MOSCOU AVISA: SIRIA E LIBANO SERÃO INVADIDOS


Publicado na Folha de S.Paulo, sábado, 16 de setembro de 1972

Neste texto foi mantida a grafia original


O embaixador sovietico em Beirute, Sarvar Azimov, informou o governo libanês sobre "uma iminente invasão israelense contra a Siria e o Libano". Azimov disse a um grupo de politicos libaneses que a "operação de Israel será de grande envergadura".
"A situação é muito séria", disse o embaixador. "Os Estados Unidos, ao que parece, já autorizaram a invasão israelense". E acrescentou que "Washington aprovou a decisão de Jerusalem de atacar a Siria e o Libano para ajudar Israel a se manter na peninsula do Sinai".
Ontem, formações de caça-bombardeiros israelenses "Phanton" e "Skyhawk" realizaram varios voos rasantes nas fronteiras com o Libano e a Siria. O governo de Damasco fechou seu espaço aereo durante 80 minutos.

Mais violencia

Por outro lado, Farouk Kaddoumi, um dos lideres da 'Al Fatah" e membro do comitê executivo da "Organização para a Libertação da Palestina", que agrupa todos os movimentos guerrilheiros arabes, disse no Cairo que as guerrilhas intensificarão suas operações dentro e fora de Israel, depois que a primeira-ministra Golda Meir afirmou que "Israel atacará os terroristas onde estiverem".
"Isto é uma declaração de guerra", disse Kaddoumi que arrematou: "Responderemos à violência com a violencia".

URSS continua cortejando arabes

MOSCOU - A União Sovietica reafirmou ontem seu apoio politico e "material" ao mundo árabe e convidou os paises árabes a "consolidar" seus esforços para uma solução politica no Oriente Medio.
O presidente sovietico, Nikolai Podgorny, externou sua posição da URSS por ocasião da presença em Moscou do presidente do Iraque, Ahmed Hassan El-Bakr.
Bakr, que chegou ontem a Moscou, é o lider árabe de maior hierarquia a visitar a União Sovietica desde que 10.000 conselheiros sovieticos receberam ordens de abandonar o Egito, em julho.

A "franqueza"

Podgorny declarou que o presidente Bakr havia iniciado conversações formais com o chefe do Partido Comunista, Leonid Brejnev e com o primeiro-ministro Alexei Kosygin, "numa atmosfera de total fraqueza, camaradagem e mutuo entendimento".
"Franqueza" é uma terminologia sovietica que normalmente significa desacordo, enquanto que "total franqueza" raramente é utilizado nas declarações do Kremlin.
Entretanto, nada apareceu, na versão censurada do discurso de Podgorny, divulgada pela agencia TASS, que pudesse indicar quais os topicos que suscitaram discordia.
A visita de Baker coincidiu com noticias da imprensa árabe, segundo as quais a União Sovietica, tendo brechas no seu relacionamento com o Egito, procuraria construir uma nova frente pró-Moscou no mundo árabe, composta pelo Iraque, Siria e pelo movimento guerrilheiro palestino.

Munique

Referindo-se à morte de onze atletas israelenses, em Munique, Podgorny disse que "naturalmente, nós não podemos favorecer ações realizadas por certos elementos que prejudicam o movimento palestino". Entretanto elogiou o movimento palestino ao dizer que "tem um importante papel no formato geral da luta arabe contra o imperialismo e contra a politica territorial de Israel".
Referindo-se às recentes incursões de represalia praticadas pelos israelenses contra posições guerrilheiras, Podgorny declarou que o ataque de Munique "não pode, de forma alguma, justificar as traiçoeiras ações dos lideres israelenses".

A Guerra

Reiterando a posição oficial de Moscou de que uma outra guerra no Oriente Medio não beneficiaria a causa arabe, o presidente Podgorny enfatizou que, nas atuais circunstancias, "é importante para as nações arabes persistir em seus esforços de conseguir uma solução politica para o conflito".
Acrescentou que os arabes devem "consolidar o poder de suas Forças Armadas".
Sua referencia a uma futura ajuda "material", indicou, aparentemente, que se o Egito mostrar-se pouco disposto a aceitar armas sovieticas, Moscou encontrará clientes ansiosos em outras partes do mundo arabe.
Bakr, em sua primeira viagem fora do mundo arabe desde que tomou o poder mediante um golpe de Estado, em 1968, permanecerá na União Sovietica, com uma delegação de 13 homens, durante cinco dias.

Caça aos cabeludos em Amã

AMÃ - As forças de segurança do rei Hussein percorreram ontem as ruas de Amã, cortando os cabelos de todos os cabeludos que encontrassem.
Varias dezenas de jovens perderam suas cabeleiras no decorrer da ultima campanha do governo contra "habitos contrarios às tradições à virilidade arabes".
As autoridades disseram que centenas de meninos, nas escolas publicas, tambem tiveram seus cabelos cortados pelas tesouras oficiais.
Houve pelo menos uma notavel exceção na campanha: o proprio rei Hussein, cujo corte militar de cabelo converteu-se em longas melenas e notáveis costeletas.

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