PAT HEARST É PRESA EM S. FRANCISCO
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Publicado
na Folha de S.Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 1975
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O Departamento Federal de Investigações (FBI), dos EUA,
prendeu, ontem, em San Francisco, Pat Hearst, a filha do magnata da
imprensa norte-americana Wiliam Randolph Hearst, depois de quase dois
anos de intensas buscas.
A detenção
de Patricia Hearst ocorreu algumas horas depois que o FBI prendera,
numa rua central da cidade, Wiliam e Emily Harris, membros do Exército
Simbionês de Libertação (ESL), organização
terrorista da qual a jovem, de 21 anos, faz parte.
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FBI
captura "Pat" Hearst na California |
SAN FRANCISCO - Depois de uma dramática busca, que durou
quase dois anos, o Departamento de Investigações (FBI),
anunciou ontem a captura de Patricia Hearst, sequestrada em fevereiro
do ano passado pelo Exército Simbionês de Libertação
(ESL), organização extremista da qual se tornou militante.
A jovem, filha do magnata da imprensa William Randolph Hearst, foi
detida pouco depois que outros dois membros de ESL, William e Emily
Harris, haviam sido presos por agentes do FBI, no bairro de Mission,
em San Francisco.
Em
Washington, um porta-vos do FBI declarou que Patricia estava sendo
interrogada por agentes federais, antes de ser acusada formalmente.
Uma das denúncias que pesam sobre ela é a de participar
de um assalto a mão armada a um banco de San Francisco, apenas
dois meses depois de seu sequestro. A sequência do roubo foi
fotografada por uma câmara do dispositivo de segurança
da agencia bancária, o que tornou possivel à policia
identificar a jovem herdeira dos Hearst.
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De
filha de magnata a extremista |
A quatro de fevereiro do ano passado, Patricia Hearst encontrava-se
em seu luxuoso apartamento de Berkeley, na California, em companhia
de seu noivo, Steve Weed, quando foi sequestrada. Os seus gritos atrairam
os vizinhos, que logo foram imobilizados por dois homens, enquanto
um terceiro, um negro, tratava de levar a filha do magnata da imprensa
norte-americana para um conversivel branco, que partiu em disparada.
Patricia
Hearst, havia sido raptada por integrantes do Exército Simbionês
de Libertação (ESL), uma organização
extremista que "luta para salvar o povo que sofre". Os
sequestradores exigiram 400 milhões de dólares de
resgate, além de imporem à familia Hearst a condição
de que deveria distribuir alimentos aos pobres e aos desempregados
de toda a California, para ter sua filha de volta.
O magnata
William Randolph Hearst Junior depositou em banco 250 mil dólares,
como prêmio para quem revelasse o paradeiro de sua filha.
A soma de dinheiro para a recompensa, subiu no final do ano para
2,5 milhões de dólares, quase o montante exigido resgate.
Nessa época, porém, o prêmio não era
mais para quem desse informações sobre Pat Hearst,
mas de uma jovem de 21 anos, procurada por 18 delitos: Pat havia
convertido-se ao terrorismo integrando o Exército Simbionês
de Libertação. Um mês após o sequestro,
a jovem enviará uma fita gravada ao pai, afirmando que ele
não havia feito o possível para libertá-la,
apesar do programam elaborado pelos Hearst para a distribuição
de alimentos. E dois meses depois, em outra fita, Pat afirmava que
decidia "ficar com o ELS e continuar a lutar".
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Crimes |
A familia, incrédula, não podia admitir que a jovem,
dedicada estudante de História de Arte, havia renunciado à
companhia do noivo e à fabulosa herança dos Hearst.
Alguns
dias depois, o Departamento Federal de Investigações
(FBI) procurava Pat já acusada pelo roubo de 10 mil dólares
num banco de San Francisco, junto com outros quatro terroristas,
deixando um saldo de dois feridos. Todavia, os próprios agentes
policiais acreditavam que Pat havia participado do assalto sob imposição
dos guerrilheiros, opinião compartilhada pela familia.
As
provas, entretanto, confirmaram a participação espontânea
da jovem, reiterada, posteriormente, por ela mesma, que qualificou
seu pai e seu noivo de "palhaços". Seu nome, agora,
era Tânia.
Em
maio, numa busca de integrantes do ESL, trezentos policiais cercaram
uma residência no sul de Los Angeles, matando seus guerrilheiros
durante um tiroteio. Mas, Tânia não estava entre os
cadáveres.
Nessa
ocasião, já pensavam sobre a jovem diversas acusações;
assalto, roubo de automóveis, posse de armas de guerra e
o sequestro de um estudante de 18 anos, delitos passiveis de prisão
perpétua. Patricia Hearst passou a ser a pessoa mais procurada
dos Estados Unidos, exigindo a mobilização de milhares
de agentes policiais e do FBI, na maioria das vezes, em pistas falsas.
Patricia
também não atendeu aos apelos de suas irmãs
para que voltasse à casa e começou a ser comentada
em toda a imprensa internacional, por seu inusitado comportamento,
sendo citada como a mulher de várias caras, numa alusão
à supostas operações plásticas que teria
feito no rosto. Interessaram-se também em filmar a sua vida.
A jovem,
sempre em fitas gravadas e enviadas para emissoras de rádio
e para a familia Hearst, dizia que havia "renascido" no
dia quatro de fevereiro e que não tinha "medo de morrer".
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Paradeiro |
A partir de julho do ano passado, Tânia começou a ser
procurada em todo o mundo, até o FBI chegar a capturá-la,
em San Francisco. Informações de testemunhas que diziam
te-la visto chegavam de todas as partes do mundo, inclusive do Rio
de Janeiro. Ao mesmo tempo, porém, ela se encontrava nos EUA,
no Canadá, na América Latina e na Ásia.
Com
isso, Patricia Hearst acionou as principais organizações
policias do mundo: desde o FBI até a Sureté (francesa),
a Scotland Yard (inglesa) e a Interpol.
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