HABITANTES DE ALDEIA NA ITÁLIA VENDEM-NA INTEIRA, PORQUE QUEREM IR EMBORA


Publicado na Folha de S.Paulo, sexta-feira, 10 de novembro de 1961

Neste texto foi mantida a grafia original


Roma, novembro - Os jornais de Sassari e um diario de Milão publicaram o seguinte anuncio: "Habitantes do historico centro Monteleone Rocca Doria, dispostos a se transferirem para outro lugar, cedem, em condições razoaveis, a aldeia inteira, distante 45 km de Sassari e 35 km de Alghero, situada no cume do famoso castelo-forte a 370 metros do nivel do mar, dotado de antiquissimas igrejas, prefeitura, asilo, escola de construção moderna. Panorama fantastico, clima excelente, suscetivel de melhoramento ulterior com a formação iminente de lago artificial nas proximidades. Para informações dirigir-se aos habitantes, de preferencia nos feriados."
Os habitantes de Monteleone Rocca Doria estão todos de acordo na resolução de abandonar suas casas e se transferir para outro local, com a esperança de encontrar melhores condições de vida. Sua resolução foi confirmada em assembléia, na qual tomaram parte chefes de familias, autoridades religiosas, civis e politicas.

Precedente

Na historia antiquissima da aldeia já se registrou um precedente: foi em 1436, quando a soldadesca do governador Giacomo di Bessora conquistou o castelo fortificado. Depois de 3 anos de sitio, os habitantes de Monteleone, por falta de viveres, abandonaram o local. Naquele ano, a população fugitiva iniciou a fundação de nova aldeia, que atualmente é a das mais prosperas comunas da provincia de Sassari.
Agora os habitantes de Monteleone Rocca Doria declaram que são obrigados a deixar sua aldeia por falta de viveres, tal como em 1436.

Como é a comuna

A comuna de Monteleone Rocca Doria conta 70 nucleos familiares e tem 1.300 hectares de superficie, em sua maioria encostas rochosas. Dos 300 habitantes, somente uma parte minima consegue encontrar trabalho no local. Os outros, para trabalhar, têm que dirigir-se às comunas vizinhas, com grande perda de tempo, despesas e, portanto, redução de ganho. Alem disso, a pouca terra utilizavel é destinada a formar o fundo de um lago artificial, cujas aguas deverão irrigar "outras" zonas.
A situação é, portanto, insustentável, mas nenhum habitante da aldeia protesta contra esse estado de coisas. A unica reclamação, a unica aspiração é a de ir-se embora o mais depressa possivel. Os habitantes pedem apenas auxilio para deixar a aldeia, pois a economia local só poderá piorar. Não há uma farmacia, um moinho, não há serviços de higiene, falta trabalho. Mas ninguem pede o estabelecimento desses serviços. Todos querem ir embora.


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