CLAREZA E LOGICA


(Colaboração exclusiva da "Folha da Manhã" - Reprodução interdicial)

Publicado na Folha de S.Paulo, domingo, 14 de abril de 1935

Neste texto foi mantida a grafia original

Dr. Goebbels

(Ministro de Propaganda do Reich)

A opinião publica allemã registra com algum espanto, a reacção provocada nos circulos competentes das capitaes européas pela divulgação da lei que estabelece o exercito allemão. Suppunha ella que o resto do mundo havia de tomar conhecimento de tal facto com um sentimento de visivel allivio e satisfação intima. Ora, a exposição franca e sem peias das intenções allemãs representa, em verdade, um elemento tranquilizador que, para a contemplação logica e proveitosa da situação européa, devia ser motivo para alegria, se não absolutamente indispensavel. O segredo que envolveu, nos mezes e annos passados, a questão da defesa allemã, provocou frequentes e vivas queixas precisamente por parte das espheras officiaes e officiosas dos paizes estrangeiros, sobretudo em consideração à circumstancia de que, sem um conhecimento irrestricto das intenções da Allemanha, estaria excluida a hypothese de uma consolidação da paz, segundo se dizia. Em virtude disso, manifestou-se nessas espheras, mais de uma vez, o desejo de que a Allemanha puzesse um fim a esse mysterio e expuzesse, claramente, para onde rumava, o que pretendia e quaes os planos perseguidos.
Tornava-se tanto mais premente a acquiescencia a esse anhelo, dado que a maioria dos jornaes estrangeiros em parte orgãos influentes, se distrahiam em calculos vagos e fantasticos que não tinham nenhum fundamento comparados com os factos reaes, mas que, para dahi além, só pareciam indicados para conduzir os povos a um estado psychico assaz perigoso que lhes trazia a visão da guerra. Nenhum outro campo se presta tão pouco para conjecturas exaggeradas e extravagantes, como precisamente o militar-politico. Do que se carece aqui é clareza, pois somente desta é que se consegue desenvolver essa logica real que possue, ella só, a força interna para esclarecer uma situação embaraçosa e crystalizar os elementos correspondentes da segurança e estabilidade politica inherentes da mesma.
A necessidade de que o mundo sentia de obter clareza com respeito ao estado de preparação bellica da Alemanha, póde ser verificada pelo facto de ter elle mesmo tentado conseguir, por todos os meios ao seu alcance, os dados que a Allemanha lhe sonegava. O gesto historico que o "Fuehrer" teve no dia 16 de março, poz termo a esse processo que se tinha de contentar com vagas supposições.
A resposta dada por Baldwin, em nome do governo britannico, ao discurso de Churchill, é igualmente significativa. Diz elle ahi:
Uma das razões do mal estar de que a Europa padece hoje é, conforme o provarei, não apenas o temor, porém a ignorancia reinante fóra da Allemanha e a retenção do segredo dentro della".
Póde-se condemnar o governo allemão, se, quatro mezes mais tarde, elle remove os motivos desse mal estar, mediante uma explicação aberta, pondo termo ao temor e à ignorancia?! Baldwin declara ainda:
"Nutro esta convicção e aqui falo com um sentimento de responsabilidade, quando me refiro ao estado de receio que impera em toda a Europa, não apenas da natureza, como essa a que dou expressão, porém, receio ante um terror incognoscivel que poderia irromper, um receio que consiste principalmente, na ignorancia do que ocorre na Allemanha".
A proclamação do "Fuehrer" a todo o povo allemão e á opinião mundial, lançada em meiados de março, explica expressamente que a reimplantação do serviço militar obrigatorio na Allemanha não traz no seu bojo nenhum plano bellicoso, mas que, ao contrario, vae servir à conservação da paz. Por conseguinte, mediante a remoção da ignorancia quanto às intenções allemãs, foi posto termo ao receio em torno de um terror desconhecido, prestes a irromper.
No dia 8 de março passado, o "Matin" trouxe uma entrevista que lhe fôra concedida pelo Marechal Pétain. Diz esse cabo de guerra:
"O prolongamento do tempo do serviço militar é absolutamente necessario e premente, pois não se trata de resolver sómente uma questão theorica, mas, sim, uma questão pratica. Em vista do rearmamento intenso da Allemanha e do perigo de um ataque de surpreza, como é que havemos de garantir a inviolabilidade de nossas fronteiras? O exercito do vizinho compõem-se de 600.000 homens, promptos a entrar em acção".
Em seu discurso inaugural, por occasião da abertura da feira de Lyon, a 10 de março, o presidente do Conselho de Ministros de França, Mr. Flandin, declarou: "O rearmamento da Allemanha, que os signatarios do tratado de Versailles foram impotentes de impedir, tornou muito mais perigoso a França a entrada nos annos em que ha um desfalque no numero de recrutas". O presidente do Conselho Francez disse ainda, em seu grande discurso perante a Camara, no dia 15 do mesmo mez, pleiteando o restabelecimento do serviço obrigatorio de dois annos: - "segundo os planos, que são conhecidos de todos, a Allemanha disporá, no anno de 1936, no minimo de 600.000 homens". Sim, esse facto supposto foi explorado expressamente pelo governo francez, como razão e motivo para o restabelecimento do serviço militar de dois annos na França.
Sabe agora o mundo a quantas anda. Não quer isto dizer que elle não o soubesse antes. Por meio da proclamação e da lei sobre a reorganização do exercito, elle apenas recebeu a segurança firme do que já era do seu dominio e de cujo conhecimento elle não fazia nenhum segredo em suas divulgações officiaes e officiosas.
Nos debates havidos na Camara dos Communs, na Inglaterra, em 28 de Novembro do anno passado, Winston Churchill assim se externou:
Ora, qual é o novo e grande acontecimento que se verificou no decorrer destes ultimos 18 mezes - a Allemanha rearma-se!... Pelo que ouvimos dizer, de relatos que se nos faz e que vem até nós oriundos de todas as fontes possiveis - embora disso pouco se fale em publico - a Allemanha já possue um exercito poderoso e bem equipado, dispondo de uma artilharia excellente e de enormes reservas em homens instruidos. As fabricas de armas allemãs trabalham praticamente em preparativos bellicos, o material de guerra jorra das mesmas - com certeza desde os ultimos 12 mezes - em massa sempre crescente".
Como se vê, já no dia 28 de Novembro de 1934, antecipa-se, no discurso de um politico inglez, um estado de rearmamento allemão, dando-se-lhe uma extensão que, em realidade, não é alcançado nem mesmo pela lei de 16 de Março. Tambem a conclusão a que Churchill chega em face desse facto, pode receber o beneplacito da Allemanha: "Tambem ahi não existe razão de ser para se admittir que a Allemanha nos atacará". Mas já nesse mesmo dia 28 de Novembro, Churchill declara, ao desenvolver o seu discurso, que chegára a época "em que o véo que envolve o segredo em torno do rearmamento allemão devia ser levantado".
Ora, perguntar-se-á, não é natural, que provoque admiração quando a opinião universal, de repente, sob desattenção a esses factos documentadamente estabelecidos, simula espanto e inquetação em face da reimplantação do serviço militar obrigatorio na Allemanha, o qual tem em mira tão somente uma parte daquillo que ahi partindo de uma autoridade official, já é apresentado como cousa estabelecida nas discussões de política interna dos referidos paizes? Não seria prova de coragem, coherencia e logica, não corresponderia mais à realidade de uma nova observação dos factos de, ahi além, todos se collocassem sobre o ponto de vista assumido pelo publicista brittanico I.L. Garvin? Em seu artigo de 3 de Março ultimo, sahido no "Observer", elle escreve:
"No tocante ao armamento ou desarmamento, deve ser reconhecido a Allemanha, uma vez por todas, como uma conjectura moral, tratamento igual e absoluto entre as potencias. Essa igualdade no tratamento deve ser concedida sem restricções, como se jamais se tivesse ferida a guerra mundial e jamais tivesse existido uma paz de Versailles".
Durante 15 annos a Allemanha esperou que os signatarios do estatuto de Versailles cumprissem as clausulas a que se haviam obrigado quanto ao desarmamento, a exemplo do que fizera a Allemanha. Ao em vez disso, o mundo armou-se cada vez mais, occupando-se, de resto, apenas com debates theoricos e platonicos. O "Fuehrer" cançou-se de affirmar em publico que elle estaria prompto a reduzir a pedaços a ultima metralhadora, caso o mundo fizesse o mesmo. No entretanto, suas palavras jamais encontraram éco lá fora. A Allemanha se viu forçada a tirar as consequencias dessa situação, sobretudo ao levar em conta que os outros paizes estavam tratando de reforçar os effectivos dos respectivos exercitos, tomando por base um material não controlado que se fundamentava apenas em supposições phantasticas.
Um paiz desarmado representa, em meio de um mundo eriçado de baionetas, um constante desafio para a guerra. A Europa se inquietava ante uma Allemanha desarmada, e não ante uma Allemanha armada. Mercê da reimplantação do serviço militar obrigatorio, restabeleceu-se o equilibrio tão necessario para se poder iniciar as discussões fecundantes em torno dos magnos problemas da politica universal, ainda sem solução. A Allemanha quer collaborar na obra da paz; tanto quanto os outros povos, ella carece de tranquilidade. O mundo andaria acertado se se dedicasse ao problema que consiste em tirar da situação creada os elementos que de facto conduzirão a um socego duradouro. Todos os povos manifestam um profundo anseio nesse sentido.
Ninguem na Europa, por menor que seja o vestigio de senso de responsabilidade que o anime, alimenta a crença de que os damnos causados pela guerra, que um trabalho de 17 annos de paz não conseguiu remover, possam ser removidos por meio de um novo conflicto armado.
Numa tal situação, que offerece todas as possibilidades para um verdadeiro entendimento entre os povos, é necessario que haja clareza e logica. Não haveria nada mais perigoso que erigir uma nova torre povoada de illusões e chimeras. Quanto mais cedo os responsaveis pelos destinos das nações fizerem valer a razão e o bom senso humanos, tanto mais penetrante será a feliz transformação que se operará na Europa, trazendo, como consequencia, um novo estado de cousas. Poz-se termo a esses mysterios, de que os outros se queixavam, purificando-se assim, a atmosphera. A Allemanha quer tomar parte no concerto das nações, com paridade de direitos, seriamente disposta a cooperar, com a melhor de suas energias, na manutenção da paz na Europa e na confraternização dos povos.
Com profunda gratidão, o povo germanico tomou conhecimento da grande corajosa resolução do "Fuehrer". Não correspondeu a esse gesto brioso com enthusiasmo guerreiro e com hymnos de "revanche"; não, cheio de orgulho e dignidade, elle se sentiu de novo repousado na segurança creada pela sua propria força, pois sua sorte se encontra bem guardada nas mãos de Adolf Hitler.


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