CONSTITUIDO O NOVO GABINETE SIRIO


Publicado na Folha da Noite, segunda-feira, 15 de agosto de 1949

Neste texto foi mantida a grafia original

Golpe de Estado para Promoção de Eleições Livres - Inquietam-se os Circulos Israelitas de Telavive

DAMASCO, 15 - Exatamente 24 horas depois da execução do presidente Husni Zaim, novo gabinete foi constituído por decreto do coronel Henauy, que assumiu o governo após o golpe de Estado desfechado ontem por oficiais do Exercito sirio.
Afirmou o coronel Henauy que o novo gabinete incorporaria os poderes presidenciais e do legislativo até que "a vida parlamentar normal seja restabelecida no país".
Hashem El Atassi foi nomeado para o cargo de primeiro-ministro e Khaled El Azamm, ex-premier" do governo que Zaimm derrubou em março passado, para o de ministro das finanças.
O decreto da constituição do novo gabinete foi assinalado pelo Henauy como "comandante em chefe do Exercito sirio".
O golpe de Estado na Siria se registrou na manhã de ontem e foi promovido por uma facção dissidente do Exercito. O presidente Husni Zaim e o primeiro-ministro Moushin El Barazi foram "presos, julgados e fuzilados", segundo comunicado do coronel Sami Henauy, que chefiou o movimento.

Como está Constituido o Novo Gabinete

DAMASCO, 15 - É a seguinte a constituição do novo gabinete sirio, organizado pelo coronel Henauy, atual chefe do governo da Siria:
Primiero-Ministro - Hasnhem el Atassi.
Ministro das Finanças - Khaled el Azem.
Interior - Rushdi Kekhia.
Exterior - Nazem el Koodey.
Economia - Faydi el Atassy.
Justiça e Saude Publica - Sami Kabbaraax.
Agricultura - Akram el Hourany.
Educação - Muchel Afla.
Defesa Nacional - general Abdullah Atfy.
Obras Publicas - Mejd Eldin Jabry.
Ministros sem pasta - Abd el Azmi e Fathallah Askoun.

Comentarios da Imprensa de Telavive

TELAVIVE, 15 - A medida que chegam a Telavive noticias sobre o golpe de estado sirio, mais se inquietam os circulos israelitas.
O editorialista do orgão do Partido Herouth afirma que a deposição do marechal Zaim constitui indicio de nova interferencia inglesa nos assuntos de um Estado arabe. Pelo fato de Husni Zaim opor-se à influencia britanica no Oriente Medio, haveria de ser suprimido. Isso representa uma advertencia para Israel. A Inglaterra serve-se ainda dos Estados arabes para isolar e tudo faz no sentido de afastar do Oriente Proximo toda potencia que se recuse a pôr-se a reboque de Londres".
O jornal liberal independente "Haaretz" considera, por seu turno, que a situação é grave. "Os acontecimentos na Siria - afirma - comprometem o estabelecimento da paz no Oriente Medio e demonstram que a democracia e o respeito à opinião são palavras vazias na Siria, porque há bem pouco tempo um referendo popular deu maioria de 90% aos marechal Husni Zaim".

Impressões do Rei Abdulah

AMÃ, 15 - Evocando os acontecimentos da Siria aos jornalistas, o rei Abdulah mostrou-se um tanto inquieto. Revelou ter esperanças de que "a Siria se sairá bem" e desejou para o povo desse país "dias pacificos e calmos".
Interrogado sobre a eventualidade do adiamento de sua viagem a Londres, em virtude dos sucessos sirios, o soberano declarou que nada mudara neste sentido, até o momento.
Interrogado, finalmente, sobre a proxima reunião do Comitê Politico da Liga Arabe, o rei Abdulah exprimiu o desejo de que ela ocorra proximamente, a fim de que os Estados arabes possam estabelecer as linhas gerais de uma politica comum à luz dos ultimos acontecimentos .
Antes de conceder sua entrevista à imprensa, o soberano presidiu à uma reunião, na qual tomaram parte notadamente Said Pacha Mufti, ministro do Interior e presidente interino do Conselho, Perry Gordon, encarregado de Negocios da Inglaterra, e Stabler, encarregado de Negocios dos Estados Unidos, bem como personalidades sauditas. Durante essa reunião, foram trocadas informações a respeito dos acontecimentos na Siria. A questão desse país teria sido inserida na ordem do dia do Conselho de Ministros que se reuniu ontem durante varias horas.

Porque Zaim Teria Sido Fuzilado

LONDRES, 15 - Peritos em assuntos do Oriente Proximo consideram o turbulento periodo de quatro meses do coronel Husni Zaim, na Siria, como um dos mais espetaculares na historia das ditaduras modernas.
Revelam que um mês antes do golpe de Estado que o elevou ao poder, um grupo de oficiais do exercito reuniu-se altas horas da noite, perto do monumento junto à fronteira sirio-libanesa, que comemora as sangrentas lutas travadas com os franceses, e juraram com sangue derrotar o então governo de Shukry Kouwatly, salvar a honra do exercito sirio e estabelecer novo governo mediante eleições livres. Ficou estabelecido que quem violasse tal juramento morreria às mãos dos companheiros. Foi justamente isso que aconteceu ontem a Zaim, quando foi passado pelas armas.

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