ATENTADO ANTI-SEMITA MATA 17 NA ARGENTINA
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Publicado
na Folha de S.Paulo, terça-feira, 19 de julho de 1994
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A explosão de uma bomba na sede da Associação
Mutual Israelita Argentina, principal organização judaica
do país, matou pelo menos 17 pessoas.
O prédio, no centro de Buenos Aires, foi destruído.
O desconhecido "Comando Islâmico" reivindicou o atentado.
O presidente Carlos Menem ordenou o fechamento das fronteiras. Todos
os vôos para fora da Argentina foram suspensos. Menem disse
acreditar em ação externa. O governo de Israel disse
que vai se empenhar em encontrar os autores.
Em São Paulo, a Secretaria de Segurança Pública
decidiu reforçar o policiamento em 15 entidades judaicas.
O governo brasileiro lamentou em nota o atentado -o maior na Argentina
desde o que matou 29 pessoas na embaixada de Israel em 92.
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Editorial |
Terror na Argentina
Quando
se trata de matar ou mutilar seus semelhantes, a torpe imaginação
do ser humano não encontra limites. E o terrorismo, de qualquer
tipo que seja, vem atacando o mundo em surtos com diversos graus
de gravidade, particularmente desde o final do século 18.
Esse tipo de ato insano e desesperado, que despreza o direito e
escraviza o homem, acaba de repetir-se, e desta vez -mais uma vez-
na Argentina, um país vizinho do Brasil, o que funciona como
que um alerta para o fato de que nenhuma nação está
longe o suficiente do tresloucado teatro de operações
em que atuam os grupos terroristas internacionais.
O sangrento atentado à sede de duas instituições
judaicas argentinas que causou dezenas de vítimas, em pleno
centro de Buenos Aires, não pode, é óbvio,
ser analisado independentemente do processo de pacificação
por que passa todo o Oriente Médio, que se tornou possível
depois do fim da Guerra Fria.
Não há como ignorar os compreensíveis porém
superáveis obstáculos ao pleno entendimento entre
judeus e árabes, mas há que se repudiar, e com veemência,
a intolerância doentia com que radicais de ambos os lados
trabalham para sabotar esse processo. É como se esses homicidas
reincidentes que se odeiam tivessem feito uma sinistra aliança
contra a paz. Ontem foi o massacre de Hebron; hoje, a chacina de
Buenos Aires. Tudo isso para alimentar o ódio irracional
e o espírito de vingança.
Mas um atentado como esse poderia ter ocorrido em qualquer lugar
do mundo. Por que Buenos Aires, que já foi palco, dois anos
atrás, de um ataque à embaixada israelense? Em primeiro
lugar, a Argentina possui a maior comunidade judaica da América
do Sul. Essa é uma razão poderosa. Uma outra é
o fato de que, desde o governo Perón, sucessivos regimes
autoritários deram abrigo e permitiram que grupos anti-semitas
ali se instalassem e agissem, facilitando hoje a execução
desse tipo de operação.
De qualquer forma, é deplorável constatar, mais uma
vez, que pessoas inocentes podem ser assassinadas, sem chance de
defesa, em qualquer instante e em qualquer lugar, pela simples ação
de homicidas ensandecidos animados por idéias absurdas que
há muito já deveriam ter sido banidas. Resta saber
até quando esses grupos vão continuar desafiando a
razão e lutando pela guerra contra a paz.
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Bomba
mata 17 em sede judaica na Argentina |
A explosão de uma bomba no prédio da principal organização
judaica da Argentina matou pelo menos 17 pessoas e pode ter deixado
mais de uma centena de feridos. O chanceler argentino, Guido di Tella,
falou em 22 mortos.
O prédio, localizado no bairro Once no centro de Buenos Aires,
foi totalmente destruído. O atentado ocorreu às 9h55.
O edifício abrigava os escritórios da Amia (Associação
Mutual Israelita Argentina), e da Daia (Delegação de
Associações Israelitas Argentinas).
Cerca de 500 pessoas envolvidas na operação de resgate
tentavam ontem à tarde retirar sobreviventes de baixo dos escombros
e do porão do prédio.
De acordo com policiais e médicos, o número de mortos
pode ser ainda maior.
As primeiras investigações indicam que a explosão
foi causada por um carro-bomba.
O abalo danificou prédios vizinhos e veículos próximos
do local do acidente. Segundo a Rádio Mitre, de Buenos Aires,
um suposto Comando Islâmico assumiu a autoria do atentado.
A polícia deteve ontem no aeroporto internacional de Buenos
Aires (Ezeiza) dois estrangeiros, um iraniano e uma alemã,
suspeitos de envolvimento no atentado.
Segundo as autoridades, não há provas contra os dois
e eles não foram indiciados, mas apenas colocados à
disposição da polícia.
Uma outra bomba, colocada a dois quarteirões da Amia, foi desativada
no início da tarde pela polícia argentina.
Além disso, uma hora depois da explosão um alarme falso
de bomba no edifício do Ministério da Justiça
provocou sua desocupação.
O presidente argentino, Carlos Menem, disse que a ação
foi praticada por "profissionais vindos do exterior". O
governo decretou três dias de luto oficial.
Para o ministro da Defesa, Oscar Camillón, "não
existe dúvida de que alguma mão externa esteja envolvida
no atentado".
Menem ordenou o fechamento das fronteiras do país. Uma reunião
ministerial de emergência foi convocada ontem. O governo decidiu
estabelecer uma comissão especial para investigar o atentado.
Em março de 1992, outro atentado, à embaixada de Israel
em Buenos Aires, matou 29 pessoas e deixou outras 250 feridas.
O presidente da Daia, Rubem Beraja, disse que a entidade recebeu há
dois meses ameaça de atentado pelo telefone.
Mais de cem pessoas trabalhavam no edifício. A Amia, fundada
há mais de cem anos, é a principal entidade judaica
na Argentina.
Tem 25 mil sócios e se dedica a atividades assistenciais, culturais
e educativas. A Daia, por sua vez, atua como porta-voz da comunidade
judaica junto ao governo.
O bairro de Once, local do atentado, é um reduto tradicional
de judeus em Buenos Aires. Segundo as estimativas, há mais
de 400 mil judeus na Argentina, a maioria vivendo na capital.
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