"CASO SACCO E VANZETTI": NOVA HIPOTESE DIZ QUE SÓ
UM DELES ERA CULPADO
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Publicado
na Folha de S.Paulo, quinta-feira, 8 de fevereiro de 1962
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Nova York, fevereiro (FSP) - Novas hipoteses, sempre surpreendentes,
continuam surgindo sobre Sacco e Vanzetti, após 35 anos da
data da execução dos dois anarquistas. Há já
alguns anos que o caso foi reaberto, seja através de livros,
de artigos e de pesquisas judiciais, seja através do teatro
e da televisão.
Nos ultimos anos pelo menos dois livros, sobre o assunto, tiveram
exito espetacular. Um deles é "Sacco and Vanzetti: The
Murder and Myth", de autoria do advogado de Boston Rovert H.
Montgomery, que tenta provar que os dois italianos foram realmente
culpados que terem roubado a caixa de pagamento da firma "Rice
& Hutchins", matando a tiros de revolver o caixa Frederick
Parmenter e o guarda Alessandro Berardelli. A impressão da
inocencia de ambos - afirma o autor - foi causada pela campanha encetada
por anarquistas, comunistas, progressistas e liberais, nos anos que
decorreram entre a abertura do processo (1921) e a execução
na cadeira eletrica (1927).
O autor livro, do assistente dos advogados de defesa, é "The
Untried Case: The Sacco and Vanzetti Case and the Morelli Gang",
no qual o autor tenha demonstrar que o roubo e o assassinio foram
cometidos não por Nicola Sacco, mas por um "gangster"
de extraordinaria semelhança fisica com o acusado, chamado
Joe Morelli.
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Nova
hipotese |
Um novo estudo foi recentemente publicado no "Commentary",
em que se levanta hipotese mais sensacional. O estudo é de
autoria do advogado James Grossman e do publicista Max Eastman, que
para tanto examinaram aspectos que dizem ineditos no processo, bem
como entrevistaram longamente Upton Sinclair, o escritor que liderou
um campanha inocentista, e Fred Moore, o defensor dos acusados. Grossman
e Eastman realizaram seus estudos e pesquisas separadamente, chegando
a mesma conclusão. E a conclusão é esta: Nicola
Sacco era culpado e Bartolomeu Vanzetti era inocente.
Diz Grossman que o processo contra Sacco e Vanzetti decorreu num clima
de odio e de terror, o que tornou impossivel o frio exame das provas.
Era a epoca do "terror branco", desencadeado pelo ministro
da Justiça Palmer contra anarquistas, socialistas, comunistas
e liberais, quase todos nascidos no estrangeiro. Afirma o autor que
nesse clima de histeria coletiva houve abusos, erros, que tornaram
impossivel o total esclarecimento do caso.
Grossman afirma que o alibi apresentado por Nicola Sacco era fragil,
desmontavel, enquanto que o apresentado por Vanzetti era de ferro.
O erro fundamental - diz ele - foi ter processado os dois juntos,
como responsaveis pelo crime e pelo assalto, pois as provas contra
ambos eram realmente frageis e inconvincentes, ao passo que elas teriam
sido firmes se somente exploradas para provar a culpabilidade de Nicola
Sacco.
Vanzetti havia dito que no dia do delito estivera vendendo peixe em
Plymouth e, como escreve Felix Frankfurter, que defendeu os dois italianos,
nada menos de 13 pessoas confirmaram terem visto Vanzetti, no dia
e na hora do delito, vendendo peixe em Plymouth. E, ainda, nenhuma
das 31 testemunhas oculares citadas no processo reconheceram Vanzetti
como sendo uma das 3 pessoas que estavam no automovel, na ocasião
do assalto.
Fred Moore, o primeiro defensor dos acusados, compreendeu que se Vanzetti
fosse processado só, seria sem duvida absolvido, mas compreendeu
tambem que no caso de processos separados. Nicola Sacco seria condenado.
Falou sobre isso a Vanzetti, que entretanto lhe declarou: "Primeiro
salve Nick. Ele tem mulher e dois filhinhos."
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Diferentes |
Embora Sacco e Vanzetti fossem como uma mesma pessoa, perante os juizes
e a opinião publica mundial, lendo-se suas cartas e declarações
percebe-se que falavam em termos diversos. Vanzetti declarou por diversas
vezes, mesmo pouco antes de ser eletrocutado na cadeira eletrica,
não ter cometido o roubo de 15 de abril de 1920. "Sou
inocente do que me acusam. Perdoo aqueles que me condenam." Nicola
Sacco, que o havia precedido na cadeira eletrica, havia dito: "Viva
a anarquia! Adeus mulher, filhos e amigos. Boa noite, senhores; adeus
mamãe!" Mas, afirma Grossman, como nas ocasiões
precedentes, Sacco havia evitado falar nos acontecimentos de 15 de
abril.
À mesma curiosa conclusão chegou Max Eastman, o conhecido
publicista. E ambos acham que Nicola Sacco cometeu o assalto não
para enriquecer, mas para a causa, para encontrar fundos que entregaria
ao movimento anarquista.
Eastman recolheu testemunhos de numerosas pessoas que à epoca
eram ligadas ao movimento esquerdista, no mesmo sentido, isto é,
no sentido de que Sacco era culpado e Vanzetti inocente. E assim,
a polemica continua, suscitando cada vez maior interesse da opinião
publica norte-americana. |
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