FERNANDO CANZIAN
De Nova York
Dois
caças F-15C americanos derrubaram por engano ontem dois helicópteros
do Exército dos EUA no norte do Iraque, matando as 26 pessoas
a bordo.
Dos ocupantes, 15 eram oficiais americanos, dois britânicos,
um francês e três turcos. Eles faziam parte da operação
de ajuda humanitária das Nações Unidas para
a minoria curda no norte do Iraque.
Cinco passageiros curdos também morreram no incidente. Os
helicópteros estavam se dirigindo a Salahaddin, na região
central curda, para levar os oficiais a um encontro com líderes
curdos.
Os caças patrulhavam a "zona de exclusão aérea"
estabelecida pela ONU ao norte do paralelo 36 iraquiano.
Os pilotos confundiram os helicópteros UH-60 Blackhawk dos
EUA com aparelhos iraquianos Hindi. Cada um dos caças disparou
um míssel contra os helicópteros.
O incidente aconteceu às 9h30 da manhã (4h30 em Brasília),
56 km ao norte da cidade iraquiana de Irbil, próxima à
fronteira com a Turquia.
Um dos helicópteros caiu próximo a Amada e o outro
a Bekhma, ambas vilas iraquinas, segundo informações
do governo da Turquia.
Toda a operação foi observada por um avião
de reconhecimento Awac americano.
"Claramente alguma coisa saiu errada", disse John Shalikashvilli,
chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos EUA.
Shalikashvilli, que suspendeu uma visita marcada anteriormente para
ontem à embaixada do Brasil em Washington, afirmou desconhecer
se o sistema de identificação eletrônica usado
entre os aparelhos americanos funcionou durante o incidente.
O presidente dos EUA, Bill Clinton, pediu ao Pentágono (que
centraliza as Forças Armadas americanas) uma apuração
rigorosa sobre o incidente e lamentou a morte dos ocupantes dos
helicópteros.
O secretário de Defesa dos EUA, William Perry, assumiu a
responsabilidade pelas mortes em entrevista coletiva no Pentágono
na manhã de ontem.
O ministro da Defesa britânico, Malcolm Rifkind, que participava
de encontros em Washington, qualificou o ocorrido como "uma
grande tragédia".
Nenhuma das autoridades informou se houve tentativa de contato por
rádio entre os caças e os helicópteros.
Aviões americanos e aliados vêm patrulhando a "zona
de exclusão aérea" ao norte do Iraque desde o
final da Guerra do Golfo, em 1991. Aviões aliados também
têm realizado operações semelhantes ao sul do
país, abaixo do paralelo 32.
As "zonas de exclusão aérea" foram criadas
pela resolução 688 do Conselho de Segurança
da ONU em abril de 91. Visam impedir ataques das forças de
Saddam Hussein aos curdos no norte do Iraque e aos xiitas no sul
do país.
'Fogo amigo' matou 35 americanos no Golfo
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Os americanos têm um nome específico para os mortos por
engano durante guerras. São as vítimas de "fogo
amigo".
Na guerra contra o Iraque (1991), morreram 35 soldados americanos
e 72 ficaram feridos por "fogo amigo", 17% de todas as baixas
dos EUA. Os americanos mataram ainda nove britânicos.
Especialistas calculam que um em cada 50 americanos mortos na 2ª
Guerra, na Guerra da Coréia e na Guerra do Vietnã foram
atingidos por suas próprias tropas ou por aliados.
A tendência é piorar, segundo analistas militares.
"A estrutura da guerra está mudando fundamentalmente...
o tempo dos combates caiu muito e a margem entre morrer ou ser morto
é de uns poucos segundos", diz Tony Cordesman, do Centro
Wilson de pesquisa (Washington).
Um tempo tão curto torna quase impossível para o piloto
de um caça verificar o alvo com seus próprios olhos
antes de atirar.
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