O IRÃ AMEAÇA JULGAR REFÉNS
Espiões,
não diplomatas, diz Khomeini
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Publicado
na Folha de S.Paulo, segunda-feira, 19 de novembro de 1979
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A tensão entre Teerã e Washington, ao invés de
decrescer no domingo com um anúncio de libertação
de alguns dos 70 reféns detidos por militares muçulmanos
desde o dia 4 na embaixada dos EUA, subiu alguns pontos a mais, com
novas ameaças do aliatolá Khomeini e a enorme confusão
em torno da prometida libertação de uma mulher e dois
sargentos negros.
O aiatolá Khomeini permanece inflexível: a entrega do
ex-xá Reza Pahlevi, que pode deixar hoje Nova York com destino
ao México, é a condição essencial pára
qualquer acordo. Sem a extradição do ex-sá, para
que ele seja julgado no Irã, "nada a conversar",
repete Khomeini para sublinhar que seu gesto de ordenar a libertação
de alguns reféns está longe de significar qualquer amolecimento
em sua posição.
Em entrevista à televisão norte-americana, o aiatolá
Khomeini fez uma nova ameaça em relação aos reféns:
"Poderíamos julgá-los como espiões."
E assim explicitou sua lógica: "Supõe-se que os
diplomatas em qualquer país exerçam trabalho diplomático,
mas que não cometam os crimes de espionagem. Os que se tornam
espiões deixam de ser diplomatas." Ontem, três reféns
que estão para serem soltos - Kathy Gross e os sargentos negros
Sadie Maples e William Quarles - puderam falar com jornalistas. A
mulher, Kathy, que serviu de porta-voz do grupo, admitiu que está
sendo bem tratada e alimentada mas disse que há reféns
com problemas nervosos.
Em Washington, o encarregado de negócios da embaixada do Irá
nos EUA. Ali Agah, afirmou que o aiatolá Khomeini "é
o líder mais popular do mundo" e recomendou aos americanos,
irritados com os reféns em mãos de militantes muçulmanos,
que evitem hostilizar os iranianos "pois pode haver reação".
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Petróleo
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Enquanto o Kuait criticava o governo Carter por ter congelado os depósitos
bancários iranianos, o ministro de Petróleo do Quatar
anunciou, em Doha, que não pode haver dúvidas quanto
à necessidade da Organização dos Países
Produtores de Petróleo de aumentar o preço do óleo
na próxima conferência que se realizará em Caracas.
O xeque Abdul-Azis Bin Khalifa Al-Thani negou-se a predizer a porcentagem
do aumento.
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Irã
faz nova ameaça e endurece posição |
TEERÃ - O secretário do Conselho Revolucionário
islâmico que governa o Irã aiatolá Mohammed Beheshi,
advertiu ontem o governo norte-americano de que "se não
mudar sua atitude hostil" para com Teerã seu pais será
forçado a "romper todos os laços econômicos
e diplomáticos com os Estados Unidos".
Em entrevista concedida ontem à imprensa, Behesht declarou
que o Conselho Revolucionário já havia adotado uma política
definitiva a respeito das relações exteriores em geral
e com os Estados Unidos em particular.
"Foi discutido amplamente um rompimento de relações
com os Estados Unidos. Mas qualquer decisão só será
anunciada mais tarde", disse o aiatolá acrescentando que
"a sorte do deposto xá terá um importante papel
no futuro das relações entre Teerã e Washington."
Behesht, por outro lado, desmentiu a declaração do ministro
da Economia e chanceler interino, Abol Hassan Bani Sadr, de que o
Irã havia se recusado a receber em dólar as exportações
de petróleo. Essa informação havia sido dada
por Sadr, na sexta-feira, desmentida no mesmo dia pelo ministro do
Petróleo, Ali Akbar Mointar, e reiterada pelo chanceler no
dia seguinte.
O aiatolá sublinhou que a política externa iraniana
baseia-se no repúdio a toda dominação estrangeira
e na defesa da integridade nacional. Quanto à responsabilidade
sobre o aumento nos preços do petróleo, que pode pôr
em perigo a economia dos países em via de desenvolvimento,
Beheshi afirmou que ela cabe aos Estados Unidos e outras super-potências.
E exemplificou, citando o Brasil: "Se o Irã e um país
como o Brasil pudessem ter relações sem interferência
das super-potências, os problemas deste gênero não
existiriam".
Por outro lado, o jornal "Al Watan", do Kuait, informou
ontem que aproximadamente 40 navios de guerra iranianos foram enviados
para o Golfo Pérsico e oceano Índico depois que a Marinha
norte-americana iniciou manobras navais na área. Acrescentou
o diário que Teerã avisara com antecedência os
países do Golfo sobre suas atividades navais.
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