ISRAEL E OLP ASSINAM ACORDO DE PAZ
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Publicado
na Folha de S.Paulo, terça-feira, 14 de setembro de
1993
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Carlos Eduardo Lins da Silva
De Washington
Israel e a Organização para a Libertação
da Palestina (OLP) assinaram ontem o tratado de paz. O acordo prevê
o fim de 45 anos de conflito no Oriente Médio. Determina que
os territórios ocupados por Israel desde 1967 passem progressivamente
para administração palestina. A assinatura ocorreu nos
jardins da Casa Branca (Washington). A cerimônia foi presidida
por Bill Clinton (EUA). Apesar do otimismo, houve tensão. O
premiê israelense, Yitzhak Rabin, não aplaudiu os discursos
palestinos. O líder da OLP, Iasser Arafat, recusou texto em
que sua organização era chamada de "delegação
palestina". Israel cedeu uma hora antes da assinatura.
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Leia
a história secreta das negociações |
Terje Larsen, sociólogo norueguês, lançou a
idéia de contatos diretos que Israel acabou por executar
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Quinta-feira, 19 de agosto de 1993. Uma recepção como
outra qualquer está acontecendo no palácio do governo
norueguês, no no 45 da rua Parkveien. Um daqueles jantares oficiais
polidos e tediosos, onde, entre salmão e framboesas, o tema
tratado é a cooperação bilateral. O chanceler
Johan Jorgen Holst recebe a delegação israelense em
visita à Escandinávia, conduzida por seu homólogo
Shimon Peres. Os convidados estão longe de imaginar que a História
está sendo feita acima de suas cabeças.
Últimos apertos de mão, casacos recuperados no vestiário,
os delegados se afastam na noite. Já são mais de 23h.
Shimon Peres e Johan Jorgen Holst sobem as escadas do hotel particular.
Ali, a 1h da manhã, junta-se a eles um punhado de homens ligados
por sete meses de segredo compartilhado. Eles se reuniram na privacidade
de uma sala do hotel da cidade para uma última leitura, uma
última discussão sobre o texto que agora têm pronto.
"O governo do Estado de Israel" e a "delegação
palestina" representando os palestinos, concordam que chegou
o momento de colocar fim a decênios de confronto e conflito.
Uma declaração de princípios que vale para o
projeto de acordo detalhado em 17 artigos que tratam da autonomia
para a faixa de Gaza e a cidade de Jericó. Uma declaração
e um acordo que vale pelos homens que estão reunidos naquele
segundo andar. A porta do pequeno salão se abre. Figura conhecida
da diplomacia israelense, Shimon Peres sai em companhia de Ahmed Kravy
diretor do departamento econômico da OLP.
Caminhando em cima de uma pequena nuvem, aqueles através de
quem tudo se tornou possível, os novos ases de uma diplomacia
sigilosa.
A idéia de um "canal secreto" de negociações
toma corpo na primavera de 1992, sob uma cobertura primeiramente acadêmica.
O primeiro homem-chave se chama Terje Roed Larsen. Com 40 anos já
passados e um amor jamais desmentido por camisas listradas, Larsen
dirige o Instituto Norueguês de Ciências Sociais Aplicadas
(Fafo). Esse fato o levou a multiplicar seus contatos com israelenses
e palestinos no contexto de um estudo sobre as condições
de vida nos territórios ocupados. Em maio ele se encontra com
um deputado trabalhista de nome Iossi Beilin, amigo de Peres. É
nessa época também que ele trava conhecimento, em Oslo,
com aquele que se tornará o segundo homem-chave, Ahmed Kravy,
membro do comitê executivo da OLP e responsável por seu
departamento econômico.
Ciente de que Larsen possui boas conexões junto às "pombas"
israelenses, Kravy lhe dirige os primeiros sinais: a central não
seria insensível à idéia de entrar em contato
com Israel de maneira indireta.
"Naquele momento", recorda Larsen, "achei aquilo completamente
irrealista. Mesmo assim, falei no assunto com Beilin, que não
se interessou. Na época ele só falava em operações
locais". Expressão que designa seu interêsse por
um diálogo discreto com os palestinos do interior.
Em junho de 1992, as eleições em Israel apresentam um
novo quadro. Yitzhak Shamir e a direita israelense têm que se
dobrar, os trabalhistas venceram. Yitzhak Rabin toma as rédeas
do poder e se dá seis meses para tirar as negociações
de paz da pasmaceira em que se encontram. O jovem lobo Iossi Beilin
se torna adjunto de Shimon Peres no ministério das Relações
Exteriores. Ele convida Larsen a aprofundar seu conhecimento com o
professor de história Yair Hirschfeld. Interlocutor menos exposto,
o professor, terceiro homem do grupo que pouco depois irá partir
para tomar a montanha de assalto, acaba de entrar em cena. Natural
da Nova Zelândia, Hirschfeld emigrou para Israel no final dos
anos 60. Simpatizante trabalhista, ele tem suas conexões com
o círculo que gravita em torno de Shimon Peres. Ele também
conhece aqueles que irão se tornar respectivamente porta-voz
e chefe da delegação palestina ao processo de paz lançado
em Madri, Hanan Ashrawi e Faiçal Husseini.
Em dezembro Kravy comunica ao norueguês Larsen que se Israel
quisesse voltar-se à central, esta não a decepcionaria.
"Não é brincadeira", ele sublinha. Larsen
pode ir adiante: a "missão" da Noruega foi secretamente
estruturada em sua presença numa sala do hotel Hilton de Tel
Aviv, três meses antes, para onde fôra o secretário
de Estado Jan Egeland.
Londres, dezembro de 1992. No hotel Forte Crest, no bairro de Saint
James, Larsen organiza um café da manhã decisivo. Após
uma conversa reservada com Hirschfeld, Larsen se retira. Kravy se
senta diante do professor israelense. O sinal verde israelense para
as negociações secretas com a OLP - no solo neutro da
Noruega - intervirá pouco depois.
Para o primeiro encontro, que acontece entre 20 e 22 de janeiro de
1993, os noruegueses resolvem tratar muito bem seus convidados sigilosos.
Larsen obteve de um amigo, chefe do grupo norueguês Irkla, o
empréstimo de sua fazenda de Borregaard, normalmente utilizada
para seminários da empresa. Em Borregaard os negociadores se
acordam com o barulho dos animais, ainda criados para conservar o
caráter de "fazenda" do local, e se fortificam com
seus legumes e sopas.
A aventura começa. Estão presentes dois professores
israelenses - Hirschfeld e seu colega pesquisador Ron Pundik -, a
equipe palestina conduzida por Kravy, assessorada por Hassan Asfur,
que tomará nota das discussões palavra por palavra,
e os intermediários noruegueses (Egeland, Larsen e sua mulher).
O segundo encontro, em meados de fevereiro, segue o mesmo modelo.
Com sua fé inabalável nas virtudes da natureza, os noruegueses
tomaram cuidado em Borregaard e nos sete outros locais que serão
utilizados até agosto para cercar o local para que os delegados
possam espairecer, caminhar e relaxar de suas tensões nos bosques
vizinhos.
A partir de fevereiro uma dinâmica de trabalho se constitui.
As discussões se orientam pelo princípio de "gradação".
Os negociadores concordam que primeiro é preciso chegar a uma
declaração de princípios, antes de sonhar em
transpor uma etapa seguinte, que será preciso criar comitês
de trabalho. As linhas de força aparecem: autonomia para Gaza,
deixar Jerusalém Oriental entre parênteses.
"Depois de janeiro, tudo começou a andar tão rápido
que ficamos muito otimistas", confia um dos mediadores noruegueses.
Mas o "otimismo" de fevereiro-março diminui em pouco
tempo. "O primeiro projeto não passou de esboço
que foi preciso em seguida refazer, corrigir e recorrigir, de crise
em crise, durante os meses seguintes", conta uma testemunha.
Cada ponto era motivo de intermináveis discussões. Kravy,
em contato permanente com o conselheiro de Arafat, Abbu Mazen, que
centraliza em Tunis os contatos com os israelenses, exige que um diplomata
israelense confira um caráter solene ao engajamento das discussões.
Shimon Peres resolve, então, enviar a Oslo seu braço
direito, o diretor geral do Ministério do Exterior, Uri Savir.
Mas a chegada do no 2 do Ministério israelense do Exterior
havia sido um sinal certeiro. Uri Savir jamais teria se sentado à
mesa de negociações sem um episódio, igualmente
determinante e igualmente secreto, que aconteceu no núcleo
do poder israelense. Shimon Peres, antes e depois de janeiro, trabalhava
por conta própria.
Agora Peres terá que colocar todas suas cartas na mesa. Seu
velho rival, informado de seus movimentos pelo serviço israelense
de inteligência, teria que ouvir o que ele tinha para lhe dizer:
Rabin, que carregava os cargos triplos de primeiro-ministro, ministro
da Defesa e responsável pelas negociações bilaterais,
havia visto se escoarem os seis meses que ele se havia dado, no dia
seguinte a sua eleição, para obter resultados das negociações
bilaterais, e a paz parecia caminhar para trás.
Peres é recebido pelo premiê. Ele conta, defende, insiste
várias vezes. "Peres mais dois convidados", é
o que a secretária anotou na agenda do premiê, sobre
o encontro de uma sexta-feira de manhã. Rabin recebe seu ministro
e os professores Hirschfeld e Pundik. O diplomata e o soldado depõem
as armas. Rabin dá o sinal verde, sob a condição
absoluta de que a notícia não vaze.
Os noruegueses se vêem pisando sobre ovos. Os inevitáveis
vazamentos para a imprensa, à medida que um círculo
cada vez maior está envolvido na frentética atividade
norueguesa, provocam desgastes enormes.
De maio até a conclusão do acordo, em 20 de agosto,
nada menos de onze sessões são realizadas na Noruega,
durando dois a três dias cada vez. Os mediadores noruegueses,
que durante todos esses meses fazem uma média de 20 telefonemas
por dia entre os parceiros do triângulo, se protegem atrás
das palavras-código "Os filhos explicaram ao pai que os
padrinhos...?".
Os bloqueios persistentes verificados no início do verão
levaram o novo chanceler norueguês, Johan Jorgen Holst, a envolver-se
pessoalmente na negociação. Holst é informado
em primeira mão do pé em que as negociações
estão e em seguida parte em "férias" em Tunis
para reunir-se com Arafat.
Pesadas nuvens se acumulam nos céus de Tunis. A delegação
palestina ao processo de paz sente há algum tempo que algo
acontece atrás de suas costas. Jerusalém desmente como
sendo "sem fundamento" as informações publicadas
no "Haaretz" de 12 de julho sobre a ocorrência de
negociações sigilosas.
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Crescimento
do Islã no mundo teve como base a guerra santa |
Da Redação
A unificação da Arábia Islâmica é
obra de Abu al-Quasim Muhammad ibn Abd Allah ibn Abd al-Muttalib ibn
Hashim, mais conhecido como Maomé. O fundador do islamismo
nasceu em Meca (em data imprecisa, fixada pelos historiadores como
"cerca de 570"), após a morte de seu pai, Abd al-Mutallib.
Maomé foi criado inicialmente pelo avô. Dado o clima
pouco saudável de Meca, foi entregue aos cuidados de uma ama-de-leite
de uma tribo nômade e passou algum tempo no deserto. No ano
de 595, Maomé casa com uma mulher rica, de cerca de 40 anos,
que lhe dá dois filhos e quatro filhas.
Em 610, retirado em uma caverna nas montanhas próximas a Meca,
Maomé vê um ser gigantesco, mais tarde identificado como
o anjo Gabriel. O anjo lhe diz: "Tu és o mensageiro de
Deus". Esta aparição marca o começo de sua
carreira como profeta.
Maomé se inspira no judaísmo, cristianismo e masdeísmo
para elaborar sua doutrina. Perseguido em Meca, Maomé foge
para Medina em 622. O primeiro dia da fuga, chamada de hégira,
é considerada pelos muçulmanos como a data do início
de seu calendário, e corresponde ao 16 de julho de 622 no calendário
ocidental.
Quando morre Maomé, em 632, apenas o Hedjaz, na margem arábica
do mar Vermelho, é muçulmano. Durante o califado de
Abu Bakr, de 632 a 634, o islamismo é imposto ao Iêmen,
Barein, Omã e Síria. Começa assim a expansão
do Islã, baseada na jihad - guerra santa -, que se estende
da Espanha até a China e a Índia. O império árabe
reúne povos de diversas etnias e religiões, mas desenvolve
uma cultura comum a todas elas graças ao islamismo e à
língua árabe, difundidas entre os conquistados.
A partir do século 7, começa a infiltração
nos Exércitos árabes de turcos seljúcidas, convertidos
ao islamismo. Eles acabarão por lhes impor seu protetorado
e o Islã se expande pelo Império Otomano.
A cultura islâmica se desenvolve nos centros vitais do império
árabe: Bagdá, Córdoba, Cairo, Samarcanda, Damasco.
Através da dominação do território espanhol,
contribui para o início do Renascimento europeu, com a tradução
das obras de Aristóteles pelo cordobês Averroes.
As revelações de Alá a Maomé e as pregações
do profeta estão contidas no Corão, o livro sagrado.
Entre as obrigações dos islamitas está a de ir
pelo menos uma vez na vida a Meca. |
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