PAPA FERIDO A TIROS EM ATENTADO
"Por
que me fizeram isto?" - a pergunta de João Paulo 2º,
atingido pelos disparos de um extremista turco. Após demorada
cirurgia, o estado do Santo Padre é animador
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Publicado
na Folha de S.Paulo, quinta-feira, 14 de maio de 1981
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Pedro Del Picchia,
de Roma
"O estado de saúde do Santo Padre não é
muito grave" - esta é a última declaração
que o repórter da "Folha" conseguiu arrancar, já
na madrugada de hoje, de um médico do Policlínico Gemelle,
onde às 18h30 de ontem (13h30 de Brasília) João
Paulo 2º chegou numa ambulância da Cruz Vermelha Italiana,
depois de ser baleado, no primeiro atentado a tiros contra um pontífice
da Igreja Católica.
João Paulo 2º caiu atingido pelos disparos do extremista
de direita turco Mehemed Ali Agca exatamente às 17h19 (12h19
de Brasília), minutos após começar a percorrer
a praça de São Pedro, a bordo do jipe Fiat branco, como
faz todas as quartas-feiras, para saudar os fiéis.
Quatro detonações secas quebraram a alegria festiva
dos 30 mil fiéis e turistas. Em poucos segundos, toda a praça
soube o que acontecera: "Atiraram no Papa! Atiraram no Papa!"
Naquele momento, o autor do atentado - que fugira da prisão
em Istambul em 1979 "para matar o Papa", como na época
anunciou numa carta a um jornal turco - já estava nas mãos
da polícia Italiana, depois de escapar de uma ameaça
de linchamento. E João Paulo 2º , deitado no banco traseiro
do jipe aberto, nos jardins do Vaticano, esperava, lúcido e
sem um gemido, a chegada da ambulância. Só perdeu os
sentidos quando foi colocado na maca.
Ao chegar ao Policlínico de Roma, que fica a dois quilômetros
de São Pedro, o Papa recuperou os sentidos e murmurou com um
fio de voz: "Por que me fizeram isto?". Imediatamente, foi
levado para a sala de operações, onde lhe retiraram
55 centímetros dos intestinos dilacerados por uma das três
balas de 9 milímetros que o atingiram. O projétil que
provocou o ferimento mais grave entrou pelo abdômen e saiu pela
região dorsal. Os dois outros atingiram de raspão o
braço direito e o dedo mínimo da mão esquerda.
A quarta bala causou sério ferimento numa senhora americana,
e uma das três que acertaram o Papa acabou alojada em outra
senhora, jamaicana.
Mehemed Ali Agca foi desarmado pelos dois fotógrafos oficiais
da Santa Sé, que lhe retiraram na mão a pistola automática
Browning 9 mm. As pessoas próximas ao local do atentado começaram
a espancar violentamente o extremista, até que um policial
em trajes civis conseguiu livrá-lo da fúria da multidão
e levá-lo para a delegacia que fica encostada ao Vaticano.
Ali, o neonazista turco de 23 anos disse que quis matar o Papa por
"motivos políticos".
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