Dr. Goebbels
(Ministro
de Propaganda do Reich)
A opinião
publica allemã registra com algum espanto, a reacção
provocada nos circulos competentes das capitaes européas
pela divulgação da lei que estabelece o exercito allemão.
Suppunha ella que o resto do mundo havia de tomar conhecimento de
tal facto com um sentimento de visivel allivio e satisfação
intima. Ora, a exposição franca e sem peias das intenções
allemãs representa, em verdade, um elemento tranquilizador
que, para a contemplação logica e proveitosa da situação
européa, devia ser motivo para alegria, se não absolutamente
indispensavel. O segredo que envolveu, nos mezes e annos passados,
a questão da defesa allemã, provocou frequentes e
vivas queixas precisamente por parte das espheras officiaes e officiosas
dos paizes estrangeiros, sobretudo em consideração
à circumstancia de que, sem um conhecimento irrestricto das
intenções da Allemanha, estaria excluida a hypothese
de uma consolidação da paz, segundo se dizia. Em virtude
disso, manifestou-se nessas espheras, mais de uma vez, o desejo
de que a Allemanha puzesse um fim a esse mysterio e expuzesse, claramente,
para onde rumava, o que pretendia e quaes os planos perseguidos.
Tornava-se tanto mais premente a acquiescencia a esse anhelo, dado
que a maioria dos jornaes estrangeiros em parte orgãos influentes,
se distrahiam em calculos vagos e fantasticos que não tinham
nenhum fundamento comparados com os factos reaes, mas que, para
dahi além, só pareciam indicados para conduzir os
povos a um estado psychico assaz perigoso que lhes trazia a visão
da guerra. Nenhum outro campo se presta tão pouco para conjecturas
exaggeradas e extravagantes, como precisamente o militar-politico.
Do que se carece aqui é clareza, pois somente desta é
que se consegue desenvolver essa logica real que possue, ella só,
a força interna para esclarecer uma situação
embaraçosa e crystalizar os elementos correspondentes da
segurança e estabilidade politica inherentes da mesma.
A necessidade de que o mundo sentia de obter clareza com respeito
ao estado de preparação bellica da Alemanha, póde
ser verificada pelo facto de ter elle mesmo tentado conseguir, por
todos os meios ao seu alcance, os dados que a Allemanha lhe sonegava.
O gesto historico que o "Fuehrer" teve no dia 16 de março,
poz termo a esse processo que se tinha de contentar com vagas supposições.
A resposta dada por Baldwin, em nome do governo britannico, ao discurso
de Churchill, é igualmente significativa. Diz elle ahi:
Uma das razões do mal estar de que a Europa padece hoje é,
conforme o provarei, não apenas o temor, porém a ignorancia
reinante fóra da Allemanha e a retenção do
segredo dentro della".
Póde-se condemnar o governo allemão, se, quatro mezes
mais tarde, elle remove os motivos desse mal estar, mediante uma
explicação aberta, pondo termo ao temor e à
ignorancia?! Baldwin declara ainda:
"Nutro esta convicção e aqui falo com um sentimento
de responsabilidade, quando me refiro ao estado de receio que impera
em toda a Europa, não apenas da natureza, como essa a que
dou expressão, porém, receio ante um terror incognoscivel
que poderia irromper, um receio que consiste principalmente, na
ignorancia do que ocorre na Allemanha".
A proclamação do "Fuehrer" a todo o povo
allemão e á opinião mundial, lançada
em meiados de março, explica expressamente que a reimplantação
do serviço militar obrigatorio na Allemanha não traz
no seu bojo nenhum plano bellicoso, mas que, ao contrario, vae servir
à conservação da paz. Por conseguinte, mediante
a remoção da ignorancia quanto às intenções
allemãs, foi posto termo ao receio em torno de um terror
desconhecido, prestes a irromper.
No dia 8 de março passado, o "Matin" trouxe uma
entrevista que lhe fôra concedida pelo Marechal Pétain.
Diz esse cabo de guerra:
"O prolongamento do tempo do serviço militar é
absolutamente necessario e premente, pois não se trata de
resolver sómente uma questão theorica, mas, sim, uma
questão pratica. Em vista do rearmamento intenso da Allemanha
e do perigo de um ataque de surpreza, como é que havemos
de garantir a inviolabilidade de nossas fronteiras? O exercito do
vizinho compõem-se de 600.000 homens, promptos a entrar em
acção".
Em seu discurso inaugural, por occasião da abertura da feira
de Lyon, a 10 de março, o presidente do Conselho de Ministros
de França, Mr. Flandin, declarou: "O rearmamento da
Allemanha, que os signatarios do tratado de Versailles foram impotentes
de impedir, tornou muito mais perigoso a França a entrada
nos annos em que ha um desfalque no numero de recrutas". O
presidente do Conselho Francez disse ainda, em seu grande discurso
perante a Camara, no dia 15 do mesmo mez, pleiteando o restabelecimento
do serviço obrigatorio de dois annos: - "segundo os
planos, que são conhecidos de todos, a Allemanha disporá,
no anno de 1936, no minimo de 600.000 homens". Sim, esse facto
supposto foi explorado expressamente pelo governo francez, como
razão e motivo para o restabelecimento do serviço
militar de dois annos na França.
Sabe agora o mundo a quantas anda. Não quer isto dizer que
elle não o soubesse antes. Por meio da proclamação
e da lei sobre a reorganização do exercito, elle apenas
recebeu a segurança firme do que já era do seu dominio
e de cujo conhecimento elle não fazia nenhum segredo em suas
divulgações officiaes e officiosas.
Nos debates havidos na Camara dos Communs, na Inglaterra, em 28
de Novembro do anno passado, Winston Churchill assim se externou:
Ora, qual é o novo e grande acontecimento que se verificou
no decorrer destes ultimos 18 mezes - a Allemanha rearma-se!...
Pelo que ouvimos dizer, de relatos que se nos faz e que vem até
nós oriundos de todas as fontes possiveis - embora disso
pouco se fale em publico - a Allemanha já possue um exercito
poderoso e bem equipado, dispondo de uma artilharia excellente e
de enormes reservas em homens instruidos. As fabricas de armas allemãs
trabalham praticamente em preparativos bellicos, o material de guerra
jorra das mesmas - com certeza desde os ultimos 12 mezes - em massa
sempre crescente".
Como se vê, já no dia 28 de Novembro de 1934, antecipa-se,
no discurso de um politico inglez, um estado de rearmamento allemão,
dando-se-lhe uma extensão que, em realidade, não é
alcançado nem mesmo pela lei de 16 de Março. Tambem
a conclusão a que Churchill chega em face desse facto, pode
receber o beneplacito da Allemanha: "Tambem ahi não
existe razão de ser para se admittir que a Allemanha nos
atacará". Mas já nesse mesmo dia 28 de Novembro,
Churchill declara, ao desenvolver o seu discurso, que chegára
a época "em que o véo que envolve o segredo em
torno do rearmamento allemão devia ser levantado".
Ora, perguntar-se-á, não é natural, que provoque
admiração quando a opinião universal, de repente,
sob desattenção a esses factos documentadamente estabelecidos,
simula espanto e inquetação em face da reimplantação
do serviço militar obrigatorio na Allemanha, o qual tem em
mira tão somente uma parte daquillo que ahi partindo de uma
autoridade official, já é apresentado como cousa estabelecida
nas discussões de política interna dos referidos paizes?
Não seria prova de coragem, coherencia e logica, não
corresponderia mais à realidade de uma nova observação
dos factos de, ahi além, todos se collocassem sobre o ponto
de vista assumido pelo publicista brittanico I.L. Garvin? Em seu
artigo de 3 de Março ultimo, sahido no "Observer",
elle escreve:
"No tocante ao armamento ou desarmamento, deve ser reconhecido
a Allemanha, uma vez por todas, como uma conjectura moral, tratamento
igual e absoluto entre as potencias. Essa igualdade no tratamento
deve ser concedida sem restricções, como se jamais
se tivesse ferida a guerra mundial e jamais tivesse existido uma
paz de Versailles".
Durante 15 annos a Allemanha esperou que os signatarios do estatuto
de Versailles cumprissem as clausulas a que se haviam obrigado quanto
ao desarmamento, a exemplo do que fizera a Allemanha. Ao em vez
disso, o mundo armou-se cada vez mais, occupando-se, de resto, apenas
com debates theoricos e platonicos. O "Fuehrer" cançou-se
de affirmar em publico que elle estaria prompto a reduzir a pedaços
a ultima metralhadora, caso o mundo fizesse o mesmo. No entretanto,
suas palavras jamais encontraram éco lá fora. A Allemanha
se viu forçada a tirar as consequencias dessa situação,
sobretudo ao levar em conta que os outros paizes estavam tratando
de reforçar os effectivos dos respectivos exercitos, tomando
por base um material não controlado que se fundamentava apenas
em supposições phantasticas.
Um paiz desarmado representa, em meio de um mundo eriçado
de baionetas, um constante desafio para a guerra. A Europa se inquietava
ante uma Allemanha desarmada, e não ante uma Allemanha armada.
Mercê da reimplantação do serviço militar
obrigatorio, restabeleceu-se o equilibrio tão necessario
para se poder iniciar as discussões fecundantes em torno
dos magnos problemas da politica universal, ainda sem solução.
A Allemanha quer collaborar na obra da paz; tanto quanto os outros
povos, ella carece de tranquilidade. O mundo andaria acertado se
se dedicasse ao problema que consiste em tirar da situação
creada os elementos que de facto conduzirão a um socego duradouro.
Todos os povos manifestam um profundo anseio nesse sentido.
Ninguem na Europa, por menor que seja o vestigio de senso de responsabilidade
que o anime, alimenta a crença de que os damnos causados
pela guerra, que um trabalho de 17 annos de paz não conseguiu
remover, possam ser removidos por meio de um novo conflicto armado.
Numa tal situação, que offerece todas as possibilidades
para um verdadeiro entendimento entre os povos, é necessario
que haja clareza e logica. Não haveria nada mais perigoso
que erigir uma nova torre povoada de illusões e chimeras.
Quanto mais cedo os responsaveis pelos destinos das nações
fizerem valer a razão e o bom senso humanos, tanto mais penetrante
será a feliz transformação que se operará
na Europa, trazendo, como consequencia, um novo estado de cousas.
Poz-se termo a esses mysterios, de que os outros se queixavam, purificando-se
assim, a atmosphera. A Allemanha quer tomar parte no concerto das
nações, com paridade de direitos, seriamente disposta
a cooperar, com a melhor de suas energias, na manutenção
da paz na Europa e na confraternização dos povos.
Com profunda gratidão, o povo germanico tomou conhecimento
da grande corajosa resolução do "Fuehrer".
Não correspondeu a esse gesto brioso com enthusiasmo guerreiro
e com hymnos de "revanche"; não, cheio de orgulho
e dignidade, elle se sentiu de novo repousado na segurança
creada pela sua propria força, pois sua sorte se encontra
bem guardada nas mãos de Adolf Hitler.
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