NOVA JERSEY: MOTIM NEGRO


Negros em guerra em Nova Jersey

Publicado na Folha de S.Paulo, segunda-feira, 17 de julho der 1967

Neste texto foi mantida a grafia original

NEWARK, 17 - Depois de 4 dias de violencia em Newark, que parece uma cidade devastada pela guerra, a agitação negra estendeu-se ontem à localidade vizinha de Plainfield, que fica a 25 quilometros de distancia.
Grupos de negros mataram um policial nessa localidade, atacaram a tiros um quartel de bombeiros e saquearam varias casas comerciais. O governador do Estado de Nova Jersey, Richard Hughes, enviou imediatamente a policia estadual e elementos da Guarda Nacional.
Em Newark, que tem 400 mil habitantes, dos quais a metade é negra, a violencia começou quarta-feira passada. O motim já provocou a morte de 23 pessoas e ferimentos em cerca de 1.100, alem de prejuizos estimados em 5 milhões de dolares.

Morte e saques

O policial morto ontem em Plainfield é John Gleasan. Foi morto por um bando de negros com sua propria arma, que lhe foi tirada. Um menino negro fora ferido a bala um pouco antes, pelo que se supõe que os negros agiram por vingança.
Plainfield tem 50 mil habitantes. Desses, cerca de um terço é de raça negra. Centenas desses negros agitaram uma zona de 14 quarteirões lançando bombas incendiarias, pedras e garrafas contra a Policia. Alguns chegaram mesmo a abrir fogo contra o quartel dos bombeiros, antes que a Policia os afastasse a tiros de fuzil.

Franco atiradores

Em Newark, tropas da Policia e da Guarda Nacional, fortemente armadas, começavam uma operação visando eliminar cerca de 20 franco-atiradores negros, que continuam a disparar contra tudo que é de cor branca e se move. O governador Hughes disse que esses atiradores foram especialmente trazidos a Newark para o motim.
Com olhos avermelhados devido à falta de sono, os guardas vigiavam os poucos negros que saiam timidamente para assistir aos oficios religiosos. As igrejas catolicas e protestantes exortaram os poucos fiéis a voltarem à calma.
Portas de muitas casas comerciais estão atiradas ao solo. As vitrinas em pedaços, moveis e mil restos diferentes enchem as ruas. "A guerra passou por aqui" - diz um sargento da Guarda Nacional.
Novas tropas vieram substituir, ao entardecer, os guardas extenuados por 4 noites sem sono. Chegaram em caminhões militares, em grupos de 22, com fuzis e metralhadoras.
As autoridades policiais afirmaram que os terroristas agem como profissionais e aplicam taticas de guerrilhas ou de combates de rua, empregando armas automaticas.
Os lideres de 3 organizações pela igualdade de direitos civis pediram ao governador a retirada da Guarda Nacional, dizendo que "os verdadeiros agitadores vindos de fora são os policiais do Estado e os soldados".
O governador disse que agirá com energia tambem contra os grupos brancos que se organizam para atacar os negros. "A pior coisa que poderia acontecer neste Estado seria o surgimento de um conflito entre negros e brancos" - afirmou.

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