MOSCOU REAGE AOS ACORDOS DE PARIS
O governo russo toma providencias para a anulação
dos tratados franco-sovietico e anglo-sovietico - Declaração
entregue à França e à Grã-Bretanha.
Acusados as potencias ocidentais de violarem os compromissos assumidos
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Publicado
na Folha da Manhã, domingo, 10 de abril de 1955
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Neste texto foi mantida a grafia original
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MOSCOU, 9 - O governo sovietico propôs ao "Praesidium"
do Soviete Supremo a anulação dos tratados franco-sovietico
e anglo sovietico.
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As
razões invocadas por Moscou |
MOSCOU, 9 - Em sua declaração concernente ao
Tratado Anglo-Sovietico, o governo da U.R.S.S. lembra que, por força
do tratado assinado a 26 de maio de 1942, as duas partes se comprometeram
a tomar medidas comuns para prevenir a possibilidade de uma nova agressão
nazista e a não concluir alianças e coalizões
dirigidas contra uma ou outra das duas partes contratantes.
Apesar desses compromissos, prossegue a declaração,
o governo da Grã-Bretanha assinou e o Parlamento britanico
aprovou os acordos de Paris, que prevêem a remilitarização
da Alemanha Ocidental e sua inclusão em grupos militares.
No que diz respeito à anulação do Tratado Anglo-Sovietico,
o governo da U.R.S.S. precisa que sua decisão de pedir ao "Praesidium"
do Soviete Supremo que proceda à anulação desse
tratado está em conformidade com as declarações
do governo sovietico de 20 de dezembro de 1954 e de 28 de fevereiro
de 1955.
Essas declarações continham uma advertencia à
Inglaterra, no sentido de que seria pedida a anulação
do tratado após o ato de ratificação dos acordos
de Paris. Advertencia analoga fora por duas vezes dirigida à
França.
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Violados
os compromissos |
MOSCOU, 9 - Foi em virtude de uma decisão do Conselho
de Ministros da U.R.S.S. que o Praesidium do Soviete Supremo foi encarregado
de decidir acerca de um pedido de anulação do Tratado
Franco-Sovietico de 10 de dezembro de 1944 e do Tratado Anglo-Sovietico
de 26 de maio de 1942, sem aguardar o ato de ratificação
formal dos Acordos de Paris.
A decisão do governo sovietico precisa que, assinando os Acordos
de Paris e fazendo-os ratificar pelos parlamentos dos dois países,
os governos da Grã-Bretanha e da França violaram diretamente
os compromissos que decorrem dos tratados que assinaram com a União
Sovietica.
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Não
causou surpresa em Viena |
VIENA, 9 - A declaração sovietica, relativa à
Austria, entregue hoje em Moscou aos representantes das três
potencias ocidentais, não causou surpresa alguma em Viena.
Os meios geralmente bem informados abstêm-se de fazer comentario
oficial. Mas indica-se que essa declaração, destina-se
unicamente às potencias ocidentais e constitui, de alguma forma,
uma replica sovietica à declaração comum dos
ocidentais, em data de 5 de abril, sobre o Tratado de Estado austriaco.
Anuncia-se, alem disso, que o chanceler Julius Raab fará segunda-feira
de manhã, no momento de tomar o avião para Moscou, uma
ultima declaração à imprensa.
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Reação
na França |
PARIS, 9 - Após a decisão do governo soviético,
de propor ao Soviete Supremo da U.R.S.S. a anulação
do pacto franco-sovietico, recorda-se, nos meios autorizados franceses,
que essa atitude não é nova, e que o governo francês
já havia sido avisado da decisão sovietica, de anunciar
o pacto, no caso de ratificação dos Acordos de Partis,
por uma nota datada de 16 de dezembro de 1954.
Como o governo francês deu a conhecer, nessa epoca, considera-se
em Paris que a iniciativa sovietica é injustificada, lamentando-se
que ela seja cogitada. Não se vê motivo para suprimir
uma garantia de segurança da Europa, que a França desejaria
manter. Salienta-se novamente que os acordos de Paris, que comportam
um dispositivo de limitação e de controle dos armamentos,
têm um carater estritamente defensivo, e que eles absolutamente
não são incompativeis com o Tratado Franco-Sovietico.
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Declaração
russa |
MOSCOU, 9 - Em uma declaração concernente ao
problema austriaco, entregue hoje à França, à
Grã-Bretanha e aos Estados Unidos, o governo sovietico expressa
a esperança de que, levando em consideração as
aspirações legitimas de parte dos Estados interessados,
seja possível, em futuro proximo, chegar-se a um acordo e concluir
o Tratado de Estado com a Austria.
A declaração sovietica acrescenta que o governo russo
considera que as trocas de pontos de vista em Moscou, com os representantes
do governo da Austria, contribuirão para a solução
do problema austriaco.
Assim fazendo, o governo sovietico leva em conta o fato de que encontros
e trocas de opiniões apropriadas já ocorreram entre
os dirigentes do governo austriaco e as personalidades dirigentes
da França, da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos.
A declaração sovietica sobre o problema austriaco, que
tambem lembra a evolução das conversações
realizadas a esse respeito, foi entregue hoje, pessoalmente, pelo
sr. Molotov, ministro das Relações Exteriores de U.R.S.S.,
que às 11 horas recebeu, sucessivamente, o embaixador dos Estados
Unidos, sr. Charles Bohlen, o embaixador da Grã-Bretanha, Sir
William Hayter, e por fim, ao meio-dia, o encarregado de Negocios
da França, sr. Jean Le Roy. A declaração sovietica,
pela primeira vez, informou oficialmente as potencias ocidentais da
proxima visita do chanceler austriaco, Raab, e de seus colaboradores
a Moscou.
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