PROTESTANTE CHAMA PAPA DE ANTICRISTO


Publicado na Folha de S.Paulo, quarta-feira, 12 de outubro de 1988

Durante um discurso ao Parlamento Europeu, ontem, em Estrasburgo, França, o papa João Paulo 2° foi interrompido por Ian Paisley, deputado pela Irlanda do Norte e reverendo protestante (presbiteriano), que gritava: "Anticristo, anticristo, o papa é o anticristo." A ordem só foi restabelecida quando funcionários retiraram o deputado do recinto. Para Ian Paisley, o papa - que ficou calado durante o protesto - não tinha o direito de transformar a Virgem Maria na "padroeira do Mercado Comum Europeu".

Reverendo protestante interrompe o papa aos gritos de "anticristo"

O papa João Paulo 2° teve seu discurso ontem ao Parlamento Europeu, em Estrasburgo. Leste da França, interrompido pelo deputado Ian Paisley, da Irlanda do Norte. Cumprindo promessa feita no dia anterior, Paisley, reverendo protestante, começou a gritar: "Anticristo, anticristo, o papa é o anticristo".

O papa começava seu discurso dizendo "antes de mais nada , permitam-me dizer o quanto...". Foi aí que Paisley levantou-se de sua cadeira, agitou um cartaz vermelho - em que se lia: "o papa João Paulo 2° é o anticristo" - e começou a gritar.

O presidente do Parlamento, o lorde britânico Henry Plumb, pediu a Paisley que se comportasse: "Sr. Paisley, peço-lhe que respeite a dignidade desta casa". O apelo de Plumb foi inútil.

Paisley, que além de deputado é pastor protestante (presbiteriano), continuou a gritar. Alguns deputados avançaram contra ele, tomando-lhe o cartaz e o atirando sobre ele.

Plumb tentou uma vez mais restaurar a ordem: "Sr. Paisley, peço-lhe que pare com estes distúrbios". O pedido foi inútil. Sem outra alternativa, Plumb ordenou que Paisley se retirasse; "Eu agora o excluo desta casa". Paisley não cedeu. Só saiu quando alguns funcionários do Parlamento o escoltaram par fora do recinto. O papa assistiu tudo calado, com um discreto sorriso, disseram algumas testemunhas.

Restabelecida a ordem, o papa discursou. Falou da liberdade religiosa - foi particularmente aplaudido neste momento -, da unidade da Europa que, segundo o pontífice, poderá tornar-se "um bastião da civilização" e do problema dos católicos do Leste europeu.

Paisley já havia anunciado, anteontem, que protestaria contra a presença do papa no Parlamento. Ontem, Paisley tentou explicar sua atitude à imprensa. Disse que contestava o direito do papa de converter a Virgem Maria "na padroeira do Mercado Comum Europeu".

Na Irlanda do Norte protestantes e católicos travam uma briga secular. Tudo começou no século 17, quando Cromwell, então governante da Inglaterra, doou 9/10 das terras mais produtivas da Irlanda (originalmente católica) a emigrantes ingleses protestantes. Desde então, a Irlanda se dividiu, surgiram grupos terroristas entre protestantes e católicos e os conflitos continuam.


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