UNIÃO VIRÁ ATÉ 2000, DIZ PERON
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Publicado
na Folha de S. Paulo, terça-feira, 11 de junho de
1974
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Dizendo que "o ano 2000 nos encontrará unidos ou submetidos",
o presidente Juan Domingo Peron, da Argentina, abriu ontem a VI Conferencia
de Chanceleres da Bacia do Prata concitando os paises da area a avançarem
rumo a um processo rapido de integração, a exemplo do
que foi feito pela comunidade economica européia.
Frisou Peron que as relações internacionais na Bacia
do Prata "devem coordenar-se em função dos interesses
dos cinco paises tomados em seu conjunto e não como o resultado
dos acordos bilaterais que firmaram entre si".
No discurso de 15 minutos que pronunciou perante os chanceleres da
Argentina, Bolivia, Brasil, Paraguai e Uruguai, o presidente argentino
destacou ainda a necessidade de defesa dos recursos naturais do Prata,
cujo consumo indiscriminado, que culmina com sua extinção,
disse não é feito pelos países
americanos, mas sim por paises que deles se utilizam em proveito proprio.
Na sessão de abertura da Conferencia, iniciada às 10h50,
no Centro Cultural General San Martin, em Buenos Aires, discursou
também o chanceler uruguaio, Juan Carlos Blanco, destacando
que todos estavam de acordo na integração, mas que isto
devia ser feito "respeitando-se a personalidade individual de
cada pais".
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Relações
comerciais |
O chanceler brasileiro Azeredo da Silveira, falando na sessão
vespertina da conferencia, defendeu a necessidade de se intensificarem
as relações economicas na região do Prata, elevando-as
a niveis adequados, compativeis com o desenvolvimento já alcançado
na area.
"Estou propenso a considerar destacou que, através
de medidas praticas e objetivas, esse intercambio poderia ser, pelo
menos, duplicado em prazo surpreendentemente curto".
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Peron
defende integração do Prata |
BUENOS AIRES O presidente Juan Domingo Peron, da Argentina,
abriu, ontem, a VI Conferencia de Chanceleres da Bacia do Prata
concitando os paises dessa area geo-economica a avançar rapidamente
rumo a um processo de integração, a exemplo do que
foi feito pela comunidade economica européia.
"O ano 2.000 nos encontrará unidos ou submetidos"
frisou Person, depois de destacar que as relações
internacionais da Bacia do Prata "devem coordenar-se em função
dos interesses dos cinco países tomados em seu conjunto e
não como o resultado dos acordos bilaterais que firmaram
entre si".
Em discurso de 15 minutos, perante os chanceleres da Argentina,
Alberto J. Vignes; da Bolivia, Alberto Guzman Soriano; do Brasil,
Antonio Francisco Azeredo da Silveira; do Paraguai, Raul Sapena
Pastor; e do Uruguai, Juan Carlos Blanco, Peron destacou ainda que
a região do Prata é "o coração
da America" e que o futuro do Continente se baseia em sua integração.
A integração social, economica e cultural dos países
latino-americanos foi o tema também dos discursos do chanceler
Juan Carlos Blanco, do Uruguai, que abriu a conferencia, na qualidade
de presidente da V Reunião, realizada em Punta del Leste,
no ano passado, e do ministro Azeredo da Silveira, do Brasil, que
falou na sessão vespertina da conferencia.
O representante uruguaio, indicado para agradecer a hospitalidade
argentina, disse que todos estavam de acordo na integração,
mas que isto devia ser feito "respeitando-se a personalidade
individual de cada país".
Azeredo da Silveira, por sua vez, destacou o pensamento do governo
brasileiro segundo o qual "o desenvolvimento de nossos respectivos
países não pode ser conseguido senão em harmonia,
com justos e equilibrados anseios da comunidade fraterna de que
todos somos partes igualmente relevantes".
A VI Conferencia dos Chanceleres da Bacia do Prata foi aberta às
10h50, na sala principal do Centro Cultural General San Martin,
com a presença dos chanceleres dos cinco países e
suas comitivas, de altos funcionarios do governo argentino, além
de representantes de todos os partidos politicos do país,
entre os quais o ex-presidente Arturo Frondizi.
O chanceler Alberto J. Vignes, da Argentina, foi designado, por
acordo unanime, presidente da Conferencia.
Logo após a instalação da reunião, Vignes
fez um intervalo para a recepção ao presidente Juan
Domingo Peron, que chegou em trajes civis e mostrou-se muito cordial,
sendo saudado com uma salva de palmas.
O tema principal do encontro, que se encerra quarta-feira, será
a constituição de um fundo de financiamento do desenvolvimento
da região totalizando 100 milhões de dolares, cabendo
à Argentina e ao Brasil participar com quotas de 20 milhões,
enquanto Bolivia, Paraguai e Uruguai contribuirão com 6,6
milhões cada um.
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A
FALA DE PERON |
O presidente da Argentina iniciou seu discurso falando dos problemas
comuns dos países latino-americanos e das suas possibilidades
futuras, para assinalar:
"Quero refletir, agora, naquilo que considero ser o contexto
em que deveriam desenvolver-se as relações internacionais
da Bacia do Prata. Até nossos dias, a forma mais classica
dessas relações tem sido o bilateralismo, que contrapõe
os interesses de um Estado aos de outro Estado, ou os de um governo
aos de outro governo. Não creio que a soma dessas relações
entre nossos cinco países possa ser o marco adequado com
base no qual devam ser desenvolvidas as relações economicas
sociais e culturais da area. Essas relações, pelo
contrario, devem coordenar-se em função dos interesses
dos cinco países, tomados em seu conjunto e não como
o resultado dos acordos bilaterais que firmaram entre si".
"Ainda hoje existe a preocupação do que podemos
ganhar ou perder em nosso afazer economico diario - acrescentou
Peron. Não obstante, no caso de um programa de desenvolvimento
multinacional não nos devem interessar os resultados imediatos,
mas a possivel rentabilidade dos nossos investimentos a medio ou
a longo prazo, se dessa forma conseguirmos contribuir para que a
região se desenvolva de maneira gradual e harmonica, como
o estabelece o Tratado da Bacia, se conseguirmos elevar a capacidade
aquisitiva dos setores mais carentes da população,
ou evitar o surgimento de tensões sociais, que repercutem
sempre de maneira sensivel na economia, teremos contribuido de maneira
eficaz para consolidar a posição de todos os países
do Prata".
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SENTIDO
DE GRANDEZA |
Continuando, disse o presidente argentino: "É por essa
razão que o desenvolvimento da area do Prata exige que todos
atuem com um sentido de grandeza. Sempre afirmei que os povos devem
desempenhar um papel de relevancia em vista das suas riquezas naturais
e dos seus recursos humanos tem a especial obrigação
de atuar com esse "sentido de grandeza". Quanto a nós,
cabe-nos tambem uma tarefa fundamental, qual seja ajudar a contornar,
a orientar e a harmonizar possiveis dificuldades que se apresentem
nesta grande familia de países irmãos.
Destacando que os recursos não renováveis estão
sendo consumidos aceleradamente, frisou Peron que "esse consumo
indiscriminado, que culmina com a extinção dos nossos
recursos naturais não é feito pelos países
americanos, mas sim por países que deles se utilizam em proveito
próprio. Daí disse a necessidade de
nos unirmos para defendê-los e para que o seu aproveitamento
redunde em benefício dos seus legitimos proprietarios e da
região que os circunda".
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RELAÇÕES
COMERCIAIS |
O chanceler
Azeredo da Silveira, do Brasil, falando na sessão vespertina
da conferência, defendeu a necessidade de o Comitê Intergovernamental
Coordenador assumir, em toda a sua extensão, as amplas responsabilidades
que lhe cabem no desenvolvimento e integração fisica
da região, metas prioritarias do Tratado, que guardam estreitas
relações com o proposito de estabelecer correntes comerciais
intensas, crescentes e proveitosas entre os países do Prata.
"Os estudos já procedidos disse seja pelo
organismo regional, seja pela ALALC, indicam, sem lugar a duvidas,
quais os obices, tarifarios ou não, que estorvam as correntes
normais de comercio na região, bem longe ainda de atingir os
niveis que se poderiam razoavelmente esperar".
"Estou, assim, persuadido, e submeto a idéia à
consideração dos eminentes chanceleres aqui presentes,
que seria da mais alta conveniência que o CIC Comitê
Intergovernamental Coordenador eventualmente assistido por
especialistas de nossos governos em assuntos da ALALC procedesse
a um exame da possibilidade de, através de iniciativas solidarias
voltadas para o desenvolvimento e de desgravações aduaneiras
amplas, se se fizerem necessarias, ou da eliminação
de obstaculos não tarifarios, intensificar ao maximo as relações
economicas na extensa região do Prata, elevando-a a niveis
adequados, compativeis com o desenvolvimento já alcançado
na area. Os resultados desse estudo, uma vez analisados por nossos
governos, seriam apreciados em conjunto, pelo CIC e a ALALC."
O chanceler Azeredo da Silveira concluiu seu discurso dizendo que
"o Brasil jamais faltou com seu apoio firme e decidido à
politica de solidariedade continental e, de modo especial, à
entidade regional da Bacia do Prata".
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