PROCLAMADO O ESTADO DE ISRAEL


Publicado na Folha da Manhã, sabado, 15 de maio de 1948

Neste texto foi mantida a grafia original

Solenemente declarada em Telavive a independencia da nação judaica

Constituido o gabinete sob a presidencia do sr. Davi Ben-Gurion - a eleição do parlamento e do presidente da republica - partida do alto comissario britanico

Os EUA foram o primeiro país a reconhecer o novo governo da terra santa - a atitude da Inglaterra

TELAVIVE, 14 - Foi proclamado, às 16 horas de hoje, o Estado Nacional Judeu da Palestina.

A solenidade da proclamação

TELAVIVE, 14 - Às dezesseis horas do quinto dia Yvar, de 5.708, foi proclamado a Republica de Israel, o novo Estado Nacional Judeu da Palestina, concretizando-se um sonho de quase dois mil anos, quando, nos publicos de Telavive, era içada a bandeira azul e branca com a estrela aurea de Davi.
Cinco horas e cinquenta e dois minutos após ter o alto comissario da Grã-Bretanha, "Sir" Alan Cunningham, anunciado, com uma antecedencia de catorze horas, a terminação do mandato britanico, Davi Bem-Gurion e seus colegas do Conselho Judaico proclamaram, em historico documento, o nascimento da Republica de Israel, que juravam defender até à morte.
A solenidade da proclamação teve no Museu de Telavive, localizado no "boulevard" Rotschild, e o documento foi lido perante uma assembleia de quatrocentos destacados lideres sionistas, por Davi Ben-Gurion, que vê coroada de exito a sua luta de quatro decadas, em prol da instituição do Estado Sionista..
Enquanto, nas imediações do Museu, o povo irrompia em ruidosas manifestações de jubilo, ao longo de todo o "boulevard" Rotschild, quase todos os componentes da Assembléia Judaica choravam de emoção.
Davi Ben-Gurion será o primeiro presidente da Republica de Israel e, tambem, o ministro da Defesa Nacional do gabinete, constituido de treze ministros.
Como um simbolo de mau presagio e de que a nova Republica não nasceu sob o signo da paz, aviões de caça da Hagana voavam em circulos sobre o Museu de Telavive, enquanto era proclamado o novo Estado Sionista.

TELAVIVE, 14 - O sr. Ben Gurion, em proclamação oficial, em nome do novo Estado de Israel, anunciou a anulação do Livro Branco britanico relativo à Palestina.
Ao mesmo tempo, a proclamação anuncia que foram declaradas nulas todas as leis do governo mandatario britanico sobre a imigração judaica para a Palestina.

A eleição do parlamento e do primeiro presidente

TELAVIVE, 14 - O sr. Ben Gurion, primeiro-ministro do governo provisorio, declarou que, com exceção do Livro Branco e das leis britanicas sobre a imigração judaica, serão mantidas provisoriamente as regulamentações do governo palestino, desde que não constituam entrave à independencia do Estado judeu.
Acredita-se que o presidente do novo Estado será designado após a eleição do Parlamento, que se realizará, o mais tardar, em outubro proximo. Acredita-se que será escolhido para esse alto cargo o professor Chaim Weizman.
Foi às 16:15 horas que o primeiro-ministro Ben Gurion, no vestibulo do museu de Telavive, procedeu à leitura da proclamação da independencia. Trinta e sete membros de todos os partidos aplaudiram entusiasticamente a leitura, enquanto o Grande Rabino pronunciava uma oração.
O hino nacional judaico "Hatikva" (Esperança) foi cantando por todos os presentes. Depois disso, a guarda de honra da Hagana, agora transformada em Exercito judaico, apresentou armas e a bandeira nacional, azul e branca, com a estrela de Davi, foi hasteada.

O governo provisorio

TELAVIVE, 14 - A lista dos membros do governo provisorio do Estado judaico, publicada hoje, é a seguinte: Primeiro ministro e ministro da Defesa - Bem Gurion; ministro do Exterior - Moshe Shertok; Interior - Gruenbaun; Finanças - Kaplan; Assuntos Arabes - Shitreet; Justiça - Rosemblueth; Comunicações - Remez; Trabalho - Bentov; Negocios Religiosos - Fishman; Comercio e Industria - Bernstein; Imigração - Shapira.

Declaração de Davi Ben Gurion

TELAVIVE, 14 - Momentos depois de proclamar a Republica de Israel, Davi Ben Gurion, judeu de origem polonesa, de 66 anos de idade e chefe provisorio do governo, prestou à "United Press" as suas primeiras declarações.
Abordado pelo correspondente, o velho batalhador da causa sionista, ainda visivelmente emocionado pela cerimonia a que acabava de presidir, disse apenas: "Esperamos dois mil anos por esta ato. Levamos apenas meia hora para consumá-lo".
A cerimonia da proclamação da Republica de Israel foi precedida pelo hino judaico "Hatkiva", entoado por todos os presentes. Bem Gurion leu o documento com voz firme, porem ao chegar ao trecho onde diz: "... Estabelecemos o Estado de Israel", o rabino Fishman ergueu-se e disse em voz alta: "Graças, Senhor, por este grande dia. "Todos os presentes se levantaram e começaram a criar, o que obrigou Bem Gurion a suspender momentaneamente a leitura da proclamação. Essa foi transmitida a todos os recantos da Palestina pelo radio.
Depois da leitura. Davi Bem Gurion anunciou o nome dos membros que constituirão o Conselho Geral do Estado, que governará a republica de Israel até que seja constituido um gabinete definitivo. Um dos membros é Meir Wilmer, chefe do Partido Comunista da Palestina. Ao ser anunciado o seu nome, os assistentes à cerimonia guardaram silencio, em contraste com os aplausos com que saudaram os nomes dos demais membros. Outro detalhe significativo foi que Davi Bem Gurion não apertou a mão de Meir Wilmer, como o fizera com os demais membros do Conselho.

A partida do alto comissario britanico

TELAVIVE, 14 - O alto comissario britanico na Palestina, "Sir" Alan Cunningham, arriou a bandeira britanica na sede do seu governo, em Jerusalem e seguiu de avião para Haifa, onde chegou às 9 h 30. O alto comissario embarcou naquele porto, numa lancha que o levou ao cruzador que estava à sua espera. A belonave zarpou no momento em que terminava o mandato britanico. Isto é, às 22h01.

Os Estados Unidos reconhecem o Estado Judeu

WASHINGTON, 14 - No momento em que se instaurava, na Palestina, o novo governo judaico, o presidente Truman entregou à imprensa o seguinte comunicado oficial:
"O governo dos Estados Unidos foi informado de haver sido proclamado na Palestina um Estado Judaico e de que seu governo provisorio solicitou reconhecimento. Os Estados Unidos da America reconhecem esse governo provisorio, como autoridade de fato do novo Estado de Israel. O reconhecimento do governo dos Estados Unidos da America está em vigor desde o momento em que finalizou, oficialmente o mandato britanico na Palestina".

A Inglaterra não reconhecerá

LONDRES, 14 - Em fontes autorizadas, declara-se que a Grã-Bretanha não reconhecerá durante muito tempo, o novo governo judaico na Palestina.

Congelados os creditos da Palestina no banco da Inglaterra

INGLATERRA, 14 - Os creditos em esterlinos da Palestina, no Banco da Inglaterra, serão definitivamente congelados a partir de amanhã - anuncia um comunicado oficial da Tesouraria.
Por outro lado, o governo britanico declara-se pronto a negociar a regulamentação desses creditos, desde que as circunstancias o permitam.

Os arabes acusam a Grã-Bretanha

LONDRES, 14 - "Toda a tragedia palestiniana foi causada pelo mandato e esforços obstinados da Grã-Bretanha para prosseguir, durante trinta anos, numa politica desastrosa" - declara um comunicado dos Serviços Arabes de Londres.
"Graças ao mandato, os sionistas puderam estabelecer sua posição na Palestina sob o plano economico, politico e militar, de tal maneira que se tornaram uma ameaça à propria existencia dos arabes" - declara o comunicado, acrescentando: "Os arabes esperam confiantes o julgamento da historia, embora nada possa ser feito para evitar as consequencias de um fato consumado. O fim do mandato dará, pelo menos aos arabes, a possibilidade que nunca tiveram, até agora, de resistir aos invasores face a face, e sem intervenção de uma potencia estrangeira que sempre os protegeu."

Reconhecido pela Guatemala

FLUSHING MEADOWS, 14 - A Republica da Guatemala anunciou, oficialmente que o seu governo reconheceu o novo Estado Judaico da Palestina. A comunicação foi feita pelo delegado da Guatemala junto às Nações Unidas.

Reserva nos circulos oficiais norte-americanos

WASHINGTON, 14 - Não foi dada ainda nenhuma explicação para o mais importante gesto diplomatico anunciado pelos Estados Unidos, nos ultimos meses, reconhecendo o novo Estado Judaico da Palestina. Algumas personalidades acreditam que o atual consul norte-americano em Jerusalem passará, provisoriamente, a atuar como encarregado de negocios norte-americanos.
Entretanto, o general Marshall deu ordens expressas a todos os funcionarios do Departamento de Estado, para que não comentem, de forma alguma, a decisão do governo.

Embaixada provisoria em Washington

WASHINGTON, 14 - Durante a cerimonia solene que se realizou hoje na sede da Agencia Judaica, em Washington, a fim de se celebrarem a proclamação da independencia da Palestina e a instauração do Estado Judaico de Israel, foi hasteado o pavilhão que traz a estrela de Davi sobre fundo branco, entre dois campos azuis.
Na Agencia Judaica, funciona agora a legação que os judeus consideram como a sua primeira embaixada oficiosa e provisoria junto ao governo dos Estados Unidos.

As predições dos profetas judeus

LONDRES, 14 - Falando hoje à imprensa, logo depois da "declaração de paz ao mundo", o sr. Shrangai, membro do Executivo da Agencia Judaica, que se expressou em hebraico, lingua oficial do Estado de Israel, declarou que, "a 14 de maio de 1948, se confirmaram as previsões dos profetas judeus. Segundo essas predições, o povo hebreu seria condenado a 2.000 anos de vida errante e miseravel, findos os quais deveria regressar à Palestina onde, depois de grandes dificuldades , encontraria finalmente a paz".
"Alimentamos a esperança - concluiu o sr. Shragai - de que, uma vez terminada a luta, a paz retorna a todo o mundo".

Comunicado do comite hebreu de libertação nacional

PARIS, 14 - "Nesta hora historica, nosso primeiro pensamento deve ser para os combatentes da Irgun Zvai Leumi, cujo heroismo obrigou a ocupação estrategia a reconhecer a sua falencia" - declara um comunicado do Comitê Hebreu de Libertação Nacional.
Depois de salientar o fracasso do Imperialismo inglês, o Comitê lança um apelo "a todos os governos civilizados para que concedam, aos judeus a caminho da Palestina, o direito de transito e todas as facilidades para o seu repatriamento.
Ordenado pelo governo um ataque a dez predios. A Hagana encontrou feroz resistencia arabe, ao tentar destruir a fortificação construida pelos britanicos, as barricadas em redor do antigo quartel de policia e outros edificios governamentais, na estrada de Jafa.
Informa-se que está sendo travada violenta batalha de rua. A Hagana está abrindo caminho para os portões de Jafa.

Ocupado o edificio do banco anglo-palestino

TELAVIVE, 14 - Despachos de Jerusalem anunciam que as tropas judaicas ocuparam esta noite o edificio do Banco Anglo-Palestino, que durante dois anos, serviu de Chefatura de Policia. Foram tambem ocupados os edificios que Correios e Telegrafos e o Hospital Italiano. Arabes e judeus já não mais combatem de casa em casa mas de comodo em comodo, tal como em Stalingrado. Segundo outros despachos, a ocupação sucessiva de edificios estratégicos por parte dos judeus praticamente decide o destino de Jerusalem.

Os judeus entraram em Jafa

TELAVIVE, 14 - A Hagana anunciou que suas tropas entrariam em Jafa.

Cidades ocupadas pela hagana

HAIFA, 14 - Após dois dias de combate na Galiléia Ocidental, nas proximidades de Acre, as forças de Hagana ocuparam Azzib e Samaria. A luta prossegue em Bassa.
Um comboio judeu, que se dirigia para a Galiléia Ocidental isolada pelos arabes há mais de um mês conseguiu chegar ao seu destino.

São João d'Acre em poder dos judeus

TELAVIVE, 15 - As tropas judaicas da Hagana ocuparam a cidade de São João D'Acre.

Aldeias capturadas

BEIRUTE, 14 - Os arabes admitiram que as forças judaicas ocuparam, esta noite, a aldeia arabe de Ezzeeb, a cinco quilometros da cidade de Nahriya e, mais tarde, a de Aledana Albasa. Acrescentam que os Judeus estão reforçando suas tropas na zona de Nahriya.

Breir conquistada

TELAVIVE, 14 - Informa-se que forças da Hagana conquistaram a aldeia de Breir, ao sul da linha judaica de comunicações com Negev, na rodovia Jerusalem.

Retirada dos arabes

TELAVIVE, 14 - Anuncia-se que os arabes abandonaram as aldeias de Madhar, Hadathe e Ulam, na baixa Galiléia.

Em chamas a colonia Kfar Ziom

HAIFA, 14 - Um porta-voz da Hagana anunciou que a colonia judaica de Kfar Ziom estava em chamas, em consequencia dos ataques desfechados pela Legião Arabe, equipada com artilharia britanica e armas modernas.
Por outro lado, uma parte do mosteiro de Latrum foi ocupada pelas forças dirigidas pessoalmente por Fauzi Kaukdji, comandante do Exercito de libertação arabe.
Finalmente, uma colonia judaica, situada no norte da Palestina, foi atacada por uma unidade do Exercito sirio, ignorando-se os pormenores desse ataque. Por outro lado, seis aldeias arabes, situadas entre Tabou e Zamak, foram abandonadas pelos seus habitantes e ocupadas pelos judeus.

Comunicado do alto comando arabe

DAMASCO, 14 - O Alto Comando das forças arabes deu à publicidade o seguinte comunicado: "Nossas forças repeliram ataques inimigos na linha de Tuklard-Kafarsavra-Kalkilia. Infligimos ao adversario pesadas perdas em homens e material. A batalha continua.


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