CONCLUSÕES DA UNESCO SOBRE OS "PLAY BOYS"
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Publicado
na Folha de S.Paulo, terça-feira, 10 de julho de 1962
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Neste texto foi mantida a grafia original
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PARIS, julho - O problema da juventude transviada não é
muito novo, pois já se encontraram, em sanscrito, textos deplorando
que as crianças da nova geração não obedeciam
aos pais. Desde essa epoca, jovens transviados fizeram algum progresso,
e é sua proliferação no mundo inteiro que acaba
de motivar a reunião, na UNESCO, de peritos vindos de 12 paises.
O primeiro cuidado dessa reunião efetuada em Paris foi defenir
o adolescente normal, de maneira a poder compreender aquele que não
o é. Ora, que é um adolescente normal? Que é,
mesmo um adolescente? Na Inglaterra , um menino permanece menino até
à idade de 16 anos; depois, passa logo para a categoria dos
adultos.
A adolescencia é uma idade da vida mal reconhecida, aceita
com indiferença ou até a contragosto pela sociedade;
e essa lacuna é tanto mais grave quanto a adolescencia, hoje,
dura muito mais do que há 50 anos. Em 1962, uma menina francesa
deixa de ser criança desde a idade de 12 anos, enquanto sua
avó atingia o mesmo resultado somente aos 14 anos. Como a entrada
para o mundo dos adultos também é tardia, o periodo
de formação estende-se pelo menos por 8 anos. Em nossos
dias, a adolescencia não acaba mais.
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A
URSS orgulhosa |
Nessa multidão de rapazes e de moças, muitos estão
zangados. Por quê? Porque a sociedade não compreende
suas necessidades; porque o mundo está cheio de desequilibrio;
porque os pais, tanto quanto as escolas, não estão preparados
para ajudá-los.
Apenas um delegado emitiu um juízo rigoroso contra os "blusas
pretas": o representante sovietico, que aliás se felicitou
por não possuir o seu país adolescentes perdidos. A
isso o delegado egípcio respondeu que isso não era forçosamente
um sinal de saúde. A presença de uma adolescencia infeliz
é o tributo pago à evolução da sociedade;
é o sinal de uma evolução do progresso. Afinal,
as sociedades imoveis, as da idade de pedra, ignoravam o problema
das crianças revoltadas.
A verdade é que é preciso remediar essas perturbações.
Até agora, nenhum estudo sistematico foi realizado a esse respeito,
pelo menos em escala internacional. O congresso da UNESCO fixou um
primeiro objetivo: levantar o inventario da adolescencia mundial.
Alguns paises, mesmo muito avançados como a Inglaterra, não
dispõem nem mesmo de estatísticas convenientes.
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Programa |
Ao mesmo tempo, os peritos elaboram um vasto programa para que sejam
concedidos aos adolescentes os cuidados que eles reclamam. Não
se trata de denunciar mais uma vez os venenos da epoca moderna, os
maleficios do cinema ou de certa literatura, pois o cinema continuará
a produzir filmes e os escritores a publicar seus livros. Aliás,
a maioria dos delegados não acha que o cinema exerça
a influencia perniciosa que lhe atribuem frequentemente.
Como quer que seja, aceitam as coisas como são. Os adolescentes
não submetidos pela vida moderna a desafios numerosos e violentos.
Não se trata de suprimi-los, pois são inevitaveis e
não são necessariamente malsãos. É necessario
que nos limitemos a armar as crianças para que elas possam
suportá-los, responder-lhes e tirar proveito deles. É
nesse sentido que deve ser entendida a tarefa empreendida pela UNESCO.
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