O JAPÃO FORMULA SUAS CONDIÇÕES DE PAZ ÀS DEMOCRACIAS


Publicado na Folha da Manhã, terça-feira, 18 de novembro de 1941

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O Governo de Tóquio Reafirma que Somente com a Satisfação das Exigências Japonesas Será Evitada a Guerra

O 1º Ministro Tojo Declara que, com o Bloqueio, os EE.UU. e o Império Nipônico se Acercam do Conflito - Três Biliões de "Yens" para a Defesa

TÓQUIO, 17 - Ante galerias repletas de observadores atentos o primeiro ministro, general Tojo, e o ministro das Relações Exteriores, Shigeaori Togo, declararam, hoje, perante a Dieta, ser possivel ainda a manutenção da paz no Extremo Oriente, desde que as potências ocidentais queiram compreender o ponto de vista do Japão. Os dois estadistas explicaram, detalhadamente, a posição em que se encontra o império nipônico e deixaram bem claro que o atual período de crise poderá ser decisivo para a história futura do Oriente.
O orgão do Ministério das Relações Exteriores, o "Japan Times and Advertiser", em editorial sobre os discursos, diz:
"O Japão colocou, agora, as cartas sobre a mesa, de maneira que o próximo passo deverá ser dado pelos Estados Unidos". Acrescenta que os japoneses não veem nenhuma razão que torne impossivel uma reaproximação com os Estados Unidos, a menos que estes não desejem reconhecer a necessidade que tem o Japão, de "garantir a sua própria segurança, sobre bases honestas e dignas".
O ministro das Finanças, Oginobi Caia, que pronunciou o terceiro discurso do dia, declarou na Dieta, que, não obstante os quatro anos e meio de guerra na China, as finanças Públicas do Japão continuam sendo sólidas e possuem abundantes recursos para atender às necessidade da nação. Acrescentou contudo, que as restrições impostas pelos Estados Unidos, Inglaterra e Índias Holandesas constituem grave prejuizo e solicitou que todos cooperassem para o rápido estabelecimento da "esfera de prosperidade comum na Ásia".
Logo depois desse discurso, a Câmara Baixa aprovou a gigantesca quantia de 3.000.000.000 de "yens", para os gastos de natureza militar, e remeteu o projeto à Câmara dos Pares.
Todas as pessoas que entravam no palácio do legislativo para assistir à histórica sessão, eram revistadas, não sendo permitido conduzir mais do que um lenço. Aos presentes foi proibido tambem aplaudir.
A Câmara dos Pares, depois de ouvir os discursos dos três ministros, aprovou o programam do governo. Acredita-se que as duas Câmaras sancionarão, rapidamente, os projetos de lei apresentados, em sua maioria de ordem financeira, depois do que a Dieta será dissolvida.

As exigências nipônicas

Em seu discurso, o primeiro ministro acusou os Estados Unidos e países associados de empregarem contra o Japão a política de bloqueio econômico, atitude que está a um passo apenas da guerra armada. Afirmou, porem, que ainda poderia ser garantida a paz no Pacífico, desde que fossem satisfeitas as exigências nipônicas:
1º - Que as terceiras potências se abstenham de interferir na guerra entre a China e o Japão;
2º - que essas potências se abstenham de tornar medidas militares que ameacem o Japão, que levantem o bloqueio económico e que reatem suas relações normais com o império do Sol Nascente;
3º - que se façam os maiores esforços para impedir a propagação da guerra européia e agitação internacional ao Exterior Oriente.
O primeiro ministro não disse que medidas tomaria o Japão, porem afirmou que a paz poderá ser garantida, diplomaticamente. Declarou ser duvidoso o êxito das negociações que estavam sendo feitas em Washington "motivo pelo qual o governo se antecipa aos obstáculos que possam se interpor em seu caminho e esta terminantemente disposto a assegurar a existência do império tomando todas as medidas acauteladoras possiveis".
Em seguida disse que a nação não pode permanecer indiferente, diante da situação resultante da guerra russo-alemã e ajuntou:
"Estamos certos que serão tomadas as medidas necessárias para assegurar a ordem e a estabilidade no norte. O governo deseja expressar suas sinceras felicitações aos países amigos, particularmente à Alemanha e à Itália, pelo que fazem, e confia em que essas potências conquistarão a vitória, juntamente como o nosso império, para estabelecer uma nova ordem mundial, baseada na justiça".
O primeiro ministro afirmou que a Inglaterra e os Estados Unidos, como tambem as Índias Orientais Holandesas, depois da entrada das tropas nipônicas na Indochina, impuzeram o bloqueio económico e, simultaneamente, "aumentaram, rapidamente, suas medidas militares contra este país. Quasi não vale a pena explicar - declarou - que o bloqueio econômico, aplicado entre países não beligerantes, constitue uma medida de carater coercitivo, muito pouco aquem da guerra armada. Quaisquer que sejam as contingências internacionais a que tenhamos que fazer frente, estamos plenamente preparados para elas. É impossivel descrever com palavras a importância da situação internacional destes momentos. Este estado de coisas é tanto mais importante quanto sabermos que o império nipônico enfrenta uma situação de gravidade sem precedente. A armada imperial sente profundamente a importância de sua missão e de sua responsabilidade".
Acrescentou que, apesar de tudo, o Japão "deseja sinceramente a paz, conservando o seu desejo com perseverança e paciência, realizando os maiores esforços para encontrar soluções pacificas para as crises, através de entendimentos diplomáticos."
"Nosso propósito - continuou - infelizmente, não encontrou êxito, e o império se encontra ante grave situação, que decidirá, literalmente, o destino das futuras operações".
O ministro das Relações Exteriores sr. Togo, em seu discurso, repetiu, quasi com as mesmas palavras do chefe do governo, as suas acusações às potências ocidentais, culpando-as de fazer "malígna propaganda", para apresentar o Japão como abrigando idéias de agressão nos mares do Sul, como consequência da entrada de suas tropas na Indochina.

A situação econômica do Japão

O ministro da Fazenda, sr. Caia, ao falar, disse que, não obstante os quatro anos e meio de contínua guerra na China "as finanças do Japão continuam sendo muito sólidas e existem abundantes recursos para cobrir os gastos do Estado pois que, a potência econômica e militar do país foi grandemente aumentada."
O sr. Caia anunciou, em seguida, que os impostos serão aumentados para cobrir os gastos fiscais, que desde o inicio da guerra com a China, alcançaram a 2.148.000.000 de "yens", quantia que se aproxima do total dos gastos do país, durante os 70 anos anteriores a 1936.
Prosseguindo, disse que a cooperação econômica entre o Japão, o Mandchuquo e a China aumentou grandemente, permitindo explorar os vastos recursos do continente asiático, para a construção da "nova ordem".
Declarou, finalmente, que a inversão de novos capitais no Japão aumentou em cerca de 20 bilhões de "yens".


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