DECIDIDOS OS ESTADOS UNIDOS A APOIAR A UNIFICAÇÃO DA EUROPA

O secretario Acheson declara que as resoluções de Estrasburgo abrem para o Velho Continente um futuro de liberdade, força e prosperidade

Atitude Britanica em face da comunidade Européia

Publicado na Folha de S.Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 1952

Neste texto foi mantida a grafia original

WASHINGTON, 17 - O secretario de Estado, Dean Acheson, externou sua satisfação diante dos recentes desenvolvimentos registrados no caminho da unidade européia e reiterou a determinação dos Estados Unidos de auxiliarem por todos os meios, os esforços tendentes à qualificação da Europa Ocidental. Fez esses comentarios numa declaração preparada previamente que tornou publica, no decorrer de sua entrevista à imprensa, hoje, e cujo texto é o seguinte:
"Durante os ultimos oito dias, assistimos a dois acontecimentos estreitamente interdependentes, que são de grande sentido e auguram para o futuro numa Europa livre. O primeiro é a inauguração da Assembléia da Comunidade Européia do Carvão e do Aço. O segundo é a decisão tomada, por essa Assembléia, de estudar imediatamente a formação de uma Autoridade Politica Européia.
"Não é possível, no momento atual, predizer qual será o resultado desses estudos, nem formular prognosticos sobre a natureza e a jurisdição do organismo politico que será talvez edificado. O ponto importante é que essa decisão demonstra, de maneira talvez mais convincente do que qualquer medida anterior, a força e o "elan" do movimento para a unidade européia.
"Os Estados Unidos continuarão a encorajar e apoiar os esforços desenvolvidos pelos estadistas e os povos da Europa, a fim de criar uma unidade real e duravel, porque estamos persuadidos de que tal unidade aumentará, de modo apreciavel, a força e a prosperidade de nossos amigos europeus e acelerará o exito de nossos esforços comuns para manter a paz no mundo".

Os debates em Estrasburgo

ESTRASBURGO, 17 - Antes que Spaak interviesse no debate geral, esta tarde, na Assembléia Consultiva do Conselho da Europa, P.H. Teitgen reafirmou que a Comunidade Européia não podia se desenvolver senão em estreita ligação com a Grã-Bretanha. "Trata-se de unir a Europa e não isolá-la, disse, mesmo procedendo-se por etapa e por graus". Teitgen estudou, em seguida, as modalidades da cooperação necessaria entre a Grã-Bretanha e a comunidade dos seis: legislação paralela, oferta de auxilio, auxilio mutuo, informação mutua, mas, sobretudo, tratados que permanecem ainda abertos à adesão dos paises não membros.

"Nada deve nos afastar da Grã-Bretanha" - declara Spaak

ESTRASBURGO, 17 - O sr. Spaak, presidente da Assembléia da Comunidade do Carvão e do Aço, elogiou o discurso de Eden, durante os debates desta tarde.
"Eden não somente pronunciou uma eloquente oração, declarou o estadista belga, mas fez um discurso excelente e compreensivo. Aclarou a atmosfera e estou totalmente de acordo com ele.
"Nada na construção da Comunidade Européia deve nos afastar da Grã-Bretanha" - acrescentou Spaak. "Nada deve ser feito que possa impossibilitar, ou mesmo retardar que nossos amigos britanicos se unam a nossos pontos de vista. Essa esperança, após termos ouvido nossos colegas britanicos, não é vã".
Examinando, em seguida, o Plano Eden, Spaak mostrou que, quase instintivamente, estreitando os liames com os britanicos, os paises da Comunidade começaram a pôr em ação esse plano. "Já estão estabelecidos entre a Alta Autoridade e a Grã-Bretanha laços extremamente estreitos" precisou. "Progressivamente, as bases de uma associação estreita e duravel são estabelecidas entre a Inglaterra e a Comunidade de Defesa. É evidente que o governo britanico faz o que pode para proporcionar tudo o que é possivel, nos limites de sua ação. Em particular, mantem, à disposição da Comunidade Européia de Defesa, forças consideraveis que estão estacionadas no continente europeu."
"Ademais, prosseguiu Spaak, em ligação com os Estados Unidos, a Grã-Bretanha traz sua garantia de opor-se a todo atentado à Comunidade de Defesa. De nosso lado, demos aos observadores britanicos os direitos mais amplos, em sessão, como em comissão, para participar dos debates constitucionais da Assembléia, "ad hoc". Desde já, a idéia politica lançada por Eden foi aceita e entrou em ação."
Spaak salientou, em seguida, a intenção de Gordon Walker e afirmou que as relações entre os seis paises membros da Comunidade do Carvão e do Aço são tanto intergovernamentais como supranacionais, o que foi feito para tranquilizar os britanicos.
Spaak externou preocupado por haver, constatado duas correntes perigosas na Assembléia do Conselho da Europa, a da concorrencia e a do pessimismo. Os ministros, aos quais a escolha foi proposta pela Assembléia do Conselho da Europa, encarregaram a Assembléia do "Pool" do Carvão e do Aço da missão pré-constitucional. "Não se trata de voltar a esse ponto frisou Spaak, e fazer concorrencia à Assembléia (ad hoc). Quanto à corrente pessimista, Spaak declarou-se convencido de que os temores são vãos, por parte daqueles que temem ver a Assembléia do Conselho da Europa se esvasiar de sua substancia, em favor de ad. hoc. As duas Assembléias, no mesmo local, viverão em perfeita harmonia. Voltando à intervenção, esta manhã, de Brown, Spaak considerou que "a Assembléia do Conselho da Europa deveria concentrar-se sobre os problemas economicos. O problema economico e social permanece de pé. No momento em que o problema politico parece clarificar-se, é necessario atacar alguns problemas determinados e levá-los a uma conclusão. Não é preciso chorar e lamentar sobre o que deixamos de fazer desde 1949, mas olhar corajosamente para o futuro e se ater ao problema politico imenso das relações entre os seis e a liberdade da Europa. É preciso tambem esforçar-se para resolver os problemas economicos e, então nossa obra será grande" - concluiu Spaak, em meio de calorosos aplausos.

Posição da Grã-Bretanha

ESTRASBURGO, 17 - Os delegados britanicos á Assembléia Consultiva do Conselho da Europa advertiram seis nações do continente de que a Federação para a qual fazem marchar seus paises não pode ser dirigida contra a Grã-Bretanha, ou o resto do mundo.
O sr. Patrick Gordon Walker, porta-vos do Partido Trabalhista da Inglaterra, e Lord Layton, do Partido Liberal, no entanto, elogiaram a Comunidade Européia do Carvão e do Aço, criada pela França Alemanha Ocidental, Italia, Belgica, Holanda e Luxemburgo, bem como a convenção convocada para redigir o projeto de Constituição Européia.
Gordon Walker e Layton falaram ao ter inicio o debate na Assembléia, integrada por catorze nações, sobre a proposição do ministro do Exterior da Grã-Bretanha, sr. Anthony Eden. O titular do Foreign Office britanico fez um apelo no sentido de que as nações membros do Conselho, que não venham a formar parte da Federação, vinculem-se a esta, assim como à Comunidade do Carvão e do Aço.
Cabe notar que Anthony Eden fez essa proposição, não obstante o fato de que a Grã-Bretanha não formará em parte alguma dos organismos mencionados.

Apoio da Igreja Catolica à Federação da Europa

ESTRASBURGO, 17 - Sokido apoio da Santa Sé a Federação da Europa ficou assegurado, através da uma declaração oficial de alto emissario papal, que colocou Pio XII na primeira linha dos que apoiam a união européia.
O cardeal Tisserant, lider do Sacro Colegio, anunciou a posição da Igreja Catolica Romana em discurso transmitido pelo radio.
 

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