ALLENDE DIZ QUE GOLPE DIREITISTA AMEAÇA O GOVERNO

Publicado na Folha de S.Paulo, sexta-feira, 15 de setembro de 1972

Um plano direitista que incluía disturbios de rua, provocações a militares e fugas de presidios, foi denunciado ontem pelo presidente Salvador Allende para justificar a mudança de percurso ordenada por seu governo, de uma passeata da oposição que deveria ser realizada ontem.
De acôrdo com Allende as violentas manifestações ocorridas nas ultimas semanas faziam parte do "plano setembro", como ele chamou à tentativa sediciosa. Entre os presos que deveriam ser libertados pelos golpistas - segundo o presidente Allende, - estava o general da reserva Roberto Viaux, preso em 1970, devido à sua participação num complô que culminou com o assassinato do general Renê Schneider.

Allende denuncia um vasto plano de sedição no Chile

SANTIAGO DO CHILE - O presidente Salvador, Allende denunciou ontem a existência de um programam sedicioso chamado "plano setembro", que incluía a paralisação do país, disturbios de ruas, provocações a militares, ocupação de rodovias, fugas de presidios e outros atos.
Numa longa declaração, Allende não identificou plenamente os organizadores do plano. Contudo, atacou ao que chamou "grupos fascistas" que "tinham preparado e continuam preparando disturbios de rua". Afirmou que esses grupos se aproveitam de algumas ações de "setores irresponsaveis", entre os quais mencionou o grupo de esquerda radical denominado "Partido Comunista Bandeira Vermelha".
Relatou então uma série de ações que compreenderia o "plano setembro" e afirmou que o governo tem muitos detalhes que não podem ser divulgados agora.
Allende emitiu sua declaração e divulgou os detalhes do plano sedicioso para explicar os motivos que levaram o governo a modificar o percurso de uma passeata da oposição, que deveria ser realizada ontem. ante a mudança, a oposição reagiu irritadamente e suspendeu o ato.

A violência

De acordo com Allende, do "plano setembro" fez parte a serie de violentas manifestações ocorridas nas ultimas semanas, e que tiveram uma origem estudantil, mas que depois derivaram para grupos radicais.
Afirmou também que fazia parte inicial do plano uma greve no sistema de transportes, que incluia a "divisão do território em oito partes", mediante a formação de grandes "engarrafamentos" de veículos em rodovias chaves. Isto, acrescentou, privaria o pais de alguns elementos essenciais e teria deixado, por exemplo, as grandes cidades sem pão.
Allende também citou como parte do plano um projeto para atrasar a chegada em Santiago de efetivos militares que virão da provincia para participar do desfile de 19 de setembro, festa pátria chilena. O presidente afirmou que para isto, os revoltados iam destruir parcialmente ferrovias e estradas. Advertiu que "não o conseguirão".
Assegurou em seguida que os planos contra os militares incluiam "provocações", que não especificou, contra as fôrças que desfilarão em Santiago.

O exilado

Acrescentou que os sediosos também pretendiam trazer de volta ao país o major da reserva Arturo Marshall, atualmente exilado na Bolivia, e acusado de participação em numerosos complôs. Afirmou que Marshall, ia participar na "tentativa de fuga de algumas pessoas que estão detidas". Allende não identificou os presos, mas parecei se referir diretamente ao general da reserva Roberto Viaux, preso por sua participação em 1970 num complô para impedir a subida de Allende ao poder e que culminou com o assassinato do general Rene Schneider, naquela ocasião comandante chefe do exercito.
Allende assinalou que não poderão ser dados outros detalhes antes que se detenha todos os implicados. Reafirmou que o governo cumprirá sua obrigação de impedir que todas essas situações ocorram.
Também acusou algumas radios e jornais - sem mencionar especificamente a nenhum - de colaborar para o ambiente que procuravam os sediciosos.
O presidente chileno mencionou os surtos de violência ocorridos nas ultimas semanas, e disse que embora os mesmos não estejam relacionados com o "plano setembro", contribuem para ajudar aos que o propiciam.

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