A VERDADEIRA ITÁLIA AO LADO DAS NAÇÕES UNIDAS


Publicado na Folha da Noite, segunda-feira, 17 de agosto de 1942

Neste texto foi mantida a grafia original

"O facismo não é Itália. A Itália é democrática e latina", declara o conde Sforza, chefe dos italianos livres, à reportagem, no Rio - "Os italianos abrirão os braços" para receber os soldados aliados, caso a segunda frente seja aberta na Itália.

A palavra do chefe dos italianos livres

RIO, 16 (Da nossa sucursal - Pelo telefone) - Durante a sua breve estada nesta capital, o conde Carlos Sforza, chefe do movimento dos italianos livres, que já se encontra em Montevidéu tomando parte destacada no Congresso que ali se realiza, concedeu a representantes da imprensa brasileira e internacional uma entrevista coletiva.
O conde Carlos Sforza, antigo ministro da Corôa de Itália, é um homem de vasta cultura e palavra facil. Acolhendo os jornalistas com amabilidade, e prontificando-se a responder a todas as perguntas que lhe foram feitas, falou, com entusiasmo, da missão que está reservada aos italianos livres na reconstituição da Itália futura, após a vitória das nações unidas.

"O Fascismo não é a Itália"

- "Os Italianos - disse s. s. - a verdadeira Itália, teem profundos interesses na vitória das nações unidas contra o nazismo e contra o fascismo. O fascismo não é a Itália. A Itália é democrática e latina. É dentro em breve, voltará a sê-lo, pela vontade e pela energia de seus filhos.
Respondendo a uma pergunta do representante do "New York Times", acrescentou:
- "Tenho longos anos de experiência política. Estou plenamente convencido de que a Rússia jamais assinará uma paz em separado com a Alemanha nazista. Stalin levará até o fim o pacto firmado solenemente e pelo qual a União Soviética juntou os seus destinos ao das nações que lutam pela liberdade e pela democracia.
O "eixo" está forçando o Japão a atacar a Rússia pelas costas. Mas se os militares nipônicos até agora não o fizeram, foi porque eles próprios não acreditam muito na vitória final das forças eixistas".

Apoio dos Italianos à causa democrática

RReferindo-se ao Congresso dos Italianos Livres, o conde Sforza acrescentou:
- "A tarefa mais importante que os italianos que vivem na América podem realizar neste momento, em beneficio da causa da Itália, é respeitar e apoiar decididamente a política dos governos em cujos países se encontrem. Desta maneira, cooperando efetivamente na luta pela democracia, que com tanto vigor se desenvolve na América, eles estarão prestando o maior serviço à sua própria pátria".

O futuro reservado à Itália

Referindo-se particularmente ao futuro reservado à Itália de após guerra adiantou:
- "Fui ministro da Corôa do Reino de Itália. O problema da estrutura do estado italiano que ressurgirá desta guerra não me preocupa particularmente, neste momento. Os destinos da Itália serão entregues aos próprios italianos. No entanto, devo dar a minha opinião pessoal a respeito. Se a monarquia cair - estou certo de que cairá - será porque não tem mais razão de ser, nem forças para resistir. A Itália ressurgirá como uma república democrática, sofrendo é claro, as influências do mundo que virá depois deste conflito em que todos nos achamos empenhados.
Neste mundo de amanhã subsistirá com nova vitalidade e sob uma nova expressão, o espírito de fraternidade entre os povos.
A América é um exemplo eloquente. Não haverá lugar, creio pela "uniões" ou "federações", mas as relações entre os povos será regulada por um espírito de conhecimento e de ajuda mútua.
E particularmente no que diz respeito à Itália, ela convalescerá mais rapidamente que outros países. Isto porque seu povo está mais habituado à pobreza e aos piores dias. É o que não ocorre, por exemplo, com os franceses, onde o nível de vida das massas era incomparavelmente mais elevado".

Abrirão os braços para receber os aliados

Explicando porque o povo italiano ainda não se revoltou contra o facismo, o conde Sforza assim se expressou:
- "Quando o povo italiano perceber que as nações unidas querem destruir Mussolini e o fascismo e não a Itália, neste momento, estou certo disto, ele se levantará como um só homem, colocando-se decididamente ao lado das forças democráticas.
No dia em que as forças das nações penetrarem em território - caso resolvam abrir a segunda frente na Itália - empunhando bandeiras italianas para a destruição de Mussolini e de seu regime, encontrarão os filhos da Itália, unidos e coesos, que abrirão os braços para os receber como verdadeiros irmãos.
E atualmente, muito mais importante do que o formal reconhecimento do Conselho Nacional dos Italianos Livres, por parte dos diversos países, seria o lançamento de um apelo ao povo italiano para se revoltar contra o fascismo e contra Mussolini, salientando, inequivocamente, que as nações unidas querem destruir não a Itália, mas o atual regime que escraviza o povo da minha pátria".

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