DERRUBADO ONAGANIA, JUNTA ASSUME


Publicado na Folha de S. Paulo, terça-feira, 9 de junho de 1970

Neste texto foi mantida a grafia original

Nove dias após o sequestro do general Aramburu, os comandantes em chefe do Exercito, da Marinha e da Aeronautica da Argentina determinaram, ontem, o afastamento do general Juan Carlos Ongania da chefia do governo.

A deposição de Ongania partiu dos altos chefes do Exercito que, por intermedio do general Alejandro Lanusse emitiram um comunicado, ontem de manhã, afirmando que "a revolução argentina é incompativel com um novo cheque em branco" ao governo. A Marinha aderiu prontamente, à decisão do Exercito e mais tarde, a Aeronautica tambem ratificou as palavras do general Lanusse.

No fim da tarde, a Junta Militar - composta por três comandantes em chefe das Forças Armadas - que, segundo comunicado à Suprema Corte "reassumiram o poder politico no país", emitiu um comunicado em que se diz: " a revolução argentina foi clara em sua intenção politica, fixando entre os seus objetivos principais a necessidade de estabelecer uma autentica democracia representativa... (...) e que este compromisso não admite regateios de nenhuma especie...". Assim a Junta fixou as razões da sua decisão: o general Ongania opunha-se ao restabelecimento rapido da democracia parlamentar.

Mas Ongania não aceitou a decisão dos seus companheiros militares e, recusando-se a deixar o poder "porque a era dos golpes e levantes já passou e não voltará", entricheirou-se na Casa Rosada, protegido por alguns tanques e pelo Regimento de Granadeiros, que constitui a guarda presidencial.

Às 23hs. locais, a Junta Militar advertiu a população de que deveria abandonar as imediações da Praça de Mayo, onde se encontra a Casa Rosada, e para onde convergiam fortes destacamentos militares em uniforme de campanha.

A UPI informava nas ultimas horas de ontem que Ongania, convencido por seu orientador espiritual, padre Mariano Castes, a evitar derramamento de sangue, havia concordado em renunciar a seu cargo.

A crise argentina é acompanhada atentamente em Washington, onde o Departamento de Estado declarou continuar reconhecendo a autoridade do general Ongania pelo menos até que "este permaneça no palacio presidencial".


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