ARMISTICIO À VISTA NA CORÉIA

Publicado na Folha da Manhã, domingo, 12 de julho de 1953

Neste texto foi mantida a grafia original

WASHINGTON, 11 - O governo dos Estados Unidos confirma a noticia de que, no decorrer da proxima semana, será assinado o armisticio, agora que a Republica da Coréia decidiu abandonar a sua oposição.
Soube-se que o general Mark Clark, chefe supremo das forças da ONU na Coréia, recebeu autorização do presidente Eisenhower para firmar o armisticio quando julgar chegado o momento oportuno. Eisenhower chegou a essa decisão quarta-feira ultima, depois de conferenciar com os assessores militares e diplomaticos da Casa Branca.

Abre-se o caminho para o armisticio

TOQUIO, 12 (domingo) - O Secretario do Estado Auxiliar dos Estados Unidos, sr. Walter Robertson, anunciou que o presidente da Coréia do Sul, sr. Syngman Rhee, abandonou sua posição e prometeu colaborar no armisticio, a fim de pôr termo à guerra de três anos da Coréia.
A nova atitude de Rhee abre caminho para uma rapida cessação das hostilidades. Os negociantes aliados e comunistas voltarão a reunir-se hoje, às onze horas em Pan Mun Jon, a fim de dar os ultimos retoques ao convenio sobre a tregua.
Robertson revelou a sensacional noticia no momento em que se dispunha a abandonar a Coréia para regressar a Washington, depois de mais de duas semanas de dificeis negociações com Rhee, para lograr com que este aceitasse as condições de trégua.
Num comunicado conjunto, Rhee e Robertson dizem que os Estados Unidos e a Coréia progrediram bastante num acordo sobre as questões do armisticio, prisioneiros de guerra e conferencia política.
Robertson disse: "Não poderiamos fazer esta declaração se não tivessemos certeza de que Rhee irá colaborar no armisticio".
Uma alta fonte sul-coreana disse que Rhee havia abandonado sua exigencia de que se impusesse um limite de noventa dias à duração da Conferência Política de após-guerra. Era essa exigencia um dos principais obstaculos que impediam a celebração do armisticio.
A promessa da Syngman Rhee, de acatar as disposições do acordo, faz prever que dentro em breve será firmado o armisticio em Pan Mun Jon, desde que os comunistas aceitem de boa fé tal promessa.

Comunicado conjunto

SEUL, 11 - O presidente da Coréia do Sul, Syngman Rhee, e o assistente do secretario de Estado dos Estados Unidos, sr. Walter Robertson, declaram o seguinte, num comunicado comum:
"Os nossos dois governos estão de acordo sobre a conclusão de um pacto de Defesa Mutua, para o qual negociações estão em curso.
"Durante as duas ultimas semanas, mantivemos numerosas trocas de pontos de vista, francos e cordiais, que frisaram a profunda amizade existente entre a Republica coreana e os Estados Unidos e contribuiram para nos permitir chegar a uma compreensão mutua das questões penosas que surgiram, em relação com os acordos de armisticio sobre o problema da troca de prisioneiros e da proxima conferencia politica.
"Essas discussões cimentaram nossa determinação de prosseguir e desenvolvem no periodo que sucederá ao armisticio, a nossa estreita colaboração na concretização dos objetivos comuns, colaboração que marca nossas relações desde o início da agressão comunista, há três anos".
"No que diz respeito aos prisioneiros de guerra, reafirmamos nossa resolução de não admitir que qualquer prisioneiro de guerra seja submetido a medidas de coerção e que, dentro de periodo especificado, todos os prisioneiros que não queiram voltar para a jurisdição comunista serão libertados na Coréia do Sul ou, se se tratar de chineses não comunistas, serão autorizados a ir para onde queiram.
"Nós discutimos tambem nossa colaboração nos dominio politicos, economico e de Defesa e nossas conversações revelaram que estamos de acordo, em grande parte, sobre esses problemas, queremos salientar, particularmente, a nossa resolução de trabalhar juntos para a realização no mais breve lapso de tempo possivel do nosso objetivo comum, ou seja, uma Coréia livre, independente e unificada. Acreditamos que no espirito de conciliação, no qual se desenrolaram as nossas conversações, um acordo sobre as mais amplas questões será consequente a uma consideração mutua e um espirito de concessões reciprocas, que conduzirão certamente ao nosso ultimo objetivo: assegurar uma paz duravel no Extremo Oriente."

Eliminam-se os obstáculos ao acordo

SEUL, 11 - O tendência de que a Coréia do Sul faria malograr o armisticio desvaneceu, e os negociadores aliados e comunistas efetuaram duas reuniões em Pan Mun Hon, com o proposito de celebrar o mais rapidamente possivel o acordo que porá fim à guerra coreana.
Uma alta fonte manifestou que o enviado pessoal do presidente Eisenhower, sr. Walter Robertson, que concluiu suas conferencias com Syngman Rhee, obteve garantias de que o exercito sul-coreano não violará as condições da tregua logo que seja celebrada.

Rhee anuncia

SEUL, 11 - O presidente Syngman Rhee anunciou haver chegado a um "acordo amistoso" com os Estados Unidos sobre o armisticio na Coréia.

Advertência do presidente da Coréia do Sul

SEUL, 11 - O presidente Syngman Rhee frisou que, no acordo amistoso concluido com os Estados Unidos não se comprometeu, definitivamente a aceitar o armisticio.
Tanto Rhee quanto Walter Robertson, enviado especial de Eisenhower, não quiseram revelar todo o conteudo do acordo. Todavia, divulgaram um comunicado conjunto a esse respeito.
Syngman Rhee havia declarado, anteriormente, aos jornalistas, que entendia que Washington estava a par do seu "acordo amistoso" e que a decisão final deve vir dos Estados Unidos.

Pontos fundamentais do acordo

SEUL, 11 - Os pontos fundamentais do acordo concluido entre o enviado especial do governo norte-americano Robertson e o presidente da Coréia do Sul, Syngman Rhee, seriam os seguintes: Rhee teria renunciado à sua tese de realizar a unificação do pais com o concurso das forças norte-americanas, caso malogre a conferencia politica. Por seu lado. Robertson assegurou ao presidente Rhee que um pacto de segurança seria concluido entre os Estados Unidos e a Coréia do Sul, que as forças das Nações Unidas não seriam retiradas da Coréia antes da retirada das forças comunistas e, finalmente que desde que a conferencia politica não chegasse a algum resultado dentro de um prazo prestabelecido ela seria boicotada.
Entrementes, continuam os combates na frente coreana. Novos ataques foram desfechados sem exito pelas forças chinesas no setor centro-oriental.

Reunião em Pan Mun Jon

PAN MUN JON, 11 - As delegações das Nações Unidas e sinocoreana reuniram-se novamente hoje, às 13 h 30. A reunião terminou às 13 h 53, tendo sido marcada uma nova sessão para amanhã às 11 horas.

Discurso de Syngman Rhee

SEUL, 11 - O presidente Syngman Rhee, em uma alocução que pronunciou no decorrer de uma cerimonia militar, que se desenrolou no inicio desta tarde, no Quartel-General do general Maxwell Taylor, em Seul, declarou, entre outras coisas, o seguinte:
"Não podemos esquecer que as forças armadas das Nações Unidas chegaram justamente a tempo para nos salvar. Vós sofrestes e combatestes conosco e, melhor ainda, treinastes tão rapidamente nossas forças de defesa nacional, tão rapidamente, que de agora em diante poderemos cumprir nossa parte na luta. Espero que nossos jovens participarão da defesa desta carta da Asia contra o inimigo comum comunista".
E o presidente Syngman Rhee concluiu: "Esta parte da Coréia está de agora em diante assegurada para a democracia. Entretanto, enquanto a peninsula não for unificada, esta parte continua em perigo. Se não realizarmos a unificação, tudo quanto realizamos terá sido em vão."
O general Maxwell Taylor, chefe das forças terrestres das Nações Unidas na Coréia, respondeu com uma alocução de agradecimento.

Robertson esperado hoje em Toquio

TOQUIO, 11 - Walter Robertson chegará amanhã de manhã, a Toquio, em caminho para os Estados Unidos, depois de manter conversações durante 13 dias em Seul, com o presidente sul-coreano, Syngman Rhee. O general Mark Clark, comandante supremo das forças das Nações Unidas, conferenciará com Robertson logo que este chegar à capital niponica. O enviado especial de Dulles partirá para Washington quarta-feira proxima.
Considera-se nos meios diplomaticos de Toquio, que o acordo a que chegaram Robertson e o presidente Rhee apresenta o carater de uma ampla "tregua", que se efetivará com a assinatura de convenções tecnicas, concretas, entre os Estados Unidos e a Coréia do Sul.

Regressa Robert Murphy

TOQUIO, 11 - O sr. Robert Murphy, embaixador norte-americano, deixará Toquio hoje, à tarde, por avião, para os Estados Unidos, pois terminou sua missão de conselheiro.
iro diplomatico junto ao general Mark Clark, relativa ao armisticio na Coréia.

Encarniçada luta na frente ocidental

SEUL, 11 - Forças norte-americanas e comunistas travaram hoje dramatica luta na frente ocidental, combatendo em copas e tuneis escuros como "bocas de lobo".
Na batalha, os comunistas deixaram ante as linhas aliadas os cadaveres de quase a metade de uma regimento chinês de 4.000 soldados.
Os norte-americanos tambem lutaram contra os comunistas nos parapeitos protegidos por troncos de arvores e sacos de areia, nos postos avançados que defendem a rota setentrional de Invasão para Seul.

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