulher digna de um rei!
Todo mundo admitte que nos contos de fada os monarchas se casem com mulheres authenticamente formosas. Mas na vida real, os reis e os principes vivem fugindo das mulheres bonitas. Porque, quando elles se apaixonam por algumas, não podem casar-se com ella. Seria um escandalo que o mundo inteiro commentaria maliciosamente...
O principe deste seculo tem sido prodigo em aventuras regias, de escandalosas publicidades. Ultimamente essas aventuras têm diminuido, não por falta de mulheres formosas, mas apenas porque os reis vão escasseando. O certo é que essas novellas com personagens de sangue azul só acontecem nas operetas cinematographicas. Mas ha alguns annos atrás...
Passemos em revista alguns casos typicos.
Um dos monarchas que pareceram esforçar-se para ganhar o campeonato de escandalos publicos foi Leopoldo da Belgica, cujas barbas patriarchas foram acariciadas por centenas de artistas de "music-hall".
O rei Leopoldo, tão austero na Belgica, transformava-se completamente, mal pisava os "boulevards" de Paris. Sua Majestade gostava, principalmente, de mulheres de theatro e, ainda na idade em que se costuma dormir cedo, elle já praticava aventuras sensacionaes. Foi assim que elle amou e se fez amar (presume-se, pelo menos, porque é muito difficil um rei saber se é mesmo amado por uma plebéa), se fez amar, diziamos, por centenas de sacerdotizas de Thalia, diante das "cans" respeitaveis da senhora Opinião Publica. Mas o seu "caso" mais conhecido foi Cléo de Merode, a mais famosa "estrella" daquelles tempos. Extraordinariamente bella e de linhas hellenicas, o que deu a Cléo de Merode uma fama universal foi o penteado: em dois bandós, cobrindo as orelhas e juntando-se na nuca, em estylo grego. Foi ahi que o povo, não tendo o que fazer, espalhou o boato de que a Merode não tinha orelhas. Ella soube das murmurações, mas não se importou; continuou com o seu penteado. A unica pessoa que podia esclarecer essa historia era o rei. Mas naquelles tempos não havia reporteres decididos para perguntar a Sua Majestade se a Cléo tinha ou não tinha orelhas.
O ex-kromprinz da Allemanha teve, na sua mocidade, uma paixão vulcanica por Geraldine Farrar, famosa cantora lyrica que tambem já foi estrella cinematographica até ha uns dez annos atrás.
O kromprinz declarou-se a Geraldine Farrar, numa de suas excursões à Allemanha, e a diva não se fez de rogada. Mas quando o Kaiser soube do romance que se iniciava, agiu energicamente e poz um fim à historia sentimental, principalmente porque Geraldine Farrar era solteira, honesta, pretendia casar-se e o kromprinz estava disposto ao sacrificio.
Esse idyllio frustrado, que foi largamente commentado na Allemanha, inspirou algumas operetas a Léo Fall e Franz Lehar.
Geraldine, desilludida e desesperada, annunciou seus propositos de ingressar num convento. Mas, depois, pensou melhor, e continuou aqui fóra mesmo, cantando para esquecer as maguas.
O ex-rei de Portugal, D. Manoel de Bragança, tambem tinha o seu fraco pelos rabos de saia parisienses. Aliás, sendo, além de rei, um bello rapaz, as suas aventuras deviam ser mesmo inevitaveis. E entre os seus amores, destaca-se a paixão que teve por Gaby Deslys, uma artista parisiense de café-concerto, muito loura e muito bonita, e com a qual Sua Majestade entrou para os dominios da publicidade escandalosa.
Quando D. Manoel conheceu a Gaby, esta já não era criança; passava dos trinta annos, gosava da fama de ser, como artista, uma calamidade. Graças, porém, a esse amor, ella não tardou em ser elevada a "estrella" de primeira grandeza e ganhar uma fama universal. Ambos se amaram verdadeiramente e morreram quasi ao mesmo tempo, com differença apenas de dias.
O rei Carol, da Rumania, é, dos actuaes monarchas, o unico que, devido a suas aventuras amorosas, tem provocado verdadeiros conflictos domesticos e politicos. A rainha tem demonstrado uma paciencia infinita ante as infidelidades do esposo que tem batido um verdadeiro recorde de aventuras don-juanescas.
Digamos, desde já, que a amada desse rei romantico e estouvado não é nenhuma artista - como, de habito, tem sido - mas uma dama, a muito conhecida senhora Lupescu. Por causa dessa musa, o rei Carol tem feito coisas do arco da velha, pois desde os seus tempos de principe elle ama essa mulher; renunciou aos seus direitos de herdeiro do throno, tornou a voltar, tornou a fugir... mas agora parece estar socegado.
A senhora Lupescu, causadora indirecta de tantas crises politicas na Rumania, não é nenhuma garota moderna, espevitada e magra. É já uma senhora, muito bonita de rosto e de corpo - para aquelles que amam os corpos grandes e fortes, à moda antiga.
Do principe herdeiro da Italia tambem se falou muito ultimamente, a proposito dos seus amores com Jeanette Mac Donald, a famosa estrella da Paramount.
Os jornaes chegaram mesmo a noticiar um attentado de que teria sido victima a estrella de "Alvorada do Amor", affirmando-se que ella fôra baleada quando, em automovel, se dirigia para a Suissa.
E algumas revistas cinematographicas de Hollywood affirmaram, com muita seriedade, que a princeza Maria José havia desafiado Jeanette para um duello.
Que o principe amasse a artista e que a Côrte tratasse de pôr um fim nesses amores a gente póde acreditar. Mas, que a princeza Maria José tivesse desafiado a Mac Donald para um duello... Francamente: só mesmo em Hollywood!
Isso tudo demonstra que os reis, apesar do sangue azul, são fracos, como qualquer de nós, ante os poderosos encantos femininos...

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