JAPÃO: FEUDALISMO E ELETRONICA


Paradoxo japonês: passado feudal com presente eletronico

Publicado na Folha de S.Paulo, quinta-feira, 18 de fevereiro de 1965

Neste texto foi mantida a grafia original

TOQUIO, fevereiro - Em uma grande loja da Ginza, principal centro de comercio e diversões de Toquio, uma dona de casa japonesa, vestindo seu quimono bege e carregando um bebê nas costas, segue obedientemente as pegadas do marido, com uma esposa que conhece seu lugar.
De repente, na confusão da loja, ela se vê arrastada para longe do marido. Fica em panico? Não. Simplesmente, enfia a mão dentro do quimono, tira um pequeno radio transmissor-receptor e fala alguma coisa, nele, Dali a pouco, o marido está caminhando em sua direção.

Vida dupla

Esse incidente simboliza a vida dupla que levam hoje muitos japoneses: metade no passado feudal e metade no presente eletronico.
Ao redor do meu hotel há numerosas casas de gueixas, onde moças passam três quartos de sua vida aprendendo a arrumar flores, servir chá, cantar canções e tocar o "samisen" apenas para distrair fregueses do sexo masculino - que nada esperam alem disso.
Ontem, três homens de Toquio foram presos por vender adolescentes como escravas para taberneiros do interior do pais a 80 mil cruzeiros cada uma.
O que há de paradoxal nessas reliquias de costumes e atitudes antigas é serem encontradas em uma terra fervilhante de progresso tecnologico.

Maravilhas

O que os japoneses são capazes de fazer com transistores é que enche de inveja seus rivais na Grã-Bretanha, Estados Unidos e Europa.
Um dos maiores fabricantes de radio e televisão no Japão acaba de anunciar seu ultimo aparelho eletronico: um gravador de fita portatil para ser ligado ao televisor. Grava e depois reproduz qualquer programa de televisão.
A mesma firma está produzindo aparelho de radio em miniatura e aparelho de televisão tão pequeno que cabem em uma sacola de viagem aerea.
No ano passado, os japoneses encheram os Estados Unidos de aparelhos. No proximo ano, pretendem fazer o mesmo com a Grã-Bretanha e o continente europeu.

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