PEDIDA PENA DE MORTE CONTRA O IRA
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Publicado
na Folha de S.Paulo, domingo, 14 de outubro de 1984
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O estabelecimento da pena de morte para crimes de terrorismo pode
ser a principal consequência do atentado cometido pelo Exército
Republicano Irlandês (IRA) contra a primeira-ministra Margaret
Thatcher, em que morreram quatro pessoas e 35 ficaram feridas. Essa
proposta, que o deputado conservador Peter Bruinvels deverá
apresentar na próxima sessão do Parlamento, reflete
a indignação da opinião pública britânica
ante o atentado no Grand Hotel de Brighton, onde se realizava a convenção
do Partido Conservador.
Expressando
o repúdio à ação terrorista, o jornal
de maior circulação na Inglaterra - o "Sun",
de Londres - pediu, em editorial, uma "guerra total" contra
o IRA, cujos militantes "devem ser exterminados como ratos".
Os demais jornais também condenaram o atentado com veemência,
inclusive o comunista "Morning Star".
A Scotland
Yard anunciou a abertura de inquérito para apurar as circunstâncias
do atentado. Segundo os policiais, a bomba foi instalada algumas
semanas antes (por membros do IRA que conseguiram hospedar-se no
hotel sem despertar suspeitas), sendo acionada por um mecanismo
de controle remoto. No início do mês o FBI, a polícia
federal dos EUA, havia alertado a Scotland Yard sobre planos do
IRA para assassinar líderes políticos.
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Países
tem dificuldades em evitar terror |
Quando o corpo do presidente norte-americano John Kennedy crispou-se
e tombou sob as balas disparadas por Lee Oswald, num carro aberto,
em Dallas, Texas, 21 anos atrás, o mundo foi tomado pela surpresa
e pela dor. Hoje os atentados ainda provocam pesar, mas já
não surpreendem. Apesar das rigorosas medidas de segurança
tomadas para proteger os líderes políticos nas últimas
duas décadas, sequestros, explosões e assassinatos se
sucedem implacavelmente. Não há garantia absoluta contra
o terrorismo ou o fanalismo individual.
Nos
países comunistas, os governantes parecem ser poupados de
atentados. Mas fora deles, não há fronteira para os
crimes políticos. A lista de vítimas fatais nos últimos
cinco anos incluiu nomes tão conhecidos como o do presidente
egípcio Anuar Sadat, que caiu agonizante num palanque, crivado
de balas, em 1981, como abrange figuras obscuras como o presidente
iraniano Mohammad Ali Rajai e seu primeiro-ministro Mohammad Javad
Bahonar, que morreram numa explosão no mesmo ano.
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Perigo
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"Se há qualquer falha na segurança, ela será
encontrada por alguém suficientemente determinado", define
Sam Pope, um especialista em terrorismo do Instituto Real de Serviços
Unidos, de Londres. "É preciso melhorar os serviços
de informação para interceptar terroristas antes que
eles ajam", diz Ian Greig, do Instituto Britânico para
Estudos de Conflitos, também com sede em Londres.
Serviços
de segurança dos países capitalistas já compartilham
seus arquivos sobre suspeitos políticos. "Tornar as
coisas mais difíceis para o inimigo é tudo o que podemos
fazer", constata Greig, "mas não se pode ter cem
por cento de garantia".
Até
o assassinato de John Kennedy, a proteção dada aos
líderes políticos pelas forças de segurança
não era muito estudada ou minuciosa, nem mesmo nos Estados
Unidos, onde três presidentes já haviam sido assassinados.
Na Europa, muitos governantes ousavam até a dispensar o único
guarda encarregado de sua segurança. Nos últimos quinze
anos, porém, com os ataques sucessivos de grupos terroristas
na Europa e Oriente Médio, começou a era da sofisticação
policial.
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Brechas
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Na maioria dos países, os dirigentes políticos viajam
em carros à prova de balas, cercados por muitos guardas. Os
edifícios ao longo dos trajetos oficiais são inspecionados
em certas ocasiões. Reuniões internacionais de cúpula
costumam realizar-se em locais que podem ser completamente isolados,
para reduzir ao mínimo os riscos.
Sempre
há brechas, contudo. Em 1973, o primeiro-ministro franquista
Carrero Blanco voou pelos ares em seu carro, no mais espetacular
atentado a bomba realizado na Espanha pelos separistas bascos da
ETA. Dois anos depois, o rei Faissal, da Arábia Saudita,
morreu em consequência dos tiros de um sobrinho. O primeiro-ministro
da Itália, Aldo Moro, acabou nas mãos das Brigadas
Vermelhas, morto num "cárcere do povo", em 1978.
As
tentativas fracassadas de assassinato são bem mais numerosas
que as bem sucedidas. O ex-presidente norte-americano Gerald Ford,
por exemplo, sobreviveu a dois atentados na Califórnia, em
1976, quando estava no poder. Os dois criminosos estão até
hoje atrás das grades, cumprindo pena de prisão perpétua.
O ex-presidente
Jimmy Carter não sofreu qualquer atentado, mas seu sucessor
Ronald Reagan atraiu a atenção de um garoto desequilibrado,
John Hinkley, que disparou contra ele na frente de um hotel de Washington.
Reagan recuperou-se, tornou-se o homem mais bem vigiado do mundo
e Hinkley está confinado a uma clínica psiquiátrica
talvez pelo resto da vida.
O atentado
mais célebre das últimas décadas também
se inclui no rol das tentativas fracassadas de assassinato. Atirando
três vezes contra o papa João Paulo 2°, Ali Agca,
de nacionalidade turca, conseguiu apenas repúdio generalizado
e uma pena de prisão perpétua na Itália.
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