ASSINADO O ACÔRDO PARA A CESSAÇÃO
DA LUTA ENTRE AS TROPAS BRITÂNICAS E AS FÔRÇAS
"ELAS", NA GRÉCIA
Estabelecido prazo até segunda-feira para a paralisação
completa das hostilidades
Recusada
a libertação dos reféns civis gregos - Advertência
britanica contra a atitude dos líderes rebeldes
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Publicado
na Folha da Manhã, sábado, 13 de janeiro de
1945
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Neste texto foi mantida a grafia original
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ATENAS, 12 - Foi assinado nesta Capital o acôrdo entre
o general Scobie, comandante-chefe das fôrças britânicas
na Grécia e os líderes representantes da "ELAS",
para cessação completa das hostilidades.
Os representantes da "ELAS" que assinaram o acôrdo
são os srs. Zevgos, ex-ministro da Agricultura; Partsalidas,
secretário do Comitê Central da "E.A.M." e
os oficiais Dacridis e Athinellis.
A assinatura do importante documento verificou-se no 3º andar
do edificio ocupado pelo Quartel General de Scobie, em uma sala adjunta
ao gabinete particular do comandante-chefe britanico. O primeiro a
apor a sua assinatura foi o general Scobie, o qual, a seguir, se retirou,
passando, então, o acôrdo a ser assinado pelos representantes
"elistas".
Foi distribuída uma nota oficial, dando conta do fato, nos
seguintes têrmos: "Uma trégua foi assinada entre
as fôrças britânicas em terra, na Grécia,
e o Comitê Especial da "ELAS", às 22 h 30 de
ontem, pelo general Scobie, de um lado, e pelos srs. João Zevgos,
Demetros Partsalidas, Theodore Dacridis e Atanasios Athinellis, de
outro.
A pedido dos representantes da "ELAS", as hostilidades cessarão
às 10 horas de 15 de janeiro, sendo êste prazo marcado
para que haja tempo de se expedirem as necessárias ordens.
O acôrdo foi assinado depois de dois dias de negociações,
iniciadas quarta-feira, às 4 h 30 da tarde, e que prosseguiram
até às 13 horas de hoje e, finalmente, terminaram com
a assinatura, exatamente às 20 horas".
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Texto
do acôrdo |
ATENAS, 12 - É o seguinte o texto do acôrdo assinado
entre o general Ronald Scobie, comandante-chefe das fôrças
britânicas na Grécia, e os representantes autorizados
do Comitê Central da "ELAS", para a cessação
completa das hostilidades:
1. A fim de que se realizem as discussões entre o govêrno
grego e os representantes do movimento da "ELAS", para a
solução das questões pendentes, as hostilidades
cessarão às 10 horas de 15 de janeiro de 1945.
2. As fôrças da "ELAS", que presentemente se
acham a leste e ao sul da linha geral da estrada de rodagem Ites-Amphissa-Lamiadiz-Dhemokos-Fersala
e daí, no rumo leste, ao longo da estrada de rodagem para a
aldeia da Ambella e depois ao longo da estrada de rodagem ou caminho
de Sorestinon-Kanalia-Akr-Kavos-Koutsohumbou, retirar-se-ão
e ficarão ao oeste e norte dessa linha- de modo que essas estradas
possam ser usadas sem qualquer receio ou obstáculo. As tropas
da "ELAS" evacuarão tôdas as cidades e aldeias
citadas neste artigo. Essa retirada e essa evacuação
ficarão ultimadas a 13 de janeiro de 1945.
3. As fôrças da "ELAS", que presentemente estão
na área em tôrno de Salônica serão retiradas
e ficarão na parte externa dessa área evacuando Salônica.
Essa retirada e essa evacuação ficarão ultimadas
a 17 de janeiro de 1945.
4. Todos os membros das fôrças da "ELAS", cujo
normal local de resistência seja fora do Peloponeso, mas que
estejam no presente na citada região do Peloponeso, serão
dela retirados; todos os membros das fôrças "ELAS",
cujo normal de resistência é dentro do Peloponeso, mas
que estejam presentemente em outros pontos, serão internados
no Peloponeso e ficarão, então, sujeitos aos dispositivos
do artigo 3, mais adiante.
Os representantes do Comitê Central da "ELAS", cujas
assinaturas seguem abaixo, notificarão o comandante-chefe imediatamente
sôbre as fôrças e localizações dêsses
membros e sôbre o método a usar para a evacuação
e sôbre as estradas de retirada, e essa retirada será
supervisionada pelas autoridades de transportes. Tôdas as outras
fôrças da "ELAS", residentes na ilha de Santa,
Ilha Eubes, Ilha Kithera e nas Cicladas e Sporadas, serão retiradas.
Os representantes acima referidos notificarão o comandante-chefe
imediatamente informando, em consequência, sôbre as fôrças
e localizações dêsses membros e sôbre o
método e as estradas de retirada; C - O pessoal e fôrças
retiradas, de conformidade com os dispositivos dêste artigo,
serão mandados para o oeste e norte da linha descrita no artigo
2; D - Essa retirada ficará ultimada no dia 24 de janeiro de
1945.
5. Todos os membros da "ELAS" cujos locais de residência
sejam dentro do Peloponeso e que presentemente ali estejam, serão
retirados e ficarão ao sul da linha geral de Pyrgos e Argos
(particularmente definida no apêndice 4) e da maneira como esta
essa linha é traçada no mapa adendo ao apêncide
5; essa retirada ficará ultimada no dia 19 de janeiro de 1945.
6. Os seguintes acôrdos são feitos relativamente aos
prisioneiros: a) - Todo o pessoal do serviço armado, de qualquer
nacionalidade, inclusive da polícia grega e da gendarmeria,
capturado pela "ELAS" será restituido; não
se compreendem nesse dispositivo, porém, os civis detidos pela
polícia civil da E. A. M.; b) - igual número de prisioneiros
"elistas" será libertado pelas autoridades britânicas,
em troca; c) - O cômputo numérico para a permuta de prisioneiros
será estabelecido de conformidade com os parágrafos
acima A e B não se levando em conta os gravemente feridos,
os quais serão restituidos fora da conta; d) - Todos os civis
britânicos capturados serão restituidos, sejam quais
forem a identidade de seus captores, local onde tenham sido capturados
ou localização presente; e) - Os dispositivos acima
serão cumpridos nos prazos e de acôrdo com instruções
que serão expedidas pelo comandante-chefe.
7. - Qualquer omissão de parte da "ELAS", na observação
dos têrmos dêste acôrdo, ou qualquer ataque ela
qualquer parte da Grécia, ou contra qualquer funcionário
ou membro das fôrças nacionais gregas, da polícia
ou da gendarmeria, serão considerados como quebra desta trégua.
Êste acôrdo foi feito e redigido em dois originais, um
em inglês e outro em grego.
Atenas, 22 horas e meia do dia 11 de janeiro de 1945". (a) -
Ronald Scobie, João Zevgos, Demetros Partsalides, Theodore
Dacridis, Atanasios Athinellis".
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Terminou
praticamente a luta |
LONDRES, 12 - Segundo o esquema do acôrdo assinado pelo
general Scobie e pelos representantes das fôrças "Elas",
os rebeldes deverão abandonar tôda a extremidade sudeste
da Grécia e retirar-se-ão para além de uma linha
estabelecida à uma distância de 120 a 190 quilômetros
de Atenas, que corre de um ponto situado imediatamente ao norte de
Ites, no gôlfo de Corinto, até um ponto situado a 128
quilômetros a oeste-noroeste de Atenas, passando por Amphissa,
e dai ao longo do eixo da principal estrada de rodagem de Larissa
até Fersala onde se volta para o lago Karland e daí
para o mar Egeu, que atinge em um ponto a 190 quilômetros ao
norte de Atenas.
Ao que parece, essa superficie é maior do que a sugerida nos
primeiros têrmos da trégua apresentados pelo general
Scobie, no mês passado e revisado em virtude dos últimos
acontecimentos.
O general Scobie na reunião em que foi assinado o armisticio,
disse aos delegados da "Elas" que a cessação
de fogo, por parte dos britânicos poderia ter lugar seis horas
após a assinatura do acôrdo.
Os representantes da "Elas", porém disseram que,
devido à natureza de sua organização, não
podiam transmitir suas ordens tão rapidamente e, em resultado
disso, concordou-se em que as hostilidades não cessarão
antes de 15 de janeiro, isto é, segunda-feira.
No entanto, a luta virtualmente já cessou e, exceto alguns
incidentes sem importância, entre as patrulhas mais avançadas
e as fôrça "Elas" em retirada. Não chegaram
hoje a Atenas quaisquer informações de lutas.
Espera-se ainda que após a cessação oficial das
hostilidades, o regente convocará nova reunião da Conferência
da Mesa Redonda Grega, que foi adiada em 27 de dezembro.
É improvável, porém, que essa conferência
se reuna antes de 24 de janeiro, dia em que se esgota o prazo para
o cumprimento das condições do armisticio.
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Não
serão libertados pela "ELAS" os reféns civis
gregos |
LONDRES, 12 - A satisfação geral assinalada em
Londres por motivo da assinatura em Atenas de trégua entre
as fôrças britânicas e os rebeldes é contrabalançada
pela recusa, dos representantes das fôrças "ELAS"
de libertarem os reféns civis gregos, muito embora os reféns
civis britânicos sejam devolvidos ao general Scobie.
O regente da Grécia ainda não se manifestou sôbre
o assunto, sabendo-se porém, que ele está profundamente
chocado com a recusa das fôrças "ELAS".
Verificando que os representantes da "ELAS" adotaram uma
atitude obstinada a êste respeito, o general Scobie preferiu
assegurar o mais rapidamente possível uma trégua, embora
os têrmos não sejam de todo satisfatórios, ao
invés de prolongar a luta.
A questão dos reféns civis gregos será possivelmente
objeto de negociações entre os representantes da "ELAS"
e o govêrno grego. Foi o próprio regente da Grécia
quem sugeriu essa orientação.
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O
motivo apresentado para a recusa |
ATENAS, 12 - Afirma-se que o arcebispo Damaskinos, regente
da Grécia, tem a opinião de que os reféns totalizam
agora 15 mil pessoas. Algumas centenas são dadas como tendo
sido libertadas pela "ELAS", em sua rápida retirada
da área de Tebas.
Consta que os emissários da "ELAS" não deram
as razões de sua recusa de entragar os reféns, exceto
o fato de os mesmos terem sido detidos pela polícia civil da
"E.A.M." e não pela "ELAS" e, em resultado,
não estarem sujeitos à competência do comitê
central da "ELAS".
É dificil calcular o número de reféns civis em
poder da "ELAS", porquanto essas fôrças parecem
continuar a fazer prisioneiros civis, à medida que se retiram.
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Advertência
do govêrno Britânico às fôrças "ELAS" |
LONDRES, 12 - A residência do primeiro ministro em Downing
Street, 10, divulgou hoje a seguinte declaração:
"Os têrmos assinados pelos representantes britânicos
e da "ELAS", para um armisticio, são endossados pelo
govêrno de s. majestade. No entanto, a captura e a detenção
de reféns é um costume bárbaro condenado pela
lei internacional. Assim sendo, o govêrno de s. majestade torna
claro que nenhum armisticio pode ser duradouro ou se transformar em
paz, a menos e até que os reféns detidos pela "ELAS"
sejam efetivamente salvaguardados e libertados".
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Comunicados
ao arcebispo Damaskinos os têrmos do acôrdo |
ATENAS, 12 - Após a assinatura do armisticio, o general
Scobie acompanhado do seu oficial superior-ajudante apresentou-se
ao regente arcebispo Damaskinos, ao qual comunicou os têrmos
do acôrdo.
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Criticada
pelo regente a detenção de civis pelos rebeldes |
ATENAS, 12 - O arcebispo Damaskinos criticou severamente o
fato de o acôrdo entre o general Scobie e a "Elas",
não prever a libertação dos paisanos detidos
pela polícia civil da organização "E.A.M.".
Nesse sentido, Damaskinos dirigiu uma mensagem à "Elas",
declarando ter ficado profundamente sentido ao saber da recusa de
pôr em liberdade milhares de homens e mulheres inocentes detidos
como reféns.
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Declarações
à imprensa |
ATENAS, 12 - O regente da Grécia, arcebispo Damaskinos,
chamou ao palácio os jornalistas estrangeiros para lhes fazer
a seguinte declaração:
"Os guerrilheiros "Elas" estão se retirando
para o norte e levam consigo milhares de reféns de tôdas
as idades e de ambos os sexos, sem se importarem com o estado de saúde
dos mesmos e submetendo-os a brutalidades inauditas, em nome da liberdade".
O arcebispo acrescentou:
"Desejo salientar que a questão dos reféns, por
ser especialmente característica e porque êsse foi o
motivo pelo qual participei da oposição contra os alemães
- constitue uma resposta à alegação dos "E.A.M."
de que a polícia civil rebelde começou a fazer reféns
depois que a polícia grega efetuou injustificáveis prisões
de simpatizantes "Elas".
Mais adiante, o arcebispo manifestou que "o Estado não
tem o direito, nem tampouco os cidadãos, de efetuar represálias
com o espírito de vingança e fazer justiça pelas
suas próprias mãos.
Em hipótese alguma, pode ser tolerado, num Estado onde impere
a lei, que um cidadão continue prêso, se não está
acusado por atos previstos no código penal.
Em benefício da justiça foi criado um tribunal de três
membros, com juizes de carreira, designados pelo supremo tribunal".
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Comentário
do "Times" |
LONDRES, 12 - Em seu artigo de fundo de hoje, o "Times"
diz que a guerra civil grega deve ter proporcionado alguns ensinamentos
aos extremistas da direita e da esquerda, cujas ambições
e desavenças mútuas foram a causa dêsse derramamento
inútil de sangue, que não poderia oferecer nenhuma recompensa
de sucesso e ainda menos solução para casos políticos
gregos.
O moral da política britânica apresenta-se de uma forma
especial, em virtude de ter sido a fôrça militar britânica
compelida a participar dêsses tristes acontecimentos.
Nenhuma oportunidade deve ser perdida para se frisar que a Grã-Bretanha
não apoia nenhum dos grupos em choque e que os interêsses
e os principios de ambas as partes requerem agora uma paz generosa,
sem represálias, que a punição e condenação
dos comunistas ou anarquistas não são propostas pela
Grã-Bretanha e que todo o auxílio britânico continuará
a ser enviado para a constituição de um novo governo
grego inteiramente independente e fiel, que represente as aspirações
do povo e para a reconstrução da vida econômica
da Grécia.
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Comunicação
do General Plastiras |
ATENAS, 12 - O general Plastiras, primeiro-ministro da Grécia,
divulgou o seguinte comunicado:
"A trégua entre o general Scobie e os representantes do
"Elas" não afeta a atitude do govêrno, cuja
política não se desviará da linha traçada
em sua declaração política e de acôrdo
com a qual o principal cuidado do governo é e será o
estabelecimento do império da lei em todo o país".
O porta-voz do govêrno não soube explicar o alcance dêsse
documento, o qual foi emitido após uma reunião ministerial,
em que demoradas discussões se celebraram sob a trégua,
a qual foi censurada pela direita.
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