PAPA CONDENA RELAÇÃO SEXUAL


Publicado na Folha de S.Paulo, sábado, 16 de junho de 1984

O papa João Paulo 2º condenou as relações sexuais que, tanto dentro como fora do casamento, sejam orientadas para o prazer e destacou que o dever da Igreja é zelar pelos valores da família. No quarto dia de sua visita à Suíça, o papa dedicou-se apenas a tarefas pastorais, reunindo-se com padres e bispos na pequena cidade de Einsiedeln.
O pontífice também condenou o aborto e a eutanásia, considerando-os um desrespeito à vida, e rejeitou a supressão do celibato dos padres, pedida por um grupo de religiosos. Hoje, o papa passará a manhã em Lucerna e à tarde rezará missa campal em Sion. Amanhã, volta a Roma.

Papa condena sexo orientado para o prazer

Einsiedeln - João Paulo 2º condenou ontem as relações sexuais orientadas pelo prazer, tanto dentro como fora do casamento, e rejeitou qualquer mudança na doutrina da Igreja, contrária ao aborto e à eutanásia (morte sem dor para os doentes incuráveis).
Em seu quarto dia de visita à Suíça, o papa dedicou-se a tarefas estritamente pastorais, reunindo-se com bispos e religiosos e recebendo representantes da Ação Católica e de organizações de caridade. Poucos fiéis acorreram à pequena cidade de Einsiedeln, um dos mais importantes centros de peregrinação do norte dos Alpes, para ver o pontífice.
No encontro com os bispos e religiosos, em uma antiga abadia beneditina da cidade, João Paulo 2º lembrou o dever dos padres de zelarem pelos valores da família. "Estes valores são dolorosamente postos à prova quando o amor que existe entre um homem e uma mulher, ou entre um casal casado, são vividos egoisticamente, em vista apenas do prazer imediato e na ausência de um compromisso definido com a outra pessoa ou com a criança nascida dessa união".
Sobre o aborto e a eutanásia, disse que "seria contraditório tentar levar ajuda aos desnutridos se não houvesse respeito pela vida e partir do momento da concepção u com o valor de uma pessoa que chega ao fim, até o momento exato de sua morte natural".
O papa enfrentou uma dura discussão com alguns sacerdotes, liderados pelo padre Markus Fisher, que reivindicaram a supressão do celibato sacerdotal, a ordenação de mulheres e maior compreensão para os religiosos que desejam voltar ao estado leigo. "Não sei se vossas preocupações refletem a posição da maioria do clero", disse o pontífice. Fisher afirmou "estar convencido de que o Espírito Santo não fala somente por meio de decretos, mas também através do povo de Deus".
Anteontem o papa provocou irritação nos meios financeiros suíços, ao condenar, indiretamente, o sistema de sigilo bancário do país e ao pedir que "o poderoso mundo do dinheiro seja usado para promover a paz e não a guerra". Uma alta autoridade do governo, citada pela UPI, disse que o papa "tem todo o direito de dizer o que quiser, mas talvez não devesse ter dito o que disse".
João Paulo 2º deixará Einsiedeln hoje pela manhã, seguindo para Lucerna, onde se encontrará com estrangeiros que vivem na Suíça, a maioria operários italianos e espanhóis. À tarde celebrará uma missa campal em Sion, região de Valais, e de lá regressará amanhã a Roma.

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