TODAS AS FORÇAS BRITANICAS SERÃO LANÇADAS CONTRA O REICH

Falando pela primeira vez o Parlamento, como chefe do governo, o sr. Churchill definiu a politica do novo gabinete: fazer a guerra em terra no mar e nos ares com todo o poderio inglez - "Temos em nossa frente longos mezes de soffrimentos e lutas" - Representantes de todos os partidos manifestaram sua confiança no novo ministerio, que apenas foi combatido pelo trabalhista independente Maxton

Publicado na Folha da Manhã, terça-feira, 14 de maio de 1940

Neste texto foi mantida a grafia original

LONDRES, 13 - A Camara dos Communs acclamou demoradamente o sr. Winston Churchill, quando o chefe do governo se apresentou pela primeira vez como primeiro ministro, perante o parlamento. O sr. Churchill sentou-se entre os srs. Attlee e Kingsley Wood. Alguns minutos mais tarde entrou o sr. Chamberlain, que recebeu uma ovação extremamente cordial. As acclamações se prolongaram até que o ex-chefe do governo tomou lugar ao lado do sr. Churchill. Novas acclamações se fizeram ouvir quando o primeiro ministro se ergueu para se dirigir aos deputados.

O discurso do sr. Churchill

"Sexta-feira passada à tarde, recebi de Sua Majestade a missão de organizar o novo gabinete. Era a vontade do parlamento e da nação, que esse governo fosse estabelecido sobre a mais larga base possivel e que em seu seio estivessem representados todos os partidos politicos. Já realizei a parte mais importante dessa obrigação. Um gabinete de guerra de 5 membros foi constituido, representando a unidade da nação com a opposição liberal e trabalhista. Era indispensavel que isso fosse feito em um unico dia, em face da extrema pressão e do rigor extremo dos acontecimentos.
Outros postos importantes foram preenchidos hontem. Devo submetter hoje à tarde, uma nova lista à Sua Majestade. Espero concluir minhas nomeações dos principais ministros amanhã. A designação dos outros ministros exige, geralmente, um pouco mais de tempo. Espero que quando a Camara se reunir novamente essa parte de minha missão já esteja terminada e que o governo já esteja completamente constituido."

Voto de confiança da Camara

"Foi no interesse geral, ao que penso, que sugeri ao 'speaker' que a Camara fosse convocada para hoje. Após os debates de hoje, a Camara entrará em férias até o dia 21 do corrente, mas em caso de necessidade, todos os seus membros serão convocados rapidamente. As questões que forem incluidas na ordem do dia serão communicadas aos membros da Camara immediatamente. Convido agora a Camara a assignalar por uma resolução a sua approvação das medidas que tomadas e declarar sua confiança no novo governo. Essa resolução é a seguinte: 'A Camara dos Communs acolhe com satisfação a formação de um governo que traduz a resolução unanime e inflexivel da nação, de prosseguir a guerra contra a Allemanha, até a victoria final'".

A política do novo governo

"A formação de um governo de tal porte e de tal complexidade é em si propria uma empresa séria. Estamos, porém, na phase preliminar de uma das maiores batalhas da historia. Estamos em pleno chão em outros pontos. Devemos estar apparelhados no Mediterraneo. A batalha aérea prosegue e numerosos preparativos devem ser feitos aqui mesmo. Declaro à Camara, como declarei já aos ministros que fazem parte deste governo, que nada tenho a offerecer se não o nosso sangue e nosso trabalho, nossas armas e nosso suor. Temos, diante de nós, a mais rude de todos as provações. Temos em nossa frente longos de soffrimentos e de lutas. Vós perguntaes qual é a nossa política? Direi que essa politica consiste em fazer a guerra (appalusos) em terra, no mar e nos ares, com todo o poder e com toda a força que Deus nos poude dar, guerra contra uma tyrannioa monstruosa, jamais concebida na sombra lamentavel do registro de crimes contra a Humanidade (applausos)."

"Queremos uma victoria completa"

"Senhores, vós perguntaes qual o nosso objectivo. Posso responder-vos, em uma palavra apenas: Victoria! (applausos prolongados). Queremos uma victoria absoluta e completa, uma victoria, a despeito de todos os terrores, uma victoria demorada e tão dura, por isso que sem essa victoria não haverá vida para nós.
"Que todos os inglezes prestem bem attenção às nossas palavras. Não haverá vida para o Imperio Britannico, não haverá vida para tudo o que esse imperio defende, não haverá vida para esse progresso secular que conduz a humanidade a um ideal. Assumo minhas funcções com enthusiasmo e esperança, (applausos) e estou convencido de que nossa causa será apoiada pela humanidade. Sinto-me com o direito nestas circunstancias de reclamar o auxilio de todos e exclamo: "Para a frente com todas as nossas forças unidas!" (Applausos e palmas prolongadas nas galerias)."

Fala o trabalhista Lee Smith

"Pediram-me - disse inicialmente o orador - que falasse depois o primeiro ministro, porque convinha assignalar o assentimento da Camara às palavras emocionantes e nobres que o sr. Winston Churchill acaba de dirigir à nação. Pediram-me que falasse afim de declarar immediatamente que apoiamos essa resolução e que fazemos os mais sinceros votos pelo exito da pesada tarefa do novo governo, tarefa essa tão cheia de espinhos como nunca na historia outra igual foi registrada".

O apoio dos trabalhistas

Em seguida faz um relatorio detalhado dos acontecimentos que levaram à formação do novo governo. Accentua o apoio do partido trabalhista "que não quiz se furtar às responsabilidades do momento". Salienta que a decisão de apoiar o governo foi tomada pela conferencia do partido trabalhista com uma maioria de 2.400.000 votos contra 170.000 e frisa que essa minoria é a mais fraca registrada desde o inicio das hostilidades. Logo após declara: "Chegamos à união pela discussão, pela persuação e benevolencia e o bom senso: Entre os nossos inimigos, a união é obtida por meio de campos de concentração, soffrimentos e execução. O primeiro ministro fez uma declaração de profundo alcance e sugeriu que se Hitler ganhar a guerra, nos imporia a sua formula de união pelos methodos mais terriveis, muito mais terríveis que os empregados na Polonia, na Checoslovaquia e na propria Allemanha. Se Hitler pensa que os debates e as divergencias de vistas assignaladas nesta Camara, na semana passada são provas de falta de unidade entre os inglezes basta que considere o que aconteceu durante os ultimos dias. Nenhum de nós viveu nunca e não será chamado a viver em dias mais dramaticos que os de hoje. É que a guerra chegou a seu ponto culminante e mais terrivel. O novo gabinete de guerra foi então organizado e os novos ministros da defesa nacional já estão em seus postos. Nenhum outro typo de governo teria podido realizar tal transformação com tão poucos precalços em tempo tão diminuto".

"Um parlamento livre representa uma força"

Em seguida occupa a tribuna o representante dos liberaes, "sir" Percy Harris, que profere a seguinte oração:
- "Exprimo nossa confiança no novo governo. O primeiro ministro tem duas qualidades essenciaes para ganhar a guerra: vigor e imaginação. O novo governo vae provar ao mundo que a democracia é capaz de fazer a guerra de uma maneira mais efficiente que seus inimigos. Um parlamento livre, longe de ser fraco, representa uma força. A presença de nosso lider no seio do novo governo confere ao partido liberal uma importancia especial nesta camara e em todo o paiz. nós poderiamos levar por diante essa guerra, seguindo a politica habitual de partidos. O sr. Chamberlain acaba de nos dar um exemplo magnifico, (vivos applausos). O novo primeiro ministro é essencialmente o homem da Camara dos Communs. O novo governo é o symbolo da unidade nacional. Terá o apoio não só do povo inglez mas o de milhões de homens que vivem além mar e só poderá estimular nossos aliados em seu nobre esforço para salvaguardar nossa liberdades communs".

O conservador setts sauda o novo governo

"Tendo votado sexta-feira passada a favor do governo precedente, quero ser um dos primeiros a desejar boas vindas ao novo governo (applausos). Se devemos ganhar a guerra, devemos formar uma colligação representando todos os principaes agrupamentos da opinião deste paiz, sem o que não teremos o esforço maximo em pról da victoria".

O trabalhista Maxton combate o gabinete Churchill

O trabalhista independente Maxton declara, em seguida: "Rejeito essa resolução, porque ella se oppõe a todas as minhas convicções politicas. Não approvo o governo assim constituido. Lamento que os membros da opposição trabalhista tenham acceitado funcções no novo gabinete. Este governo de colligação não é apresentado como uma coisa nova. Sabemos que taes governos são frequentes na França".
Accentua que um governo desse genero foi constituido durante a ultima guerra e que "depois disso, no fim das hostilidades, a Grã-Bretanha não teve nenhum governo capaz face à nova Europa, que deveria ser creada após uma victoria paga com tanto sangue".
Assim que o sr. Maxton concluiu sua oração, vozes exclamam: "Lloyd George! Lloyde George!".

Lloyd George felicita o novo "premier"

E o velho politico liberal se levanta e fala.
"Talvez, declara inicialmente, me seja permitido, a titulo de veterano desta casa, dizer algumas palavras a favor dessa resolução. (Applausos prolongados). Como um dos mais velhos amigos do primeiro ministro nesta Camara, eu o felicito péla sua escolha para essa alta função. Isso, em si é pouca coisa, mas felicito igualmente e paiz por ter à frente de seus destinos, neste momento particularmente critico e terrivel, um tal homem. Conhecemos todos os seus brilhantes dons de inteligencia, sua coragem, seu profundo conhecimento da guerra e sua experiencia das actuaes operações. Todas essas qualidades se fazem necessarias agora. congratulo-me com Sua Majestade, por lhe ter confiado a autoridade suprema., Ignoro se cabe s]ou não felicitar o primeiro ministro!.
"O sr. Winston Churchill assume a responsabilidade suprema no momento mais grave e no periodo mais critico. Nunca um primeiro ministro britanico assumiu suas funcções em momento tão terrivel. Todos nós do fundo do coração, desejamos ao novo governo o mais completo successo (applausos prolongados). Os amigos da liberdade através do mundo lhe desejarão as maiores felicidades. Suas esperanças estão voltadas para elle. Suas orações serão para elle e, segundo meu sentimento, os sacrificios da Grã-Bretanha e de seu Imperio estarão à sua disposição (acclamações).

Fala o laborista lambert

"O ex-primiero ministro deu provas de um grande espirito de sacrificio e de patriotismo (applausos) e continuará nesta assembléia como o typo de verdadeiro inglez".
Referindo-se à presença dos laboristas no novo governo, o orador pergunta: "Entraram elles para o governo como individuos livres ou estão subordinados ao partido? Espero, sinceramente que são livres para julgar, sem se referirem ao agrupamento externo".
A respeito do seu proprio partido, o orador declara: "Esperei que o sr. Churchill pudesse estar assegurado quanto à collaboração de alguns de meus collegas (acclamaçes ironicas dos laboristas) e estou certo de que essa collaboração do Partido Nacional Laborista lhe seria util".
Não ha mais opposição na Camara
Depois de curta intervenção do independente Hopkinsons, a favor do novo governo organize uma commissão encarregada de modificar os methodos usados na Camara, por isso que segundo friza, não mais ha opposição.
O laborista Ben Smith e sir Irving Albeny, conservador apoiam o novo governo mas o ultimo lamenta que durante os debates sobre a Noruega, alguns membros tivessem aproveitado a occasição para operar uma manobra poliica.

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