CONDENADOS À MORTE OS REÚS DE DACHAU
|
Publicado
na Folha da Manhã, quinta-feira, 13 de dezembro de
1945
|
|
Neste texto foi mantida a grafia original
|
Estabelecida
a culpa de todos os acusados Os trabalhos do tribunal de
Nurembergue
|
Londres, 12 O Serviço Americano de Imprensa
na Alemanha informa que todos os 40 réus julgados perante
o Tribunal Militar de Dachau foram condenados à morte.
|
Leitura
do veredicto no tribunal de Dachau
|
DACHAU, 12 O Tribunal Militar Norte-Americano declarou
culpados os quarenta nazistas acusados de prática de tortura
e maus tratos no tristemente famoso campo de concentração
de Dachau. O Tribunal, composto de oito vogais, começou o
julgamento a 15 de novembro e anunciou hoje, as sentenças
correspondentes. O Tribunal deliberou durante uma hora e quinze
minutos e não formulou um só veredicto de absolvição,
neste primeiro julgamento realizado na zona norte-americana de ocupação.
Todos os réus foram condenados à morte.
Recorda-se, a propósito que o Tribunal Militar Britânico,
que recentemente julgou 44 homens e mulheres acusados de crimes
análogos, nos campos de concentração de Belsen
e Auschwitz, declarou culpados somente trinta, e condenou à
morte apenas nove.
Quando o Presidente do Tribunal, General de Brigada John Lentz procedeu
à leitura do veredicto, os réus, em pé, não
denunciaram qualquer emoção. O acusado principal,
Dr. Kraus Karl Schiling cofiava a barba e mantinha o olhar fixo
na mesa do Tribunal. Ele é acusado de haver morto cerca de
mil e trezentas pessoas, em experiências sobre a cura da malária.
Durante o julgamento, Kraus havia pedido que lhe permitissem terminar
"seus estudos" em benefício da investigação
científica. Lentz explicou que todos os veredictos foram
dados por maioria de dois têrços, no mínimo.
Constituiam o Tribunal, além de Lentz, sete coronéis
do Exército norte-americano. Para evitar fugas ou desordens,
foi reforçada a guarda no interior da sala do Tribunal. Depois
de lido o veredicto, o defensor, Major Maurice McKeown, fêz
emotiva alegação na petição de clemência
expondo cada caso isoladamente.
O advogado da defesa, Tenente-Coronel Bates, afirmou que não
se provou a culpabilidade dos réus e solicitou uma sentença
justa e "não simplesmente um sacrifício de vítimas
alemãs". Pediu clemência para Schiling, alegando
que o mesmo realizara experiências para o bem da ciência
e da humanidade e que, nos Estados Unidos, também se utilizaram
sêres humanos para experiências científicas.
O Promotor, Tenente-Coronel William Dawson replicou que nos Estados
Unidos se utilizam voluntários para tais experiências,
enquanto na Alemanha os sêres humanos eram obrigados a servir
de vítimas para as mesma.
|
Revelações
sôbre recrutamento de operários escravos para o Reich
|
Nurembergue, 12 - Ao prosseguir hoje o julgamento dos criminosos
de guerra nazistas, foram apresentadas provas de que Heinrich Himmler
havia ordenado à "Gestapo", que obrigasse os internados
em campos de concentração a "trabalhar até
morrer". Provou-se, também, que até o término
da guerra, a Alemanha havia escravizado mais de seis milhões
e meio de trabalhadores estrangeiros em suas indústrias belicas.
As referidas provas estão arroladas em documentos nazistas
que revelam como milhares de trabalhadores escravos foram conduzidos
à fôrça para o Reich, e obrigados a trabalhar,
em condições desumanas, para a máquina de guerra
alemã.
A citada ordem de Himmler fôra expedida em 18 de setembro
de 1942, e dispunha que todos os judeus, ciganos, russos, ucranianos
e poloneses, cumprindo penas de três anos ou mais, nos campos
de concentração, e todos os alemães com sentenças
de oito anos, fôssem praticamente obrigados a trabalhar até
morrer. Himmler planejara a política de "extermínio
pelo trabalho". Os internados eram obrigados a trabalhar nas
fábricas de armamentos quase sem descanso, e escassamente
alimentados.
Simultâneamente, os internados iam aumentando. As estatísticas
evidenciam que, ao irromper a guerra, em seis campos de concentração
havia 20.400 internados, número êsse que aumentou para
44.700, em 1942.
Os prisioneiros encaminhados às fábricas de acôrdo
com ordens especiais que dispunham "a exploração
implacável" das vítimas e especificavam que se
devia dar aos trabalhadores "tarefas esgotantes, sem limite
de horas de trabalho".
Goering, segundo as mesmas provas, havia opinado que os trabalhadores
produzissem seus próprios alimentos e que os russos fôssem
utilizados na perigosa tarefa de limpar os campos minados.
As instruções que regulamentavam o emprêgo de
trabalhadores poloneses eram bastante rigorosas. Não podiam
formular reclamações nem abandonar seus postos de
trabalho. Era-lhes vedado o direito de reunião. Não
podiam utilizar-se de quaisquer veículos para locomoção,
nem frequentar igrejas, teatros ou restaurantes.
Às mulheres não se concediam mais do que três
horas livres por semana. Os guardas da "Gestapo" tinham
ordens para recorrer a "qualquer meio" a fim de obrigar
os operários a trabalhar, porém, deviam obter aprovação
de seus chefes para lhes aplicar "tratamento especial",
o que significava enforcá-los.
Segundo estatísticas oficiais norte-americanas, os alemães
haviam recrutado 6.691.000 operários estrangeiros, incluindo
prisioneiros de guerra e presos políticos. Tais estatísticas
foram compiladas de acôrdo com dados nazistas e aliados, inclusive
informações de pessoas autorizadas.
Os nazistas recorreram a tôda espécie de recursos para
recrutar mão-de-obra estrangeira, tais como o incêndio
das aldeias ucraínas e a deportação em massa
de suas populações para o Reich. Como tais medidas
resultassem na resistência das populações, as
autoridades policiais germânicas ordenaram que, "como
regra, não se executassem senão as crianças".
Alfred Rosenberg escreveu, em outubro de 1942: "Estamos presenciando
agora o grotesto espetáculo de recrutamento de milhões
de trabalhadores em territórios orientais ocupados, depois
que os prisioneiros de guerra morreram de fome como moscas, para
preencher os claros na Alemanha."
Era tal o estado dos operários escravos, quando chegavam
à Alemanha, apinhados nos trens como animais, que, em sua
maioria, não podiam trabalhar. Além disso, Fritz Saukel
admitiu, em março de 1944, que de cinco milhões de
trabalhadores estrangeiros chegados à Alemanha, "nem
duzentos mil tinham vindo por sua própria vontade".
Defendendo-se e afirmando que agira com "brandura" no
recrutamento dos trabalhadores, na Alemanha ocidental. Saukel esclareceu
que havia um grupo de agentes franceses, de ambos os sexos, que,
mediante boa paga, embriagavam os trabalhadores ou os enganavam
com promessas a fim de encaminhá-los para a Alemanha.
Um relatório das fábricas Krupp, de março de
1942, informava que os operários russos estavam tão
desnutridos que não podiam executar suas tarefas. Além
disso, uma declaração jurada do Dr. Wilhelm Jaeger,
diz que os acampamentos dos operários estrangeiros, nas fábricas
Krupp, eram lugares horríveis. A tuberculose havia quadruplicado
entre êles. Em fins de 1943 Jaeger voltou a visitar êsses
acampamentos e comprovou que suas condições eram as
piores.
|
©
Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos
reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em
qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização
escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.
|
|