EUA PODEM VOLTAR À LUTA NO VIETNÃ
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Publicado
na Folha de S.Paulo, Quinta-feira, 09 de janeiro de 1975
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O comandante da VII Frota norte-americana, almirante Noel Gaylor,
afirmou que os Estados Unidos não devem descartar totalmente
a hipótese de voltar a intervir militarmente no Sudeste asiático.
Unidades da VII Frota, lideradas pelo gigantesco porta-aviões
atômico "Enterprise", haviam deixado sua base nas
Filipinas no começo da semana, e essa movimentação
foi imediatamente ligada aos avanços das forças do Vietnã
do Norte e do Vietcong no Vietnã do Sul, onde ocuparam a capital
provincial Phuoc Binh.
Ontem, o governo da República Democrática do Vietnã
(do Norte) e o Governo Revolucionário Provisório (Vietcong)
denunciaram a presença do "Enterprise" e seus capitaneados
em águas próximas à costa do Vietnã do
Sul. Para os denunciantes, essa aproximação de navios
de guerra norte-americanos constitui flagrante violação
dos acordos de paz de Paris, assinados em janeiro de 1973.
Em Washington, contudo, o porta-voz do Pentágono, William Beecher,
declarou que nenhuma unidade naval dos EUA se encontra em águas
sul-vietnamitas embora admitindo que nos últimos meses alguns
porta-aviões têm navegado em mar internacional perto
da costa do Vietnã.
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Hanói
denuncia presença da VII Frota em águas do Sul |
HANÓI - O governo da República Democrática do
Vietnã (do Norte) denunciou ontem oficialmente que o porta-aviões
norte-americano "Enterprise", comandando uma força-tarefa
da VII Frota, encontra-se em frente à costa do Vietnã
do Sul. A mesma denúncia também foi feita por Phuong
Nam, secretário de Imprensa do Governo Revolucionário
Provisório (Vietcong), para quem o envio de unidades navais
norte-americanas ao Vietnã constitui violação
dos acordos de paz de Paris, subscritos pelos Estados Unidos em janeiro
de 1973.
Em contrapartida, o porta-voz do Pentágono, William Beecher,
declarou que a última vez que uma força de intervenção
naval norte-americana navegou perto do Vietnã do Sul foi "há
um ou dois meses". Disse também que, desde que os Estados
Unidos sairam da guerra da Indochina, seus porta-aviões já
navegaram algumas vezes em frente ao Vietnã do Sul, porém
"em águas internacionais".
Beecher recordou que a lei do Congresso que proibe Estados Unidos
se tornarem parte em operações militares na Indochina,
não se aplica às águas internacionais, "Assim
- disse ele - a Marinha não necessita de autorização
especial do Congresso para deslocar seus barcos por essas águas."
Sobre o "Enterprise", o porta-voz do Pentágono disse
apenas que o porta-aviões nuclear transporta duas esquadrilhas
dos modernos caças F-14, duas esquadrilhas de caças
A-7, uma de caças A-6 e uma de caças EA-68 além
de uma esquadrilha de aviões de reconhecimento RA-5C e uma
de helicópteros SH-3. Nada revelou, porém, sobre sua
posição atual.
Por sua vez, o almirante Noel Gayler, comodamente da frota norte-americana
do Pacifico afirmou que os Estados Unidos não devem descartar
totalmente a possibilidade de voltar a intervir no sudeste asiatico,
em virtude da importância crescente da Asia.
No entanto, acrescentou não acreditar na eventualidade de um
novo envio de tropas norte-americanas ao Vietnã. "O Vietnã
do Sul não será motivo suficiente para provocar uma
intervenção desse tipo", disse o almirante.
Gayler ressaltou, todavia, que "os Estados Unidos devem apoiar
nossos amigos do Vietnã com a ajuda material necessária
para a sua sobrevivência".
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Pedido
de ajuda |
Em Saigon, o governo sul-vietnamita pediu ajuda aos Estados Unidos.
Em nota oficial, divulgada ontem, o governo de Van Thieu diz: "Precisamos
de ajuda militar, especialmente do povo e do governo dos Estados Unidos,
que é signatário do acordo de paz de Paris, de 28 de
janeiro de 1973".
Ao mesmo tempo em que a nota era divulgada, o Alto Comando de Saigon
anunciava que a Força Aérea sul-vietnamita respondeu
à perda da provincia de Phuoc Long para os comunistas desencadeando
maciços bombardeios contra Loc Minh, capital militar do Governo
Revolucionário Provisório, localizada a 130 quilômetros
ao norte de Saigon.
Esquadrilhas de aviões sul-vietnamitas, carregados com bombas,
partiram da base aérea de Bien Hoa, perto de Saigon, para lançá-las
sobre Loc Minh. Ao regressarem os pilotos informaram ter visto explosões
chamas e densas colunas de fumaça erguendo-se da cidade após
o bombardeio.
O coronel Viet, porta-voz do comando sul-vietnamita, admitiu que a
Força Aérea estava bombardeando Loc Minh desde anteontem
à noite, poucas horas depois que tropas comunistas com apoio
de tanques e da artilharia, dominaram os ultimos bolsões de
resistência dos soldados do governo de Thieu na capital provincial
de Phuoc Binh.
"Os bombardeios aéreos são simplesmente uma ação
defensiva de nossa parte".
"Nossos aviões bombardearam os centros comunistas de abastecimento,
baterias de artilharia antiaérea e areas de concentração
de tropas comunistas" disse Viet.
O coronel acrescentou que as regiões utilizadas pelos guerrilheiros
para desencadear ataques contra o governo figuravam entre os objetivos
dos aviões, mas esquivou-se de dizer quantos eram os aviões
ou quantas incursões foram realizadas.
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Contra-ataque |
O Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas do Vietnã
do Sul anunciou que estava preparando uma operação para
recuperar quatro capitais de distrito na provincia de Phuoc Long,
situada junto à fronteira do Camboja.
Um porta-voz do Estado-Maior disse que "no momento apropriado"
seriam divulgados pormenores da operação. "Precisamos
de tempo e de muito preparo antes de desencadear um contra-ataque",
acrescentou.
Em Saigon, funcionários do governo preparavam ontem uma grande
manifestação popular para amanhã, a ser realizada
diante do edificio do Congresso, a fim de protestar contra a tomada
de Phuoc Long pelos comunistas.
Informou-se que todas as escolas e repartições públicas
serão fechadas e se interromperá o trânsito em
uma centena de quadras ao redor do centro da cidade para permitir
que cerca de 10 mil pessoas participem da manifestação
organizada pelo governo de Thieu.
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Novos
combates |
Tropas comunistas atacaram ontem a cidade de Hoai Duc, capital da
provincia costeira de Binh Tuy, cerca de 130 km ao nordeste de Saigon,
mas foram rechaçadas, anunciou um porta-voz militar sul-vietnamita.
Antes do ataque, a localidade foi bombardeada pela artilharia.
Terça-feira, os combates tiveram lugar a um quilômetro
ao norte de Hoai Duc, enquanto duas aldeias vizinhas eram fustigadas
por disparos dos morteiros.
Por outro lado, violentos combates ocorreram em outra pequena provincia
costeira, Binh Dinh, cerca de 220 km mais ao norte.
Na provincia de Bin Thuy, o sub-setor de Tanh Linh foi perdido no
dia 25 de dezembro pelos governamentais. Desde então, a capital
provincial de Hoai Duc tem sido objeto de repetidos assaltos dos norte-vietnamitas
e do GRP.
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Uma
teoria |
A atual ofensiva comunista no Vietnã do Sul é uma campanha
que durará os seis meses da estação seca, com
o objetivo de forçar o governo de Saigon a pôr em prática
as estipulações do acordo de paz de Paris, favoráveis
aos comunistas, segundo opinião de diplomatas ocidentais em
Saigon.
"O Vietnã do Norte não acha necessária uma
ofensiva geral. Acredita que pode conseguir seus fins com ações
militares limitadas", comentou um dos diplomatas que não
quis se identificar.
As negociações para colocar o acordo em prática
foram suspensas em abril, ao que tudo indica, devido principalmente
a um artigo que determina a criação de um Conselho de
Reconciliação e Concórdia Nacional. Este deveria
ser integrado pelo regime de Saigon. Governo Revolucionário
Provisório e por uma terceira força não bem definida.
Saigon afirma que o terceiro elemento deverá ser escolhido
por ambas as partes e que a função do Conselho é
somente organizar eleições gerais.
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